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‘Traficantes contra o crack’, por Roger Spode Brutti

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS
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JURÍDICO
‘Traficantes contra o crack’, por Roger Spode Brutti

JURÍDICO

O crack tornou-se o “calcanhar de Aquiles” dos próprios traficantes. Estes, sedentos pelo lucro cada vez mais rápido, acabaram introduzindo em seus “negócios” uma droga tão devastadora que acabou desestruturando não só as famílias, a vida dos consumidores e a sociedade como um todo, mas, especialmente, o “meio de subsistência” dos próprios traficantes.

Divergente do que ocorre com  outras drogas clássicas, o crack não comporta exceção e vicia imediatamente, dilacerando a vida do consumidor cujo seu único caminho certo, caso não busque tratamento, é a morte. O detalhe é que, nesse iter consumerista, o usuário desestabiliza-se socialmente de forma cabal, perdendo o emprego, o relacionamento salutar com amigos, com familiares dentre outros problemas. Passa ele a ser um verdadeiro indigente, a bem da verdade, a ponto de não mais dispor de numerário para pagar a droga que consome, ou melhor, a droga que o consome.

 

Aí vislumbramos a primeira dor de cabeça dos traficantes, qual seja, a carência de numerário, de dinheiro em espécie, de receita. Com efeito, o usuário, desestruturado socialmente, sem emprego, passa a furtar ou a roubar, para, com a “res furtiva”, pagar a droga. Aí exsurge outra problemática para o traficante, qual seja, eventualmente os usuários são flagrados e presos, tendo-se nas ruas menos consumidores.

 

Por outro lado, os próprios filhos da comunidade em que reside e atua o traficante também se viciaram e furtam, agora, dia e noite, itens das suas famílias e dos vizinhos, para pagar o vício. Dessa arte, aquela certa indiferença que muitas famílias circunvizinhas do traficante tinham para com ele findou. Também não se olvide que a vida do consumidor do crack é muito curta, sendo que o período de consumo, logicamente, também é ínfimo o que gera menos lucro para o traficante.
Por tudo isso, nada mais lógico, aquele que comercializa crack é um verdadeiro inimigo dos demais traficantes que, tendo um mínimo de noção sobre gerenciamento econômico, veem no crack um verdadeiro “tiro no pé”.

 

O extermínio daquele que trafica o crack pelos demais traficantes é algo puramente lógico. É o verdadeiro Armagedom: traficantes matando-se não pela disputa de território, mas pela tentativa desesperada de conter o avanço dos malefícios do crack. De tal forma como um buraco negro que consume o tempo e o espaço à sua volta, o crack consome a todos, incluindo o próprio tráfico, os próprios traficantes. Como dizem os velhos ditados: tudo que se planta, colhe; aqui se faz, aqui se paga!

Sobre o autor

Roger Spode Brutti

Delegado de Polícia Civil no RS. Doutorando em Direito pela Universidad Del Museo Social Argentino (UMSA) de Buenos Aires/Ar. Mestre em Integração Latino-Americana pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Especialista em Direito Constitucional Aplicado pela Universidade Franciscana do Brasil (UNIFRA). Especialista em Segurança Pública e Direitos Humanos pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA). Graduado em Direito pela Universidade de Cruz Alta/RS (UNICRUZ). Professor de Direito Constitucional, Direito Processual Penal e Direito Penal da Academia de Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul (ACADEPOL/RS). Membro do Conselho Editorial da Revista IOB de Direito Penal e Processual Penal. Articulista semanal do Jornal “A Razão” de Santa Maria/RS, periódico fundado em 09 de outubro de 1934

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