Paulo Bilynskyj, 30, para quem a barba ‘bota uma moral’
Paulo Bilynskyj, 30, para quem a barba ‘bota uma moral’
Do banco da frente do carro com a sirene ligada, salta o policial responsável por solucionar o quinto homicídio registrado na cidade naquele dia. Era a terceira tentativa de prender o homem acusado de matar a mulher com 17 facadas algumas horas mais cedo.
A cena aconteceu no centro de São Paulo, mas, a depender do estilo do delegado, poderia ter saído de uma série policial norte-americana.
Nem os óculos estilo aviador e a roupa camuflada chamam tanta atenção quanto a barba cheia e comprida, quase no meio do peito. Sentado em frente ao computador no plantão do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Paulo Bilynskyj, 30, começa a digitar o boletim de ocorrência do caso.
Plantonista do DHPP, o delegado é quase novato na profissão, exercida há cerca de cinco anos. Também é nova a forma como trabalha.
Enquanto não está de plantão, Bylinskyj recorre à estética hollywoodiana para gravar vídeos publicados em seu canal no YouTube, que tem mais de 10 mil seguidores. Um dos mais vistos é o que começa com ele saindo de uma cortina de fumaça antes de pular estruturas de concreto e atirar contra alvos de papel para mostrar como é um treino tático antiemboscada, com direito a balas voando em câmera lenta.
Tudo isso, diz ele, é para incentivar seus seguidores, a quem chama de “guerreiros”, a seguir a carreira policial. “Quero que as pessoas tenham o canal como referência do trabalho da Polícia Civil, não existe nada parecido por aqui”, afirma.
O caso de maior destaque que resolveu até hoje foi o da menina Sophia, morta aos 4 anos de idade pelo pai em 2015. Para desconstruir a tese do acusado, de que a criança tinha se asfixiado com um saco plástico, o delegado encomendou um boneco em tamanho real da vítima feito em uma impressora 3D.
“O saco passou até o ombro, então, ela não podia ter sido sufocada. Neste dia, trabalhei 36 horas seguidas. Dormi no IML esperando a necropsia e no fórum, enquanto esperava a prisão do pai sair.”
O orgulho do distintivo também o inspirou a criar uma página no Instagram que divide com a mulher, Daniela Bilynskyj, 36, delegada em São Bernardo (ABC). A página batizada de Delta SP, em alusão à letra “d”, de delegado, no alfabeto fonético, reúne fotos da rotina policial do casal. Há registros deles saindo de casa, no elevador, para mais um plantão na delegacia e exibindo suas armas de mãos dadas.
Entre as sequências mais curtidas, está o ensaio temático policial que fizeram dias depois do casamento.
“A imagem que os brasileiros têm do delegado é a de um senhor velho, barrigudo, com o camisão aberto, correntona de ouro e relojão, fumando. Delegado de polícia nunca foi um herói, uma pessoa admirável. A gente tem uma predileção pelo bandido”, diz.
O estilo pouco usual entre delegados começou a ser construído logo após assumir a primeira delegacia, quando percebeu que deveria fazer algo para impor autoridade apesar da pouca idade. Aos 25 anos, ele assumiu o posto em Juquiá (a 200 km de SP), conhecida pelos altos índices de criminalidade.
Logo que chegou, ele conta que foi apresentado pelo prefeito em palco montado para uma festa na cidade, quando ele foi pego, literalmente, de calça curta.
“Estava de bermuda e camiseta. Ele me puxou para o palco e disse: ‘Esse é o novo delegado da cidade. Olha só, ele é magrinho, mas é delegado'”, lembra. “Acho que a barba bota uma moral.”
‘HIPSTERIZAÇÃO’
Demorou mais de um ano para Bylinskyj passar de um ex-aluno de colégio militar, em Curitiba (PR), com a barba e o cabelo sempre aparados, para o visual hipster.
“Comecei a deixar a barba crescer e passei a me sentir melhor, mais eu. Quanto mais comprida melhor. Pensei em deixar o cabelo crescer, mas aí seria muita coisa.”
De Juquiá, o delegado foi transferido para Guararapes (a 558 km de SP), onde acabou acusado de ter forjado um flagrante de prisão por tráfico de drogas e roubo.
Absolvido pela Justiça, Bylinskyj explica que a acusação ocorreu após a testemunha do crime ter mudado seu depoimento, sob orientação do advogado do criminoso. “Esse processo me tirou o sono por três anos.”
Ele lembra que chegou a trocar tiros com esse criminoso durante uma perseguição, mas nunca foi baleado.
Para continuar ileso, o delegado dedica férias e folgas a treinamentos táticos.
“É para aumentar a minha taxa de sobrevivência em conflitos.” Recentemente, ele participou de treinamento sobre como estourar cativeiros.
No dia 17 deste mês, Bylinskyj embarcou para a Eslovênia, onde fez curso para aprender a manejar um fuzil AK-47. “Lá eles operam esse equipamento desde a Guerra Fria. Recebemos duas AK-47 apreendidas pelo Judiciário que foram direcionadas para a polícia. Quem sabe operar aquilo?”
O armamento pesado faz parte de seu dia a dia. O delegado não tira a arma que carrega na cintura nem quando está em casa, assim como os três carregadores com 52 munições de calibre.45.
Em operação, ele carrega mais uma arma e 104 balas no total. “A arma de fogo é um símbolo de liberdade, de respeito à vida, de autodefesa. Essa valorização desmistifica o valor negativo, a arma na mão do bandido é muito negativa, mas na mão do policial, é muito positiva”, diz ele, que defende o direito ao porte de arma a todos.
A aproximação com a linguagem cinematográfica, usada em seus vídeos, veio após ter sido chamado para fazer instrução de tiros no set de filmagem de uma série policial nacional.
Tomou gosto e até cogita participar de um reality show de sobrevivência. “Se ainda existisse o ‘No Limite’ ia me inscrever e tenho certeza de que ganharia.”
Folha
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