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Ética e Moral em tempos de mensalões, por Luiz Flávio Gomes

por Editoria Delegados

As parábolas são sempre fontes de reflexão. São narrativas breves que explicitam ocorrências da cultura de um povo, que nos levam a raciocinar sobre questões morais, às vezes muito complexas.

Conta-se (cf. Alexandre Rangel, As mais belas parábolas de todos os tempos) que um velho mestre vivia com seus discípulos em um templo muito arruinado. Viviam de esmolas e doações. Num determinado dia o mestre disse para seus discípulos: “Cada um de vocês devem ir à cidade e roubar bens que serão vendidos e, assim, arrecadaremos dinheiro para reformar nosso templo. Vocês não podem ser vistos por ninguém”.

Os discípulos ficaram espantados, pensaram no quanto isso poderia manchar suas reputações. Foram orientados para praticar atos ilegais e imorais. Roubar é uma coisa muito errada! A causa é boa, mas o ato é extremamente imoral. No final, todos foram para a cidade, menos um deles. O mestre perguntou:

– Por que você ficou para trás?

O discípulo respondeu:

– Eu não posso seguir as suas instruções para roubar onde ninguém esteja me vendo. Não importa aonde eu vá; sempre estarei olhando para mim mesmo. Meus próprios olhos irão me ver roubando”. O sábio mestre o abraçou e disse: “Eu estava testando a integridade dos meus estudantes e você é o único que passou no teste”.
 
Recordando conceitos: Ética é a arte de viver bem humanamente (Savater). É o conjunto de princípios e regras que fundamentam as razões (últimas) das nossas decisões cotidianas. Distingue o certo do errado, o bom do mau etc. A Ética, no entanto, está no plano teórico. A moral é que está no plano prático. Moral é o conjunto dos princípios que regem (ou deveriam reger) nossos comportamentos concretos.
 
O comportamento dos políticos de se apropriarem indevidamente de bens públicos ou privados é, antes de tudo, imoral. Além disso, fere a regra ética que diz: não faça aos outros o que você não quer que façam com você! Mas por que a grande maioria deles faz a mesma coisa? Antes de tudo, por falta de estrutura ética ou firmeza de caráter, que estão na base da exemplaridade (a grande ausente no mundo globalizado e consumista atual).

 

Sobre o autor

LUIZ FLÁVIO GOMES, 55, doutor em direito penal, fundou a rede de ensino LFG. Foi promotor de justiça (de 1980 a 1983), juiz (1983 a 1998) e advogado (1999 a 2001). Siga-me: www.professorlfg.com.br

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