RS: Até agora, 15 jovens, entre 15 e 21 anos, foram presos ou apreendidos
A morte de um adolescente de 17 anos na saída de uma festa em Charqueadas, no Rio Grande do Sul, chocou a comunidade não apenas pela brutalidade do crime, mas também pela frieza dos envolvidos. Segundo a polícia, além de se vangloriarem em um aplicativo de celular, os suspeitos do crime não demonstraram remorso em nenhum momento. Pelo contrário: riam dentro da cela.
Até agora, 15 envolvidos na morte de Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, de 17 anos, já foram presos ou apreendidos. São nove adultos e seis adolescentes, com idades entre 15 e 21 anos de idade. No sábado (8), foram quatro adolescentes apreendidos e um adulto preso.
Ronei foi agredido e morto na saída de uma festa no Clube Tiradentes, em Charqueadas, na madrugada do último sábado (1º). Ele estava com um casal de amigos no evento organizado para arrecadar fundos para a formatura do ensino médio da Escola Técnica Cenecista Carolino Euzébio Nunes.
A polícia teve acesso a uma conversa entre os envolvidos feita pelo WhatsApp momentos após o crime. No diálogo, um dos suspeitos explica aos amigos como agrediu Ronei: “Eu dei duas garrafadas, com a garrafa quebrada na cabeça dele”. Eles pareciam comemorar: “Eu comecei a chutar, tipo GTA, assim, ó, comecei a chutar ele assim”, descreveu.
“[Eles] contando vantagem como se aquilo fosse um troféu. Inclusive dentro da delegacia mostram uma crueldade, uma falta de respeito, uma falta de noção pelo valor da vida humana, eles riam dentro da cela”, comenta o delegado Rodrigo Machado dos Reis, responsável pelo caso. “É algo que eu jamais tinha visto, ainda mais de jovens, trabalhar com uma frieza tão grande. Não demonstraram nenhum arrependimento. Nada. Não demonstraram nada”.
A mãe de um dos envolvidos diz que o filho é inocente e que não estava Charqueadas naquele dia. “Se ele tivesse aqui, se ele tivesse no meio, eu ia dizer, eu ia dizer: tu errou, tu tem que pagar por isso. Mas injustiça eu não aceito”, diz.
O crime
Era a quinta festa que Ronei Jr. ia sozinho. Como combinado naquele dia, o pai do adolescente, o engenheiro Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, de 48 anos, chegou no clube às 5h para pegar o filho. Por telefone, o jovem pediu dar carona para um casal de amigos que, segundo ele, estava com problemas.
O pai, então, estacionou o carro e entrou no clube para pegar os jovens. Quando eles desciam as escadas, começou o ataque. E, de acordo com a polícia, tudo foi premeditado. “Inclusive há relatos de testemunhas e deles mesmo admitindo que já havia uma confabulação. Eles já estavam do lado de fora tramando a agressão, que iria ser feita praticada momentos depois”, diz o delegado.
As imagens de uma câmera de segurança (veja o vídeo) mostram o momento em que Ronei Jr., o pai e os amigos dele são cercados. O adolescente foi o mais agredido, inclusive com garrafadas, e morreu por traumatismo craniano. O pai dele conta o que aconteceu naquela madrugada
“Esses meninos tiveram a capacidade de tirar eles de dentro do carro para bater. Eu, na hora, não vi porque foi muito rápido. Eu tirava ela de uma porta, eles iam na outra. Eu tentando entrar e eles não deixavam, mas naqueles segundos não me parecia tanta gente. E percebi que, num segundo momento da agressão, mais gente da escadaria do clube jogava garrafas e incitava a ação. Mas eu não tinha noção que era tanta gente”, recorda.
Testemunhas contaram à polícia que os criminosos pareciam “animais enfurecidos”. “Foi uma situação apavorante. Eles atiravam garrafas, eles davam garrafadas em todas as partes do corpo, inclusive na cabeça, o que aconteceu com a vítima que veio a falecer, eles davam chutes, socos”, detalha o delegado Rodrigo Reis.
Rixa entre cidades
O motivo de tanta violência parece inacreditável: o namorado da amiga de Ronei vive em São Jerônimo, cidade vizinha a Charqueadas. E só por isso – por ser morador de outra cidade – o jovem foi visto como inimigo. Existe, segundo a polícia, uma rixa antiga entre grupos dos dois municípios.
“O problema era que o menino de São Jerônimo namorava a menina de Charqueadas. Como é que tu explica uma situação dessas, no que a gente chama de uma sociedade civilizada? Não tem explicação. E jovens que convivem há muito tempo juntos, porque as cidades são muito próximas”, desabafa o pai de Ronei.
O grupo que agrediu o jovem, chamado de “bonde”, é conhecido na cidade por se envolver em confusões, fazer pichações e ameaças. E era comum que as festas que eles frequentavam terminassem em briga.
“São bem violentos. Em festas, assim, são covardes, eles chegam de bando, assim, não importa se tá uns 15 contra dois, tipo assim. Sempre assim. Mas nunca chegaram ao ponto de um óbito que nem agora”, revela um testemunha, que prefere não se identificar.
Ronei diz que conhecia a maioria do grupo. São filhos de amigos, de vizinhos. “Quando a gente fala em impotência, é que a minha geração, ela vai entregar um mundo muito pior para seus filhos, muito pior. Nós não fizemos nada, nós não conseguimos nada. Ou a gente está muito lento frente a tudo que está acontecendo ou a gente está cruzando os braços. A gente acha que vai acontecer no lado e nunca aqui. Ai quando acontece, choca muito”
Dia dos pais doloroso
Filho único, Ronei Jr. era descrito com um adolescente tímido, cheio de sonhos, que queria ser físico ou engenheiro. “Tem uma família, uma mãe desesperada e vai viver desesperada pela perda de um filho, de um único filho que ela teve uma dedicação, um amor incondicional a ele. Eles julgaram, sentenciaram e executaram o meu filho numa calçada, filmaram isso, foram para a internet para poder colher algum destaque”, lamenta o pai.
Neste domingo (9), Dia dos Pais, a dor da família foi ainda maior. “É domingo e um domingo diferente para muitos. Mesmo aqueles que fizeram para o meu filho o que fizeram, eles vão poder, em algum momento, dar um abraço no pai deles. Mas eu não gostaria que ninguém mais passasse isso”, desabafa Ronei.
“Do jeito tímido dele, eu sei que ele ia dizer ‘pai, eu te amo’. Não vai ser possível, não verbalmente, mas de coração, eu sei que ele vai dar esse abraço e eu vou poder dar esse abraço nele”, diz o pai do jovem, emocionado.
O engenheiro diz que não sabe se consguirá, um dia, perdoar aos responsáveis. “Então isso, infelizmente, eu vou ter que lembrar o resto da minha vida. Não é um julgamento, em determinado momento eu vou ter que aliviar o meu coração, a minha dor, mas eu não vou conseguir esquecer. Eu não vou conseguir esquecer o que um ser humano consegue fazer com o outro”, completa.
Segundo a polícia, os jovens responsáveis pela morte devem ser indiciados por homicídio triplamente qualificado. A pena, para os adultos, pode chegar até 30 anos na cadeia. Os adolescentes que têm menos de 18 anos podem ficar até três anos internados.
Veja o vídeo!
G1
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