Em uma carta escrita dentro da cadeia, o vigilante Evandro Bezerra Silva diz estar sofrendo pressão para mudar seu depoimento e inocentar Mizael Bispo de Souza. O vigilante está preso desde junho de 2012.
Ele é acusado de ajudar Mizael a matar a advogada Mércia Nakashima. A ex-namorada de Mizael foi morta em 23 de maio de 2010, em Nazaré Paulista, interior de São Paulo.
“Estou com medo do Mizael”, escreveu o vigilante.
Nesta segunda-feira (11) começa o julgamento de Mizael, que é advogado e policial militar reformado. O júri será realizado no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo. O vigia só será julgado no dia 29 de julho.
A carta foi juntada nesta semana ao processo pelo advogado de Evandro, Aryldo de Oliveira de Paula. O G1 obteve uma cópia do documento, redigido em 22 de fevereiro deste ano, com caneta esferográfica, letra de fôrma, em quatro páginas de folhas de caderno.
Nela, o vigilante de 42 anos relata que os defensores de Mizael o visitaram na penitenciária de Tremembé, onde está detido preventivamente, para forçá-lo a modificar o que havia dito no dia 14 do mês passado à Justiça. O interrogatório foi gravado e divulgado pelo SPTV no último dia 25.
“Essa carta, que será juntada ao processo nesta semana, revela a pressão dos advogados de Mizael e a proposta de vantagem financeira para que meu cliente mude sua versão no curso do processo”, afirmou o advogado Aryldo de Paula à equipe de reportagem.
Na sua quarta e mais recente versão diferente para o crime, Evandro contou agora que foi buscar Mizael na represa em Nazaré Paulista, no dia do crime. Foi lá que o carro e o corpo da vítima acabaram encontrados, respectivamente em 10 e 11 de junho de 2010.
Em sua defesa, o vigilante alegou que não tinha conhecimento, na época, do plano de Mizael de matar Mércia. Por esse motivo, alega ser inocente e que só foi ao local dar uma carona.
“Tenho sido pressionado por Mizael e seus advogados. Estou muito assustado com tudo isso. Estou com medo do Mizael. Por favor, doutor, me ajude a provar minha inocência. Eu não matei e não ajudei o Mizael. Eu apenas dei uma carona”, escreveu Evandro para seu defensor, Aryldo de Paula.
O vigia não cita o nome dos dois advogados de Mizael no texto. Quem defende o policial militar são Samir Haddad Júnior e Ivon Ribeiro. “Os advogados do Mizael tem [sic] vindo aqui me pressionar para eu mudar o meu depoimento. Os irmão [sic] do Mizael tem [sic] mandando carta para a minha família com amiaças [sic]. Eu estou com medo que aconteça alguma coisa com a minha família”, escreveu Evandro na carta.
Ao G1, Haddad negou que a defesa de Mizael tenha pressionado Evandro. “Repilo veementemente as palavras de Evandro, levianas e caluniosas, em relação ao que a defesa de Mizael tenha de qualquer meio ou forma pressionado Evandro. O próprio Evandro chegou a nos procurar para defendê-lo no processo. E quero que ele prove que essa carta era do Mizael”, afirmou Samir Haddad, referindo-se às afirmações feitas pelo vigia na carta escrita dentro da cadeia.
R$ 6 mil
O vigia também relatou ter recebido oferta em dinheiro da família do policial militar reformado para desmentir que tenha dado carona a ele no dia do crime.
“Se quere [sic] me culpa [sic], me culpe pelo crime que eu cometi. Se for crime dá [sic] uma carona para alguém (…) Foi só eu começar trabalhar para o Misael [sic] que deu tudo errado aqui”.”
Evandro Bezerra Silva, em carta
“O irmão do Mizael, Adão, entrego [sic] uma carta para a minha esposa a mando do Misael [sic]. Nela ele está me ameaçando, me oferecendo valor para eu mudar o meu depoimento. Que se eu não mudar o depoimento, ele vai jogar tudo nas minhas costas. Essa carta foi escrita por um amigo do Adão e do Misael. Por nome Alexandre, nela, ele está me oferecendo 6.000,00 reais, mais 2.500,00 reais por meis [sic] para eu mudar o meu depoimento”.
A equipe de reportagem não conseguiu localizar Adão de Souza para comentar a denúncia.
“Quero deixar bem claro que se acontecer alguma coisa com a minha família, o culpado é o Misael [sic] e seus irmãos. Eu estou sendo mais uma vítima do Misael [sic]”, relatou Evandro.
Mércia morreu afogada após ser baleada de raspão no rosto e nas mãos. Para o Ministério Público, Mizael, que completou 43 anos nesta semana, matou a ex-namorada, que tinha 28 na época, porque ela não queria reatar o romance com ele.
De acordo com a acusação do Ministério Público, o vigia Evandro Bezerra Silva também participou do crime. Ele saberia do plano de Mizael para matá-la e deu carona para o assassino fugir. Apesar disso, o vigilante, que responde preso em Tremembé pelo homicídio, só será levado a julgamento daqui a quase quatro meses.
Mizael está detido preventivamente no presídio da Polícia Militar Romão Gomes, na Zona Norte da capital paulista, desde 24 de fevereiro de 2012, quando se entregou à Justiça após mais de um ano foragido. Ele nega o crime. Na sua defesa, sempre disse que nunca esteve em Nazaré Paulista ou que conheça a região.
Quem também usou a escrita para se defender foi Mizael. Sete cópias de um livro de 56 páginas escrito por ele dentro da cadeia serão usadas como parte da estratégia da defesa do acusado de matar Mércia para tentar convencer os jurados da inocência do advogado e policial militar reformado.
No livro “Mizael Bispo de Souza – Na Cova dos Leões – Uma história de luta, sofrimento, dor e injustiça – Nada está perdido”, o réu se compara a Jesus Cristo, diz que foi “bode expiatório”, acusa a família de Mércia de ter sido racista com ele, critica a Polícia Civil de “forjar provas” e o Ministério Público de tentar achar “pelo em ovo” para incriminá-lo, e afirma que “todo o processo foi viciado de erros”. “Me crucificaram como fizeram os judeus com Jesus Cristo, levando-o à cruz”, escreveu Mizael.
Relembre o caso
De acordo com as investigações da Polícia Civil e a denúncia feita pelo Ministério Público, Mizael contou com a ajuda do de Evandro para matar Mércia em 23 de maio de 2010.
Segundo a Promotoria, a advogada foi morta porque Mizael não aceitava o fim do relacionamento. Após ser sequestrada, ela foi atingida com dois tiros, no rosto e nas mãos, e seu carro foi jogado em uma represa em Nazaré Paulista. Segundo a perícia, a vítima morreu afogada.
G1
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