Armas inteligentes: fabricante promete pistola que só dispara após identificar atirador
Revólver que deve chegar aos EUA em 2024 confirma identidade por reconhecimento facial ou impressão digital. Para pesquisador sobre violência, produto pode reduzir disparos acidentais e roubos de armas, mas não é solução definitiva.
Os Estados Unidos devem se tornar, no início de 2024, o primeiro destino de um lote de pistolas que só podem ser disparadas por seus donos ou por pessoas cadastradas por eles.
O prazo foi anunciado pela Biofire, que desenvolveu um modelo de “arma inteligente” (ou smart gun) e colocou o produto em pré-venda exclusiva para o mercado americano.
Uma arma é considerada inteligente quando tem mecanismos para impedir que os disparos sejam feitos por pessoas não autorizadas.
No caso da Biofire, trata-se de uma pistola 9 mm (milímetros) que, em teoria, só pode ser destravada depois que a identidade do usuário é confirmada por reconhecimento facial ou impressão digital.
Outras fabricantes preparam produtos parecidos: a LodeStar Works pretende usar um leitor de digitais e um aplicativo de celular para destravar a arma, enquanto a SmartGunz quer fazer isso com um anel que deve ser usado pelo atirador.
No passado, empresas como a Colt e a Armatix apresentaram armas que só seriam destravadas se o atirador estivesse usando uma pulseira ou um relógio correspondente. Mas os projetos não fizeram esse tipo de produto avançar.
As restrições em armas são positivas e podem ajudar a reduzir disparos acidentais e roubos de armas, mas não devem ser vistas como solução definitiva para questões sobre violência, diz o gerente do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani.
“Esse tipo de produto tem um potencial muito grande, especialmente para usuários domésticos com crianças ou adolescentes em casa, para reduzir o risco do acesso não autorizado”, afirmou Bruno ao g1.
Dados do Ministério da Saúde compilados pelo Instituto Sou da Paz traçam o cenário de acidentes com armas de fogo no Brasil:
229 mortes em 2021 (1.376 no período de cinco anos entre 2017 e 2021)
2.598 pessoas hospitalizadas em 2021 (16.047 entre 2017 e 2021)
“O que essa tecnologia não responde é a violência praticada pelo proprietário da arma. A gente sabe que, infelizmente, muita gente compra dizendo que é para se defender, mas, no momento em que perde a cabeça, usa essa arma para cometer uma tragédia”.
A Biofire diz que a verificação de reconhecimento facial na sua arma é feita por meio de um sensor infravermelho que fica na traseira da smart gun. Já a impressão digital é analisada por um leitor no cabo da arma.
O site da empresa diz que os sensores podem identificar a pessoa mesmo se ela estiver usando luvas ou máscara, mas não detalha como isso acontece. O g1 entrou em contato com a fabricante, mas não teve retorno.
Ainda de acordo com a marca, a arma é bloqueada automaticamente quando deixa as mãos de uma pessoa autorizada.
O atirador pode autorizar outras pessoas a usar a arma ao conectá-la ao Smart Dock, dispositivo por meio do qual biometria é cadastrada. A Biofire afirma que os dados ficam armazenados na arma e não podem ser acessados por ninguém.
Uma arma mais tecnológica também exige mais atenção com segurança. Em 2017, um hacker usou imãs para provar que era possível impedir o travamento da arma inteligente IP1, da Armatix.
A Biofire alega que sua arma não se conecta à internet e que, por isso, não pode ser controlada remotamente. A empresa também diz que, apesar de o Smart Dock ser capaz de se ligar à rede, essa conexão é opcional e serve apenas para receber atualizações.
As armas do primeiro lote do revólver, que a Biofire promete entregar no início de 2024, esgotaram e foram vendidas por US$ 1.899 (cerca de R$ 9.400, na cotação de 22 de agosto) cada uma. A partir do segundo lote, cada unidade custa US$ 1.499 (R$ 7.400).
A LodeStar Works planeja vender sua arma inteligente por US$ 895 (R$ 4.400) cada uma, segundo a Reuters. Já a SmartGunz anunciou que a sua custará US$ 2.195 (R$ 10.800). Nenhuma delas está disponível ao público.
“O desafio é que ainda é uma tecnologia muito cara. A gente precisa continuar insistindo em outros mecanismos mais baratos de guarda segura, como os cofres, e mostrar que há alternativas para o proprietário não correr risco de ter um acidente fatal dentro da sua casa”, diz Langeani.
O pesquisador entende que este é um ponto deveria ter sido incluído nas regras sobre armas no Brasil. “Atualmente, no decreto de armas, não tem a previsão explícita para um cofre ou um equipamento semelhante de guarda segura”, explica.
E as armas convencionais?
Nos Estados Unidos, governos discutem regras específicas sobre smart guns. Em Nova Jersey, por exemplo, lojas de armas são obrigadas a vender este tipo de armas se houver uma solicitação das fabricantes.
Mas não há garantias de que elas realmente tomarão o mercado. A própria Biofire diz ser contra a regra de New Jersey e diz que não vai pedir para ser vendida em todas as lojas de armas do estado. A empresa afirma ainda que vai lutar contra futuras propostas nesse sentido.
“Estamos orgulhosos da smart gun que desenvolvemos e acreditamos que será uma parte importante da estratégia de defesa doméstica de muitas famílias, mas entendemos que todos devem ter o direito de escolher a arma de fogo que atenda às suas necessidades”, diz a fabricante.
Langeani, do Instituto Sou da Paz, diz que, é desejável ter regras que façam lojas disponibilizarem as smart guns, mas alerta que este tipo de produto não é uma receita milagrosa para os problemas com armas.
“A maior ferramenta são legislações que obriguem que o interessado opte por algum mecanismo de segurança, podendo ser uma arma regular com cofre ou uma smart gun”.
g1
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