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Entenda como a polícia conseguiu achar túnel e frustrar assalto bilionário ao Banco do Brasil

por Editoria Delegados

SP: Veja como era túnel que seria usado para roubar R$ 1 bilhão de banco

A Polícia Civil alugou um imóvel para acomodar policiais disfarçados e vigiou suspeitos por dias até conseguir achar o túnel de 600 metros e os líderes da quadrilha que planejava furtar cerca de R$ 1 bilhão do Banco do Brasil em São Paulo.

 

A investigação começou há cerca de três meses, quando policiais do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) receberam informações preliminares de que uma quadrilha tentaria assaltar o Complexo Verbo Divino do Banco do Brasil, na zona sul de São Paulo.

 

A polícia não disse se recebeu dicas de informantes ou se interceptou comunicações de suspeitos para ter acesso a essa informação inicial.

 

Mas ainda era preciso descobrir como o assalto aconteceria e quem eram os líderes da quadrilha.

 

Uma das primeiras medidas dos policiais foi ir visitar as instalações do banco. Lá eles verificaram que havia um grande aparato de segurança e por isso concluíram que dificilmente os criminosos optariam por um assalto convencional.

 

A partir de então começaram a suspeitar que os bandidos tentariam cavar um túnel para entrar no cofre do banco de noite.

“Há um mês, identificamos o QG (dos criminosos), na zona norte (de São Paulo). Vimos uma movimentação anormal”, disse o delegado responsável, Fábio Pinheiro Lopes.

 

Policiais disfarçados então alugaram uma casa e de lá começaram a vigiar um imóvel onde suspeitavam que os criminosos preparavam ferramentas e instrumentos que seriam usados no túnel que seria cavado até o cofre do banco.

 

O fato de os suspeitos sempre saírem do local carregados de equipamentos reforçou a hipótese da polícia de que eles estavam construindo um túnel. Os policiais perceberam que estavam lidando com uma quadrilha especializada em roubos a banco.

 

“Em uma semana, a gente conseguiu identificar onde seria o túnel. Monitoramos a região e optamos para “startar” (começar) essa operação quando os líderes estivessem reunidos”, afirmou o delegado Lopes.

 

O túnel estava sendo cavado a partir de uma casa alugada na Chácara Santo Antônio, zona sul da capital paulista, próxima ao complexo de cofres do Banco do Brasil. O local também passou a ser monitorado dia e noite.

 

Quando foi descoberto, o túnel estava quase concluído e já era quase oito vezes maior ao que foi usado pela quadrilha que realizou o maior assalto a banco do Brasil — quando foram levados R$ 164 milhões do Banco Central de Fortaleza (CE), em agosto de 2005. A estrutura usada na época tinha 75,4 metros de comprimento. O túnel de São Paulo tem cerca de 600 metros.

 

Os policiais decidiram continuar monitorando as atividades dos criminosos até conseguir identificar quem eram os líderes do bando. Na noite desta segunda-feira, quando os policiais do Deic tiveram certeza de que as lideranças estavam reunidas, uma grande operação com equipes táticas e um helicóptero foi deflagrada.

 

O túnel cavado tinha 600 metros de comprimento e em torno de 1,5 m de altura.

Foram presos os supostos líderes da quadrilha: Fernando Augusto Santiago, 40 anos, mecânico, e Alceu Ceu Gomes Nogueira, 35 anos, perueiro, além de outros 14 suspeitos.

 

“Quatro (suspeitos) que foram contratados para cavar estão foragidos. Não teve reação. Até porque foi rápido. Não teve nem tempo de reagir. Eles nem acreditaram no que estavam vendo”, disse o delegado.

 

Os investigadores encontraram no local usado como base pelos criminosos uma estrutura completa, com maquinários que permitiam o corte de metais para confecção de escoras, trilhos e carrinhos utilizados na retirada dos numerários.

 

Ao entrar no túnel, os policiais perceberam que as escavações já haviam praticamente chegado aos cofres — no complexo do Banco do Brasil já era até possível ver rachaduras no chão.

 

O furto aconteceria na sexta-feira, segundo os policiais.

 

Os presos responderão por tentativa de furto qualificado e associação criminosa. Entre os detidos, 12 apresentavam passagens na polícia por homicídio, roubo, furto, tráfico de drogas, estelionato e porte de arma. Os policiais apreenderam seis automóveis.

 

Ainda de acordo com a polícia, alguns dos assaltantes também atuaram em dois grandes roubos a banco no Brasil: o maior do país, em Fortaleza, em 2005, e o do Itaú, em 2011, em São Paulo.

 

Nogueira também é investigado por suposta participação em um assalto à transportadora de valores Prosegur, no Paraguai, em abril deste ano. Na ocasião foram roubada em dólares uma quantia equivalente a R$ 120 milhões de reais. O crime foi atribuído a membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital.

 

A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa dos 16 suspeitos até o horário da publicação. Segundo o Deic, eles estão no Fórum da Barra Funda, onde devem passar por audiência de custódia nesta terça-feira.

Curiosos tentam entender e se questionam como os criminosos conseguiram tramar tudo, durante tanto tempo, e cavar o tanto que conseguiram, até o banco, sem gerar nenhum alarde e sem barulho. Ninguém quis se identificar.

 

Uma vizinha, que mora ao lado na casa, e que pediu para não ser identificada, disse que os criminosos não faziam barulho nenhum e que nunca suspeitou de nada. “Eles entravam e saíam toda hora com uma van. A casa ficou desocupada há 3 anos. Antes, funcionava um cabeleireiro, que deixou o local porque, quando chovia, entrava água dentro da casa”.

 

 

 

“Operação de sucesso”

 

Especialistas críticos à atuações da polícia analisaram com bons olhos a ação ocorrida ao longo dos últimos meses, de inteligência, e a forma com que os policiais abordaram e capturaram os criminosos, sem a necessidade de disparo de armas de fogo.

 

Para a professora da Universidade de Chicago, Yanilda Gonzales, que está no Brasil para uma pesquisa sobre segurança pública, há um “contraste” entre a ação de ontem e uma outra ação recente da polícia no Morumbi — onde dez suspeitos de uma quadrilha que roubava residências foram mortos em um tiroteio com a polícia.

 

“É um espelho para avaliar o que aconteceu no Morumbi. A Polícia Civil demonstrou ontem que tem a capacidade de executar uma operação sofisticada sem violência letal, então é necessário perguntar porque a ação no Morumbi teve esse resultado trágico”, disse.

 

“Foi uma ação que todo o cidadão quer e que o Brasil precisa: uma polícia que age de forma inteligente, que investiga com cuidado, com atenção, e que prende os criminosos em uma ação que não foi necessário efetuar nenhum disparo. Isso é uma operação de sucesso”, afirmou Rafael Alcadipani, que é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

 

“É o tipo de ação que a gente precisa incentivar, tanto como mídia, sociedade e especialista de segurança. A gente tem que incentivar ações inteligentes da polícia, que previne o crime, evita e faz com que ele não aconteça e que respeita o direito de todo mundo”, complementou.

 

Até o governador Geraldo Alckmin participou de uma entrevista à imprensa sobre a prisão da quadrilha — o que não é prática comum em casos policiais.

 

“Dezesseis presos. Fruto de três meses trabalho. E a prisão desta quadrilha com indícios de envolvimento em outros grandes crimes pelo Brasil. Era uma quadrilha altamente especializada. Tiveram um investimento inacreditável de quase R$ 4 milhões (para construir o túnel). Quero cumprimentar todos os policiais e toda a equipe que participou”, afirmou o governador.

UOL

 

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