Início » Direito e a interdisciplinaridade: construção da cultura da paz pela senda da sabedoria oriental

Direito e a interdisciplinaridade: construção da cultura da paz pela senda da sabedoria oriental

por Editoria Delegados

Por Flávio Cristiano Costa Oliveira

TÍTULO ORIGINAL: Entre o Direito e a interdisciplinaridade: a construção da cultura da paz pela senda da sabedoria oriental.

 

1- Introdução; 2- O poder da mente; 3- Uma consciência superior; 4- Correspondência entre ser, família e sociedade; 5- A vida é eterno movimento; 6- Reconciliando o todo; 7- Entre ciclos e marés; 8- A harmonia dos contrários; 9- O princípio da causalidade; 10- Mediando com consciência superior e 11- Conclusões.

 

Por Flávio Cristiano Costa Oliveira.
Mestre em Direito Constitucional e
Delegado de Polícia Civil pelo Estado do Piauí.

 

  1. Introdução.

 

A função primordial apregoada pela ética jurídica sempre foi a promoção da paz por meio da tutela jurisdicional.

 

Ao longo do tempo, experimentamos uma inegável evolução das escolas e dos conceitos jurídicos, mas a paz ainda parece uma quimera distante.

 

Das ordálias ao Estado laico, do positivismo ao jusnaturalismo, ou, então, da Justiça Privada à Justiça Pública, o homem foi reconhecido como um ser social cuja natureza hobbesiana seria a causa das controvérsias ou lides.

 

Sem que fosse promovida uma adequada inquirição sobre a essência da natureza humana ou da realidade do conflito, os sistemas de Direito simplesmente erigiram ordenamentos jurídicos, órgãos julgadores, suas fontes e espécies normativas.

 

O Direito ergueu suas estruturas piramidais e excluiu de sua estrutura o dado mais importante: “ a consciência verdadeira e profunda sobre o que seja um ser humano”.

 

Acresça-se a essa questão, a existência de outra limitação que também faz parte da ciência jurídica. Qual seja, um inegável caráter dogmático, positivista e pragmático compatível com os processos produtivos de uma sociedade industrializada, que tende a posicionar as discussões nos estreitos limites do legal ou ilegal, da subsunção ou da não incidência.

 

Mas conforme dito, muito já se avançou.

 

Avançamos com o surgimento das normas principiológicas e seus mandados de otimização que permitiram o fenômeno do ativismo judicial e uma ampla reformulação dos métodos hermenêuticos que resgataram a argumentação lógica e prática.

 

Evoluímos também com a introdução das técnicas democráticas e consensuais de solução das lides.

 

Esses avanços foram de insofismável importância, mas é possível darmos um salto e avançarmos muito mais.

 

Um dado em comum indispensável ao crescimento de todos os ramos do conhecimento é a interdisciplinaridade. Filosofia jurídica, psicologia forense e sociologia jurídica, por exemplo, permitiram uma discussão sobre os fundamentos da própria Justiça.

 

Por resultado ampliamos o rol de profissionais e dos caminhos para a concretização de uma Justiça legítima, conciliadora e mediadora.

 

Nossa proposta, não procura permanecer apenas pela seara de advogados, magistrados, árbitros, conciliadores ou mediadores.

 

Nosso interesse está voltado para o ser e para toda a sociedade. Consiste numa tentativa de polinizá-la com uma maneira peculiar de perceber a vida.

 

Nosso principal objetivo é tornar a existência um campo cada vez mais fértil e propício ao crescimento das sementes de paz lançadas pelos semeadores.

 

Unindo-se o Direito à cultura oriental, permitir-se-á que o ser e as verdadeiras causas dos conflitos sejam tratados com mais eficácia e profundidade.

 

A palavra de ordem é levar às comunidades uma consciência social mais elevada.

 

  1. O poder da mente.

 

A importância sobre a função da mente em nossas vidas é a melhor reflexão que o mito platônico da caverna pode nos conduzir.

 

Segundo Platão, o mundo das essências, o mundo real ou verdadeiro seria o mundo das idéias.

 

Aquele mundo sensível no qual estamos tão habituados a viver seria, conforme o grego, um mundo imperfeito, das aparências, ilusório, efêmero e irreal.

 

Nosso cotidiano seria apenas uma sombra da essência projetada na aparência da matéria.

 

Todas as idéias surgiriam a partir da dimensão mental. Nossas roupas, nossa casa, tudo que é tangível, passaria por um processo mental.

 

Com a mente percebemos e interpretamos a realidade.

 

A mente torna possível nossos pensamentos e emoções.

 

O tipo de mente que desenvolvemos depende de nosso aprendizado diante dos acontecimentos. O que pensar, o que sentir e como reagir. Tudo passa pela mente. O universo é mental.

 

Nossos parentes, nossos mestres, nossos vizinhos, os meios de comunicação nos transmitem dados que contribuirão para formar nossa mente.

 

O mestre Osho nos ensina que tudo aquilo que você pode testemunhar não é você de verdade.

 

Nós podemos observar nosso corpo físico. Logo, ele não é o nosso eu verdadeiro.

 

Somos capazes de observar nossos pensamentos e nossas emoções. Mesmo assim, nós não somos apenas pensamentos e emoções.

 

O seu eu verdadeiro é aquilo que a tudo testemunha. O seu eu verdadeiro é uma consciência profunda.

 

Ademais, a sociedade dispõe de vários instrumentos éticos que influenciam nossa mente e nossa conduta: Direito, Moral e religião são exemplos clássicos.

 

Os rudimentos da moral nos são administrados pela família, pela escola e pela comunidade onde nos desenvolvemos.

 

Os valores ideais que deveríamos aprender no âmbito familiar e social seriam: a capacidade de fazer boas escolhas, desenvolvimento do senso de responsabilidade, o desejo de compartilhar, a confiança no próximo, a harmonia, o domínio de si, o amor , o sacrifício, o sentido da vida, sensibilidade e doação.

 

Enfim, valores ideais com os quais toda ética normativa poderia erguer uma sólido monumento em benefício da paz.

 

A cultura do litígio seria, então, alimentada pela lógica reversa. Um ambiente guiado pela potestade, pelo desejo consumista, pela competitividade, pelo egoísmo, pelo materialismo, pela cultura hedonista, superficial, insensível, descartável, individualista e utilitarista.

 

A realidade está contida na essência, no interior do indivíduo. Nele estão contidas as soluções para todas as grandes questões. Esse é o verdadeiro significado do aforismo grego: “ Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”.

 

Estude o ser profundamente, compreenda-o, conscientize-o e você mudará o mundo inteiro. A verdadeira revolução flui do interior para o exterior. Ela pertence ao ser.

 

 

  1. Uma consciência superior.

 

Existe um nível elevado de consciência que está ao alcance de todos e que pode transformar nossas vidas numa jornada suave e engrandecedora.

 

Acessando nossa consciência superior passaremos a compreender os conflitos em que estejamos envolvidos não como desagradáveis obstáculos, mas como preciosidades.

 

Os problemas cotidianos serão vistos como ferramentas necessárias para o nosso aperfeiçoamento.

 

Cada minúscula superação diária nos conduzirá ao crescimento, à superação e à evolução.

 

Nosso íntimo mais profundo contribui para criar e resolver situações.

 

Aquilo que é criado, pode ser transformado ( grifo nosso).

 

As verdadeiras coisas que levaremos conosco em definitivo serão as experiências vividas, nossos sentimentos, nossas motivações e o saber acumulado.

 

Alexandre, o grande conquistador de reinos, em seu leito de morte externou seus três últimos desejos:

 

“ Eu quero que o mundo conheça as três lições que acabo de aprender. Quero que meus médicos carreguem meu caixão para que as pessoas percebam que nenhum médico pode realmente nos salvar das garras da morte certa…

 

Meu segundo desejo, para que o caminho até o cemitério seja coberto de ouro, prata e outras riquezas, é para que as pessoas saibam que nem mesmo uma fração de meu ouro irá me acompanhar…

 

Sobre o meu terceiro desejo, de ter minhas mãos à mostra para fora do caixão, é para que as pessoas saibam que eu vim a este mundo de mãos vazias e de mãos vazias sairei”.

 

A pessoa não nasce cheia de desejos, ambições e conflituosa. Toda criança vem ao mundo pura, simples, verdadeira e plena. Toda criança nasce sábia e inocente.

 

Apenas, ao longo do tempo é que a cultura do conflito pode permear a mente do indivíduo.

 

Temos necessidade de despertar. Devemos nos aceitar profundamente, nos amar completamente.

 

Não cultive em seu coração desejos fúteis.

 

Fique feliz e pleno pela pessoa que você já é. Não condicione sua realização pessoal a um futuro que nem existe ainda e que poderá nem acontecer.

 

Celebre a vida. Agora, neste momento. Você está vivo!

 

Renasça a partir do seu interior. De si para o mundo.

 

Aceite as coisas como elas, momentaneamente, estão sendo. Não saia por ai reverberando condenações ou julgamentos.

 

Cultive a humildade. A busca pela felicidade está nas coisas simples.

 

Não é prudente admirar a personalidade soberba ou contenciosa.

 

Uma pessoa perspicaz, de mente audaciosa e sagaz, pode saber enfrentar e vencer o adversário com habilidade.

 

Uma pessoa verdadeiramente sabia sabe como não gerar conflitos e adversários. Sabe erradicar a semente do conflito, transmutando frustração em harmonia.

 

O mestre Lao Tsé leciona que aquele que vence os homens é forte, mas aquele que vence a si mesmo é realmente poderoso”.

 

Selecionar, sabiamente, nossos pensamentos, palavras e atitudes e fluir, suavemente, por uma jornada de paz, alegria e tranquilidade são melhores do que reconhecimento, prestígio, fama, lucro ou poder.

 

Abandone aquela forma de ser inconsciente que quer provar que está certo, que quer vencer a todo custo, que quer ganho e impor respeito.

 

Medite. Mergulhe fundo em sua essência e você descobrirá que tudo aquilo que nós desejamos em nossas vidas não são os bens materiais.

 

A plenitude reside em nosso coração. Os bens mais necessários à vida são inversamente proporcionais ao seu valor financeiro. Podemos viver toda a vida sem uma Ferrari, mas um minuto sem respirar revela todo o valor do oxigênio para nossa sobrevivência. Quanto você paga pelo ar que respira?

 

O universo já lhe presenteou com o essencial para se viver. A natureza, a vida, o outro e sua consciência. Viva com sabedoria.

 

Não faça de um castelo sua morada, projetado com tesouros, vaidade, soberba e distinção.

 

“Quando não valorizamos os artigos difíceis de obter, estamos impedindo que sejam roubados e desta forma, estaremos eliminando o que possa provocar desejos. Quando o ouro e o jade enchem um salão, seus donos não poderão manter a segurança”.

 

As pessoas mais plenas do mundo são as mais generosas.

 

A importância desproporcional dos bens materiais é fruto de um desejo artificial que foi implantado nas mentes das pessoas ao longo do tempo.

 

Sejamos nós mesmos. Vamos viver nossas próprias vidas e não aquela vida que querem que vivamos. Aflorar mais a consciência, desejar mais a paz do que as coisas.

 

Por que, então, esperar o status e a fortuna para sermos felizes, pacíficos, afetuosos e compassivos?

 

Personalidades simples e humildes deveriam ser publicamente reconhecidas como pessoas excepcionais, únicas e extraordinárias, pois poucas estão trilhando por esse caminho.

 

A maioria se tornou extremamente comum, pois lutam umas contra as outras, competindo por bens ou poder.

 

Tenha imenso orgulho de si mesmo. Você é único.

 

  1. Correspondência entre ser, família e sociedade.

 

Nosso bairro está vivo. Podemos transformá-lo em um local próspero, saudável, iluminado e amável.

 

 

Há uma correspondência que une o microuniverso do nosso ser ao macrouniverso da sociedade, esteja ela na família ou na vizinhança.

 

Se eu me amo, me aceito e me cuido estarei apto para amar, aceitar e cuidar do outro e também ser amado, cuidado e aceito pelo outro.

 

O interno está conectado ao externo. Assim por fora como por dentro. Nosso corpo é o reflexo de nossa alma.

 

“Toda a realidade manifestada ao nosso redor nos devolve nosso próprio reflexo “.

 

Aqueles que nos cercam nos oferecem nada mais ou nada menos do que aquilo que nós emitimos.

 

Se você tem o hábito de reclamar dos problemas, dos obstáculos ou das pessoas, tenha a certeza de que a situação negativa somente se aprofundará cada vez mais e mais.

 

Fuja da negatividade. Não ouça, não veja e tampouco propague negatividades.

 

Tente permanecer uma semana sem criticar os outros, sem se lamentar ou dar crédito às lamúrias.

 

Exercite sua inteligência a salvo dos vícios e da corrupção. Não desperdice sua energia vital se concentrando no aparente aspecto negativo do conflito.

 

Ser inteligente é ter discernimento, entendimento amplo e sensibilidade. Sua percepção deve se voltar para aquilo que constitui a essência do conflito e não para o adversário ilusório.

 

A verdadeira inteligência objetiva agregar as coisas, juntar as partes, fazer conexões, harmonizar a totalidade e concluir que é possível trabalhar com uma perspectiva bem elevada acerca do local onde vivemos.

 

A tolerância, o amor, o perdão, a misericórdia e a alegria curam inúmeras feridas.

 

Viva de forma positiva, otimista, consciente, responsável, honesta, simples, leal e amante.

 

  1. A vida é eterno movimento.

 

Nada está em repouso. Tudo está em constante movimento e transformação.

 

Por mais que se esteja, aparentemente, imóvel, as partículas subatômicas estarão vibrando, o sangue estará circulando pela corrente sanguínea da vida, os pensamentos estarão reverberando silenciosamente na mente e as células estarão nascendo e morrendo.

 

Quantas vezes ganhamos ou perdemos? Quantas vezes já erramos, acertamos ou mudamos de compreensão? Ontem criança, hoje adulto, depois idoso e amanhã de volta ao eterno infinito.

 

A vida é movimento.

 

 

Nosso corpo contem os elementos mais preciosos que se conhece: água, terra, ar e fogo. E aquele que estiver apto a aprender, extrairá sábias lições dos elementais.

A água existe em abundância no planeta. Ela é insípida, inodora, incolor e altamente flexível, pois pode ser encontrada no estado líquido, sólido ou gasoso.

 

Nosso corpo é formado de 70 % de água. Então, juntamente com a água, aprendamos que o essencial não está apenas em você, está no outro, no íntimo, nas profundezas e na superfície também.

 

É possível serpentearmos pela existência, assim como a água se desloca pedagogicamente pelo leito do rio, desviando dos obstáculos, porém sem rejeitá-los, mas, pelo contrário, envolvendo-os com harmonia e aceitação.

 

Quando a frieza e a aspereza da vida vier lhe visitar não seja um espelho. Faça, então, como faria a água, congele sua ação. Medite no silêncio, na falsa, porém sábia, inação.

 

Quando o calor da discussão e da intolerância impedir o silêncio, seja como a água, evapore, sublime, ascenda às alturas e deixe que o próprio sol lance suas luzes sobre o seu entendimento.

 

Tanto na Terra quanto em nossos ossos podemos encontrar sais minerias como o potássio, o fósforo e o cálcio. A Terra também habita em nós.

 

A Terra nos transmite estabilidade, disciplina e permanência nos propósitos fundamentais. Ela acolhe algo pequeno e frágil como uma semente, se alia ao tempo pacientemente e permite o florescer de uma árvore frondosa.

 

Ligada à sabedoria da Terra, a árvore, por mais que algum dia se apresente seca, guardará o verde em seu interior, pois abaixo do céu existem raízes profundas ligando-a aos ciclos do inverno, primavera, outono e verão.

 

Muito parecido com o fogo, temos a capacidade de transformar oxigênio em gás carbônico e de gerar calor.

 

O fogo produz luz e queima, eliminando excessos. Transformando aquilo que não serve mais. E assim nós, deveríamos usar a razão e renovar. Abandonando vetustas lembranças, velhos hábitos prejudiciais. Aparar arestas.

 

Segundo o mestre Jesus: “ Ninguém deita vinho novo em odres velhos. De outra sorte, o vinho novo romperá os odres e entornar-se-á o vinho e os odres se estragarão. Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho. Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha; doutra sorte o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior.”

 

O oxigênio não pode ver visto, mas quanto tempo se pode viver sem ele? Perceber algo sem a utilização dos sentidos e desenvolver a sensibilidade. Podemos não ver, mas existe uma compreensão superior ao nosso alcance.

 

Sejamos flexíveis e tolerantes, pois “ um homem no caminho adapta-se ao caminho. Aquele que se conforma com o caminho é alegremente aceito por ele”.

 

Com determinação podemos transitar livremente do ódio à compaixão, da ofensa ao respeito e da crítica à aceitação do diálogo construtivo.

 

Nenhum conflito é permanente, tudo passa e ele também passará. Do conflito é possível fluir para a outra margem onde exista paz. Se for bem trabalhado pelas pessoas ele simplesmente desaparece.

 

O desentendimento é fruto da falta de uma consciência elevada é o produto de uma desinteligência.

 

Quem insiste em permanecer na vibração do conflito, estará ergastulado numa realidade superficial, ilusória, artificial e involutiva.

 

Ao nos referirmos ao conflito é de bom alvitre percebermos que ele já pertence ao passado.

 

É bem verdade que não podemos retroceder ao ontem e corrigir nossas falhas. E nem devemos assim agir, pois aquilo que entendemos por erro é tão necessário quanto aquilo que tomamos por acerto.

 

O erro é a lição com a qual o sábio mestre nos aponta o caminho do acerto.

 

Alimentados por esse entendimento luminoso podemos construir um renovado futuro de paz.

 

Nas palavras de Eckhardt: “ o momento mais importante de minha vida é o presente. O ser mais importante é aquele que se encontra diante de mim neste momento. E a ação mais importante é sempre o amor”.

 

  1. Reconciliando o todo.

 

Os opostos são opostos apenas de forma ilusória. Na verdade, os opostos são os extremos da mesma coisa.

 

Nossa mente é quem cria a dualidade. Logo, se a dualidade é produto de nossa equivocada percepção, tudo pode ser perfeitamente reconciliado.

 

É justamente essa verdade que possibilita o profano ser transmutado em sagrado, o pecador em fiel e o perseguidor em santo.

 

Ao apreciarmos as características das espécies de matéria com nossos sentidos limitados, podemos, perfeitamente, classificá-las em compactas ou não maciças.

 

Na realidade essa dualidade classificatória não passaria de uma mera convenção superficial, pois segundo a Física Quântica, toda a matéria que existe em nosso universo não passa de energia que se alterna entre o estado de onda e de partícula.

 

A matéria é simplesmente energia de vibração lenta e condensada.

Nosso cérebro transforma tudo em imagens. Aquilo que achamos que vemos, não o vemos de verdade. O que vemos é uma imagem criada dentro do cérebro e não fora dele.

 

A informação nos chega por meio de ondas. Nosso cérebro recebe as informações em forma de ondas, transforma em sinais elétricos e os decodifica construindo uma imagem.

 

Tudo que está fora é construído na mente.

 

Um dado interessante é que os olhos de todos os vertebrados evoluíram a partir do cérebro e o processo que ocorre no córtex visual ainda é um processo amplo e mal compreendido.

 

Devido a maneira como nossos olhos processam a cor, nós, as vezes, vemos algo que, na realidade não existe.

 

Por exemplo, as penas do beija-flor são cinzentas. O colorido que percebemos é totalmente ilusório e consequência do rápido movimento de bater de asas.

 

E sobre a natureza da própria luz: a luz é mais onda ou mais partícula?

 

Quando as partículas subatômicas surgem e desaparecem , constantemente, num tempo tão curto que dificilmente pode ser medido, de onde elas vêm e para onde elas vão?

 

Por que certos elétrons sabem, à distância o que está ocorrendo com outros elétrons usando um sinal que se desloca mais rápido do que a luz?

 

Na verdade nós não vemos os objetos, o que nós vemos são ondas de luz.

 

Uma visão clássica e reducionista acerca da evolução do conceito de Justiça nos lembraria a série Game of Thrones, onde autor é réu se apresentariam como gladiadores insulados prontos para se enfrentarem na batalha judicial.

 

Mas autor e réu não passam de um produto da mente jurídica que idealizou seu universo peculiar com direitos, interpretações, julgadores instrumentos, espaços e instâncias para que pudessem ser exercitados jogos de poder e perda de tempo.

 

Caso olhemos as partes através da luneta mágica da alta consciência, perceberemos que ambos, autor e réu, estão intimamente ligados pela inconsciência, superficialidade e pela limitação que rege a condição e a raça humana.

 

Lutam por seus nomes, por sua honra e para impor suas verdades, mas “ o caminho que pode ser seguido não é o caminho perfeito e o nome que pode ser pronunciado não é o nome verdadeiro”.

 

A consciência elevada é incompatível com as posturas dualistas que a mente humana insiste em adotar, polarizando os seres humanos em protagonistas do bem ou do mal.

 

Hoje, aquele que está meu algoz, poderá se tornar meu grande defensor. Não foi assim com Saulo de Tarso?

 

A incerteza de Heisenberg e a relatividade de Einstein fizeram desaparecer toda a imutabilidade e inamovibilidade que havia no conceito de matéria e de substância.

 

Em 1932 Werner Heisenberg ganhou um prêmio nobel por ter anunciado o princípio supremo da mecânica quântica, ou seja, o princípio da incerteza.

 

Segundo tal princípio é impossível conhecermos ao mesmo tempo a posição e a velocidade de uma partícula subatômica, pois o próprio ato de medir essa partícula faz com que ela mude de posição ou de velocidade.

 

Assim, se o universo é regido por incerteza e probabilidade não adote posturas absolutas e irredutíveis sobre si, sobre o outro e sobre a vida.

 

A relativização da matéria nos ensina que a vida não se resume a coisas, ou pessoas, mas em acontecimentos, compreensão, mistérios e motivações mais elevadas.

 

Então, se aquele que odeia possui substância incerta e relativa. Se aquele a quem odiamos pode nem mesmo existir como fomos ensinados a acreditar. Por que então insistir numa postura destrutiva, conflituosa, dualista, falsa e regida pelo ódio, se posso simplesmente optar pela essência do amar que é algo verdadeiro e duradouro.

 

  1. Entre ciclos e marés.

 

Tudo tem fluxo e refluxo. Tudo tem ciclos. Subidas ou descidas.

 

Elétrons seguem em seus orbitais atômicos. Pessoas nascem, crescem, reproduzem e morrem. A natureza segue os ciclos de inverno, primavera, verão e outono. O ano segue por entre os meses. As horas percorrem gentilmente pelo dia, pela tarde e plena noite. Pela lunação a lua fica cheia, nova, crescente e minguante e o eixo terrestre caminha entre equinócios e solstícios.

 

A lei da compensação cuida para que o ser humano seja confrontado com os obstáculos enquanto ele não for devidamente solucionado.

 

A todo instante estamos semeando pelo jardim da existência. O plantio de boas sementes não é sinônimo de sucesso à curto prazo. É preciso disciplina e permanência.

 

Somos responsáveis pelo que nos sucede pois nós que decidimos aquilo que iremos receber na vida. Necessitamos desenvolver sabedoria e entendimento para abrir espaço para recebermos toda a luz que nos esteja disponível.

 

Se você vive alguma situação de conflito com algum vizinho, não seria uma boa solução, simplesmente, mudar de residência sem ao menos tentar dialogar.

 

A tendência natural seria você reviver o dilema com outro vizinho em outro local. Conforme dito, não se trata de substância, de matéria ou de indivíduos, mas de verbos, de atitudes e de acontecimentos que tendem a se repetir em ciclos.

 

Se você tentar saltar o problema, sem alterar o padrão de vibração que fez você se conectar com a onda do conflito anterior, você tenderá a reproduzir os erros e estará sempre se concectando com outras espécies de ondas conflituosas.

 

Estará, por exemplo, sempre se digladiando com vizinhos, chefes, sogras, filhos e ex-esposas. Mês a mês, ano a ano, vida após vida.

 

Assim, de forma consciente analise seu fluxo de vida, sua estória, de seus ascendentes e rastreie padrões de comportamento que estão te conduzindo a ciclos de conflito e desarmonia.

 

Por exemplo, seu avô tratou seu pai com excessivo rigor. Seu pai não foi o pai sensível e amigo que você sempre sonhou. Então, você identificou que esse padrão não pode ser passado para a vida do seu filho e tampouco dos seus netos e demais descendentes.

 

Ensine ao seu avó, ao seu pai ou ao seu filho o que é o amor, um carinho, um beijo fraterno, um abraço e a amizade. Nunca é tarde, sempre existe tempo para lançar boas vibrações pela vida.

 

Com esse singelo gesto, você estará impedindo que outras pessoas venham a fluir pela vibração da tristeza e da frustração. E isso é uma grande ação.

 

Você terá cumprido a maior função que nos foi confiada, ou seja: fazer o bem. Sem magia, sem super habilidades e sem poderes sobrenaturais. De uma forma completamente humana, pura, desinteressada e simples.

 

Passe a sorrir mais, a dar bom dia, a ser mais respeitoso, sensível e tolerante. Compartilhe mais, seja mais humano e você testemunhará alguns milagres acontecendo nos seus relacionamentos.

 

Procure ver as pessoas numa perspectiva diferente.

 

Seu vizinho pode não ser um grande modelo de simpatia, mas reconheça que ele acorda cedo para levar os filhos à escola e que só chega do trabalho tarde da noite. Então, diga: – “ Poxa! Meu vizinho é uma pessoa muito responsável”.

 

Quebre os ciclos que causam guerra, tristeza e desarmonia. Isso, associado à nossa contrainteligência são os adversários com os quais podemos lutar.

 

Reprograme as ações que insistem em te conduzir aos mesmos resultados indesejados.

 

Você não conseguirá alterar sua imagem apenas mudando de espelho. A transformação eficiente é interior. De que forma você pretende contemplar belas paisagens se você não mudar a senda por onde costuma peregrinar.

 

Não culpe seus parentes, seus vizinhos ou seu trabalho. O grande responsável pela mudanças é você mesmo.

 

Toda a vida em nós e ao nosso redor encontra-se sujeita a um ritmo regular. Existe uma lei para cada acontecimento.

 

Criamos tudo de forma incessante e somos o que pensamos. Nada daquilo que nos ocorre é gratuito. Nossos pensamentos e emoções compõem a base de tudo. Somos nossos pensamentos e colhemos o produto de nossas palavras.

 

Conforme o Talmude: “ Presta atenção em teus pensamentos, pois eles se tornarão palavras. Presta atenção em tuas palavras, pois elas se tornarão em atos. Presta atenção em teus atos, pois eles se tornarão em hábitos. Presta atenção em teus hábitos, pois eles se tornarão teu caráter. Presta atenção em teu caráter, pois ele é teu destino.”

 

  1. A harmonia dos contrários.

 

Tudo que existe tem um aparente princípio oposto. O sol e a lua. O dia e a noite. A vida e a morte. A saúde e a doença.

 

Diante de um obstáculo que surge entre você e seu propósito de viver em paz, como você procederia?

 

Se um vizinho lhe dirige palavras duras, ásperas e desagradáveis como você reagiria?

 

A lei do gênero nos ensina que podemos optar entre a paz ou o conflito.

 

Somos livres para escolher, mas somos escravos das consequências.

 

Uma postura reativa já seria nosso condicionamento natural. Desde a tenra idade aprendemos a ser retributivos, ou seja, o bem pelo bem e o mal pelo mal. Não seria justo levarmos desaforo para casa. Esse seria nosso instinto inferior. A voz da nossa desinteligência.

 

Mas diante de uma ofensa é prudente que façamos uma pausa. Na pausa está o equilíbrio, o neutro, a luz e a reflexão.

 

Lançando luzes sobre a situação teremos tempo para construir uma posição proativa.

 

Por tal razão a sabedoria segue um fluxo belo, sensível e feminino. A sabedoria é proativa. Ela recebe a informação e somente dá uma resposta nove meses depois. E a resposta é ação transformada em vida, pureza, alegria e plenitude.

 

Nunca reaja instintivamente a uma ofensa verbal. Isso seria uma postura beligerante e inferior.

 

A consciência elevada nos fornecerá equilíbrio para selecionarmos a melhor resposta. Reconhecendo que existe uma natural instintividade em nós, será mais fácil migrar para uma reação proativa.

 

Se alguém quiser discutir relatividades tais como política, religião ou futebol ou simplesmente deseja demonstrar alguma pretensa superioridade, saiba que existem três remédios maravilhosos para preservar relações: sensibilidade, silêncio e conveniência.

 

Com o auxílio da sensibilidade você facilmente detecta que se está diante de uma pessoa que ainda está engatinhando pela senda da evolução.

 

Através do silêncio você terá tempo para meditar profundamente sobre essa postura superficial que até mesmo você, costumava adotar.

 

Finalmente, pela conveniência você, embora, não concorde com nenhum dos pontos de vista expostos, gentilmente sorri e responde: -“ sabe que é mesmo, parece que você tem razão”.

 

O Tao Té Ching ensina que: “ O sábio salva a si e ao outro sem deixar nenhum rastro de sua passagem. Devemos sempre considerar nosso brilho a fim de que nos harmonizemos com a escuridão dos outros.

 

O sábio é aquele que sabe vencer sem derrubar ou atingir o outro, pois nosso maior adversário é nosso ego.

 

Aquele que gentilmente se posiciona no degrau da humildade acaba chegando na frente de todos”.

 

A luta é um processo de afirmação do egoísmo, do ego e de aniquilação do outro. Na guerra não existe vencedor. O vencedor na guerra é a desumanidade suprema.

 

Não lute, seja amigável. Não combata o adversário, lutem juntos pelo bem.

 

É inútil travar longas discussões quando a essência do tema é vazia. Como seria possível se discutir a subjetividade que nos conduziu a optar por algo sem nenhuma substância? Uma paixão pelo time de futebol, por exemplo. Seria puro desperdício de tempo, saúde e energia.

 

Guarde sua energia para viver intensamente longe de Delegacias ou de Tribunais.

 

Seja feliz junto daqueles que você ama e fazendo aquilo que lhe causa mais satisfação.

 

  1. O princípio da causalidade.

 

Nada acontece por acaso, para todo efeito existe uma causa.

 

Nas palavras de Helsing: “ Aquilo que pensais e sentis depende portanto somente de vós e se manifestará mais cedo ou mais tarde em nossa vida. Somos a causa”.

 

Segundo Mecler somos nós os únicos responsáveis pela qualidade das pessoas que atraímos para perto de nós. Ninguém encontra uma alma gêmea ou um adversário por acaso.

 

Para encontrarmos um grande amor é preciso estarmos prontos e preparados para amar.

 

Somos parte da causa e não meros efeitos de tudo aquilo que nos acontece.

 

A menos que você verdadeiramente evolua e expanda sua consciência, os problemas somente irão se acomodando para irromper depois.

 

Embora sejamos responsáveis por tudo que nos ocorre a qualidade de nossa consciência exerce papel fundamental na solução das controvérsias.

 

A questão é que ao contrário de sermos ensinados a desenvolver sabedoria, entendimento e consciência, nós fomos educados para fixar em nossa personalidade, a desejar por posses, poder, posição, conhecimento e reconhecimento.

 

Fomos modelados para competir na vida. A sermos autossuficientes e a vencer o outro com estudos e capacidade.

 

Assim, muitos seguem pela vida inconscientes à caça de conquistas e dos seus direitos e quando sua esfera de desejos colide com a do outro, vem o Direito com seus instrumentos tradicionais para providenciar uma forma externa de pacificação. Como se a Justiça brotasse em árvores independentemente de nós.

 

Isso significa que a grande causa dos conflitos não vem das pessoas. A verdadeira causa está no elevado grau de inconsciência em que as pessoas estão mergulhadas.

 

Parafraseando o mestre Osho, podemos afirmar que o problema é a sombra da inconsciência. Se a inconsciência desaparecer, os conflitos também desparecerão. A consciência é a verdadeira solução.

 

A profusão da cultura da lide retira a importância do indivíduo e cria em você uma personalidade artificial e superficial pronta para o combate.

 

Quando você desenvolve um coração cheio de bondade, de bênçãos, você não tem necessidade de lutar para manifestar poder para o outro. Sua luta passa a ser em prol do crescimento e da libertação do outro.

 

A sede de conflito, de afirmação e de poder gera mais e mais desarmonia, infelicidade e desespero.

 

Não existe uma necessidade íntima de ser superior ou de prevalecer sobre alguém. Isso se trata de um desejo criado. A cultura do litígio somente nos fará mais miseráveis, sofredores e raivosos.

 

No horizonte contemplado pelos nossos estreitos e falhos instrumentos de percepção nos levam a crer que a paz e o conflito estejam insulados nos extremos dessa reta. De um lado estaria a paz e do outro o conflito, como se fossem realidades independentes e fora de nós.

 

Em verdade, paz e conflito não estão fora, senão dentro de cada um. São acessórios, não possuem vida própria. Seguem o principal que é, justamente a consciência ou a falta dela.

 

Paz e conflito estão de mãos dadas. A paz contém o conflito e o conflito contém a paz.

 

A natureza do conflito não precisa ser simplesmente rejeitada e a partir disso, ser criada toda uma estrutura exógena de cunho jurídico-normativo que pretensamente traga paz às pessoas, do exterior para o interior.

 

Apesar de toda normatividade, a ação do Direito de orientação clássica se dá, basicamente, sobre o temor reverencial. Abaixo dessa superfície jurídica, sobrevivem sementes de sentimentos inferiores que aguardam convenientemente o momento certo de desabrochar.

 

Essa fórmula definitivamente não funciona. Dispomos de exércitos, corpos especializados de polícia e de órgãos judiciários, mas temos inúmeros conflitos e delitos.

 

E qual seria então a solução?

 

Ensinar ao ser humano a verdade. Que ele é um ser único que já nasce em uma complexa jornada em busca de sua essência e consciência. Um ser cuja simbologia mais adequada seria uma ponte. Ou seja, uma ligação transitória entre dois pontos, vida e morte, situada em extremos ilusórios, pois tudo que existe está interligado em nosso planeta.

 

Uma realidade que não conhece muito bem os mistérios, a não ser os mais próximos que façam parte da estrutura dessa ponte. E que não há tempo a perder com desejos fúteis, pois não vale a pena construir um grande palácio sobre uma ponte se um dia ela mesma irá ruir.

 

Enquanto estiver fluindo por essa ponte, devemos ser felizes, leves e procurar aprendermos o máximo possível pelo caminho por onde se trilha.

 

Isso seria ensinar o ser humano a desenvolver processos que revolucionem sua percepção interior para que ele desenvolva a capacidade de respeitar e de viver em paz.

 

Ninguém pode construir o caminho da paz por você, exceto você em sintonia com o outro.

 

Quanto mais você estiver pleno, consciente, razoável e amável, mais pessoas você fará felizes e mais feliz e harmônico você se sentirá. O amor fará de você uma pessoa bela e criativa.

 

Logo, o conflito necessita ser amplamente compreendido, transformado e, finalmente, tornar-se em paz.

 

Não existe uma distância intransponível entre o conflito e a paz. O conflito está carregando a paz no fundo do seu coração. O conflito é tão somente a paz que ainda não evoluiu.

 

Em verdade, o conflito está tentando encontrar a paz, está a caminho da paz. O conflito é a semente e a paz é a árvore florescida.

 

Não devemos condenar, destruir ou atropelar o conflito com processos superficiais e externos, pois estaríamos negando ao conflito a possibilidade dele evoluir e de ser transformado, definitivamente, em paz.

 

Há uma ligação íntima entre a paz e o conflito, há uma maneira de viver, uma fórmula que leva de um ao outro. Paz e conflito são extremos relativos do mesmo fenômeno.

 

Se você rejeitar ou aniquilar seu opositor com técnicas provenientes de processos que somente atingem a casca, acabará por repelir a paz, porque ela não pode sobreviver sem que haja uma conquista profunda do outro.

 

Conforme dito, o conflito reside da superfície, na inconsciência, no desejo desarrazoado por poder, afirmação, por posses, prazeres, vaidades e futilidades. A paz repousa no fruto, na consciência profunda, no silêncio reflexivo, nas boas escolhas, no compartilhar, no aprimoramento moral, na confiança, no equilíbrio, no domínio do ego, na misericórdia, no entusiasmo e na anulação das falhas.

 

Nisto encontramos uma das principais causas que está relacionada com a origem das desarmonias, ou seja, a separação entre a pessoa e a sua consciência profunda sobre a vida.

 

A compreensão da importância de uma vida simples, alegre, desapegada é o segredo da paz. Quando seu maior desejo é ser feliz e compartilhar você encontrará harmonia verdadeira.

 

Promova, então, uma revolução interior. Monitore seus pensamentos e suas emoções. Desindentifique-se do conflito. Procure não lutar, evite emanar negatividades, gere uma áurea de paz e alegria ao seu redor.

 

  1. Mediando com consciência superior.

 

A mediação é uma síntese sabiamente posicionada entre a tese e a antítese.

 

A síntese acolhe em sua essência tanto a tese quanto a antítese.

 

A síntese, primeiramente desfaz, e, em seguida, refaz algo novo. Esse algo novo é gerado pelo abandono do que se fora, pela entrega na esperança de paz e pela renovação da vida.

 

Mediar é optar pelo equilíbrio, evitando os extremos. O meio é o ponto a partir do qual a transformação ocorre. Entre o passado, o presente e o futuro, opte pelo eterno presente.

 

Na mediação ocorre uma comunhão, uma unidade que põe termo a dualidade. Assim, a menos que você enxergue a origem da lide, não será capaz de compreender a paz. A mediação une opostos, os contrários e os contraditórios.

 

Observando de fora, do alto o conflito pode ser visto com consciência, de maneira ampla e extremamente impessoal.

 

Ninguém está completamente certo ou errado. Qualquer pessoa por mais justa ou correta que seja está sujeita a praticar erros.

 

Qualquer coisa que você faça poderá trazer algum bem ou mal à alguém. Por exemplo, você se acha melhor do que os outros porque você tem um emprego estável, tem família, paga seus tributos e vai ao templo sagrado com regularidade. Um belo dia decide dar uma ajuda financeira a alguém pobre e, então, essa pessoa usa seu dinheiro para adquirir um meio de por termo à própria vida. Por que então você fez isso? Porque você estava inconsciente sobre os processos que estavam ocorrendo no interior dessa pessoa.

 

A verdade e a essência não estão no exterior, na superfície, fora do ser ou na aparência. Elas residem no interior e nas profundezas do ser.

 

Você possui uma responsabilidade consigo mesmo e com o outro. A solução do conflito está dentro de você. A função do conflito e do obstáculo é revelar o mestre que habita no seu íntimo que aguarda por despertar.

 

A consciência elevada ajudará a afastá-lo do epicentro do conflito e das emanações negativas. Você vai poder observá-lo com mais lucidez, entendimento, compreensão, clareza e imparcialidade. Criando uma distância entre você e o conflito ficará mais fácil resolvê-lo.

 

“ Quando um problema não lhe pertence, você consegue dar bons conselhos, sabe como resolvê-lo. Todo mundo é bom conselheiro quando o problema é dos outros, mas quando o problema é seu toda sabedoria se perde. Osho”.

 

Eleve a percepção de si e do conflito. Você não nasceu conflituoso. Você não é a causa do conflito. A cisão entre você e sua consciência profunda ocasionada pelos condicionamentos sociais é a verdadeira causa da desarmonia.

 

Você não nasceu desejando competir e tampouco dominar coisas e pessoas.

 

Crie uma certa distância entre você e a lide, assim ela ficará mais impessoal e permitirá que sua sabedoria flua.

 

Aqui somos provisórios e tudo é incerteza e probabilidade.

 

Da casa onde moramos, só levaremos as lembranças da alegria, da dança, da música ou das lágrimas.

 

Do nosso carro só restará duas coisas: ou a lembrança do vento em nossos rostos e cabelos enquanto íamos ser felizes ou o cenho cerrado por onde se passou.

 

O conflito é apenas um começo. Ele não é um fim em si mesmo onde se deva permanecer.

 

Nem você e nem o outro, mas os dois, fluindo pela vida com espontaneidade, transcendência, sabedoria e criatividade dinâmica.

 

  1. Conclusões.

 

Uma sociedade com mais consciência interior estará mais habilitada a compreender a essência dos processos que nos conduzem ao conflito.

 

O domínio da mente é um valoroso tesouro para o controle dos pensamentos negativos e das emoções.

 

A elevação da consciência engrandecerá o papel das experiências, da percepção e das nossas motivações para agir.

 

Compreender que tudo está interligado, que a vida flui eternamente, que não existem paradoxos irreconciliáveis, que tudo é regido por ciclos, que existe uma harmonia que liga os aparentes contrários e que todo efeito possui uma causa; já seria um enorme passo pela senda que conduz à paz.

 

Mas a paz verdadeira, se ela vai durar, é uma escolha que se faz, cujo principal propósito é compartilhar.

 

É um abandono do ontem e uma reconstrução diária.

 

Um caminho a se permanecer com confiança, equilíbrio e domínio de si e não do outro.

 

O domínio final do ego se faz com alegria, com compaixão e sobretudo, com a certeza de que o medo, a ansiedade e a luta somente nos afasta do verdadeiro caminho.

 

“ Não combatamos o mal, lutemos pelo bem.”

 

 

Sobre o autor:

 

Flávio Cristiano Costa Oliveira é Mestre em Direito Constitucional e Delegado de Polícia Civil pelo Estado do Piauí.

 

DELEGADOS.com.br
Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

você pode gostar