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É impressionante!

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS

O número de ocorrências que chega à Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito de Santa Maria-RS, onde atuo como delegado de Polícia titular, versando sobre “fuga do local de acidente”, impressiona. Ele cresce assustadoramente. Teria o nobre leitor alguma impressão íntima acerca do porquê de tudo isso?

São vítimas feridas, cuja insensibilidade do motorista ileso, que participou do acidente, ao empreender fuga,, exsurge como algo “surreal”. Talvez sequer a psicologia consiga lograr êxito em explicar referido comportamento. Ele é tão injustificável que sonho e realidade conjugam-se em um epílogo que vai além do que se pode conceber como realidade empírica.

Quiçá, imagino, esteja ocorrendo uma certa automação de comportamento e consequente insensibilidade do homem moderno para com o semelhante, tudo impulsionado pelo sistema da vida moderna. Efetivamente, a população aumenta, os veículos multiplicam-se, a Internet substitui o contato corpo a corpo e a TV mostra em nosso lar a realidade promovida pelos delinquentes que matam, estupram e machucam sem cessar. Isso, então, talvez petrifique e arrefeça nossos corações, tornando-nos insensíveis.

Certa ocasião, assisti em um programa de TV a uma determinada pesquisa. A investigação consistiu em um artista jogar-se ao chão em uma das calçadas mais movimentadas de uma das maiores avenidas existentes em uma metrópole brasileira. O artista permaneceu imóvel, como se estivesse desmaiado, durante vários minutos. Dentre incontáveis pessoas que passaram pelo local, houve apenas uma que, timidamente, resolveu parar e, aparentando receio, tencionou verificar o que estaria ocorrendo com aquele homem desfalecido. O restante dos pedestres continuava, frenética e insensivelmente, o seu percurso ritmado por passos acelerados. Seus olhos eram fixos à frente e seu andar rápido desviava-se daquele corpo largado à sorte. O resultado do estudo, como se percebe, foi decepcionante e arrasador para qualquer um que pertença à espécie humana. Afinal, o que está havendo com o nosso gênero humano?

Assim, creio que estamos nos automatizando sem perceber. Pior ainda, estamos repassando esse comportamento aos nossos filhos, perpetuando o problema, já que nossas condutas servem como referência a eles incontáveis anos-luz além daqueles suntuosos e eventuais sermões que lhes exaramos. Parece-me, sei, impossível impedir essa avalanche de insensibilidade crescente que observo em nossa sociedade. Não obstante, se você pausar seu ritmo diário por breves minutos, tão somente a fim de refletir sobre o tema, acredite, muito já se haverá realizado.

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