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Kiss foi ‘erro do início ao fim’, diz delegado em depoimento de 5 horas

por Editoria Delegados

RS: Sandro Meinerz falou durante audiência referente ao processo criminal

 

 

Um dos principais responsáveis pelo inquérito da Polícia Civil sobre o incêndio da boate Kiss, em janeiro de 2013, que causou 242 mortes em Santa Maria, o delegado Sandro Meinerz deu um depoimento de cerca de 5 horas de duração na tarde desta quinta-feira (23) no Fórum da cidade da Região Central do Rio Grande do Sul. O delegado afirmou que a casa noturna jamais ficou totalmente adequada às normas legais.

“Em nenhum momento ela teve todas as autorizações legais concomitantemente. Ela é um erro do início ao fim. Os proprietários anteriores foram indiciados em outro inquérito”, esclareceu o Delegado.

A Kiss começou a operar em 2009, com outros proprietários. No ano seguinte, assumiu Elissandro Spohr, um dos réus por homicídio qualificado, na modalidade de dolo eventual, e tentativa de homicídio. Além do empresário, o Ministério Público (MP) acusa do mesmo crime o sócio dele na Kiss, Mauro Hoffmann, e os integrantes da Banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Após Spohr, conhecido como Kiko, assumir o controle, o delegado comenta que ele executou obras à revelia do que combinava com arquitetos e engenheiros. “Houve tantas alterações no prédio que o Kiko não respeitava o que era tratado com os profissionais. Ele ia lá, bolava uma coisa que achava esteticamente bonita e ele colocava”, disse.

Meinerz foi questionado sobre uma lata de querosene que havia dentro do prédio da boate no momento da tragédia, e afirmou que o objeto não foi citado no inquérito porque não teve relevância no caso. Ele disse, também, que o microfone usado pelo vocalista da banda não foi periciado porque foi derretido pelas chamas.
O questionamento sobre o equipamento partiu da defesa, que argumentava que Marcelo dos Santos não conseguiu alertar as pessoas sobre o incêndio porque a mesa de som estava desligada. “Ele criou a situação, de uma maneira ou de outra. Ele tinha que ter avisado as pessoas, mas tratou de salvar a vida dele. Não avisou no microfone. Lembro dele ter dito que o microfone não estava funcionando”, disse Meinerz.

O delegado falou ainda sobre a denúncia anônima recebida pela polícia de que um documento que apontava 29 irregularidades na boate Kiss teria sido omitido na Prefeitura de Santa Maria. Segundo ele, o texto foi encontrado. “Ninguém explicou porque essa pasta não foi encaminhada à polícia. Isso gerou outro inquérito que analisou que a boate sempre atuou de forma irregular”, afirmou.

Entenda

O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.

O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.

Ainda estão em andamento os processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.

Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de “dolo eventual”, estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio de 2013.

Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.

No dia 5 de dezembro de 2014, o Ministério Público (MP) denunciou 43 pessoas por crimes como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Essas denúncias tiveram como base o inquérito policial que investigou a falsificação de assinaturas e outros documentos para permitir a abertura da boate junto à prefeitura.

G1

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