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Policiais usam página no Facebook para denunciar caos em delegacias

por Editoria Delegados
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Policiais civis indignados com a péssima estrutura de delegacias em Goiás mantêm no Facebook a página “Diário de Delegacia”. Os posts expõem os vários problemas enfrentados nos distritos policiais, desde o único banheiro quebrado até a presença de um galo em uma das unidades.

 

Criada há quase um ano, a ideia tem mobilizado a sociedade, afirma o criador do grupo na internet, o agente da Polícia Civil Alexandre Martins. “Não tivemos resultado por parte do governo, mas algumas autoridades dos municípios se sensibilizaram e ofereceram ajuda. Conseguimos até construir delegacia com o apoio da comunidade, como em Campinorte”, ressalta .

 

Ele explica que a página também é aberta para a publicação de conquistas dos policiais, desabafos e opiniões da população. “Todos podem ter acesso, opinar, fazer críticas, expor o atendimento do policial, pois também queremos identificar pontos a serem corrigidos dentro de uma delegacia”, afirma Alexandre.

O policial calcula que quase todas as 300 delegacias do estado estão em condições precárias, pois são casas antigas e alugadas. “Em Goiânia, dos 26 distritos policiais, 20 têm de ser demolidos e reconstruídos. As outras seis delegacias estão em condições razoáveis”, afirma Alexandre Martins, que também é diretor-administrativo do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol).

 

Nos posts, policiais denunciam problemas como fiação amarrada, rachadura nas paredes, móveis quebrados, teto furado, banheiros em péssimas condições, pátios lotados de carros e entulho. Entre as publicações no Diário de Delegacia, uma das que mais chamou a atenção do criador da página foi a que se refere ao 7º Distrito Policial de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana.

 

“Lá é um muquifo, não tem nem sala para ouvir suspeitos e vítimas. O pior é que, enquanto a pessoa presta depoimento, o marginal não tem lugar para ficar. Ele tem que ir para o lado de fora, no quintal da delegacia com um policial vigiando. Nisso, o criminoso escuta tudo o que o depoente fala porque não tem acústica necessária pra resguardar o atendimento”.

 

Sala dos agentes também serve de depósito no 7º DP de Aparecida de Goiânia, Goiás

 

Outra delegacia que chamou a atenção é a de Céu Azul, no Entorno do Distrito Federal. O local foi alvejado por disparo de arma de fogo há cerca de um ano. O tempo passou e as marcas dos tiros estão pela unidade, até mesmo na porta.

 

A Polícia Civil admite a estrutura precária das delegacias. “A direção reconhece que há uma deficiência. Há um projeto de reforma de todas as delegacias”, informou o assessor de comunicação da corporação, delegado Norton Luiz Ferreira.

 

 

Delegacia tem marca de tiros em Goiás

 

Em relação às obras, o diretor do Sinpol duvida que os distritos policiais sejam reformados até o fim do atual governo. “As promessas de investimento só têm diminuído. O valor que seria gasto no projeto inicial já reduziu em mais de 80%. Com todo respeito à intenção, acho praticamente impossível essa meta ser cumprida”, declarou.

 

Crescimento

Com mil membros, cada dia aumenta mais o número de pessoas que integram o “Diário de Delegacia”. “Foi uma surpresa pra mim. Só no primeiro dia 300 pessoas aderiram. Depois foi crescendo gradativamente, ganhando espaço na mídia e na sociedade”, conta Alexandre.

 

O policial destaca a importância da internet para esse crescimento. “A influência do poder executivo em Goiás é muito grande. Não são divulgadas informações que vão de encontro com o governo, elas são omitidas. A internet tem um papel fundamental na democracia e tem provocado atitudes mais transparentes por parte da administração pública”.

 

Retaliação

O idealizador da página afirma que muitos escrivães e agentes não denunciam por medo de retaliação por parte da diretoria da Polícia Civil. “Existe receio de denunciar, até mesmo de dar entrevista porque as ameaças de transferência de locação para cidades distantes são diárias. Várias pessoas já passaram por isso. Inclusive, recentemente, um colega de Jataí foi deslocado para Caldas Novas”, relata.

 

Alexandre Martins diz que, como diretor do sindicato, se vê na obrigação de reivindicar melhores condições de trabalho: “não vou ficar inerte a esta situação”.

 

A assessoria da Polícia Civil nega que haja qualquer tipo de retaliação. “De forma nenhuma há punição. Vivemos em uma democracia, eles podem reivindicar”, afirma o delegado Norton Luiz Ferreira.

 

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G1

 

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