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Candidato desabafa sobre a difícil situação dos concursos de delegados

por Editoria Delegados

 

 

Envio esse e-mail para sugestão de pauta em relação ao absurdo que tem sido o planejamento e execução dos concursos para cargos de delegado no Brasil.

 

Primeiramente, explico que eu, assim como outros tantos, almejo seguir a carreira de Delegado de Polícia e venho estudando especificamente para isso há quase 2 anos.

O objetivo de exercer essa carreira faz com que pessoas como eu viagem a diversos cantos do país para prestar os respectivos concursos e um dia obter a sonhada aprovação. No entanto, os concurseiros que partilham desta meta estão literalmente pagando o preço da absurda falta de organização e planejamento dos governos estaduais, das secretarias de segurança pública e das bancas organizadoras.

 

Para que seja possível compreender a situação, farei um breve relato das minhas experiências com provas para delegado de polícia

Em 2012 foi aberto edital para delegado da polícia federal, mas o concurso foi suspenso por liminar do STF para avaliação do omissão do edital em relação a disponibilização de vagas para portadores de necessidades especiais. Este concurso até hoje não foi realizado.

 

No ano passado prestei concurso para delegado da Polícia Civil do Pará. Comprei passagens de avião, consegui um lugar para me hospedar e não gastei com hospedagem, mas gastei com deslocamento. Fiz a prova e no mesmo dia o jornal local já denunciava tentativa de fraudar o concurso. Na mesma semana o concurso foi cancelado porque haviam envelopes de provas que não estavam lacrados. Cerca de 8 mil inscritos no concurso e sabe-se lá quantos vieram de todas as partes do país para perder seu tempo e dinheiro com uma prova cancelada.

 

Ainda no ano passado prestei concurso para delegado do estado do Rio de Janeiro. Gastei com passagem, hospedagem, alimentação e deslocamento. Passei na 1ª fase e voltei ao Rio para prestar a segunda fase. Novamente gastei com os mesmos itens. Das 6 matérias avaliadas, não passei em 1 delas. Por óbvio que teria todo o interesse em recorrer da reprovação, mas a organização do concurso injustificadamente e de forma irrazoável cerceou as possibilidades de elaboração de recursos bem fundamentados. Não foi divulgado espelho de correção das provas dissertativas e o candidato, para que tivesse acesso ao caderno de provas, teria que ir pessoalmente ou representado por procuração pública à sede da organização. Havia uma fila gigantesca e os candidatos não podiam extrair cópia do caderno de provas, não podiam fotografar ou digitalizar. A única forma de reproduzir o que o candidato havia escrito na prova, era copiando a mão com lápis fornecido pela organizadora.

 

Moro em Brasília, seria extremamente despendioso ir ao Rio de Janeiro em dia útil para ter acesso à minha prova. Seria absurdo pedir que alguem tivesse a boa vontade de ir em meu nome, representado por procuração, e copiasse à mão todas as minhas respostas depois de enfrentar uma fila enorme. Por último, seria possível que conseguisse fazer isso desde que eu pagasse caro para que algum escritorio de advocacia ou algum despachante realizasse a diligência. Tudo por um capricho inviabilizador de recursos da organização. Optei por desistir de recorrer da prova.

 

Neste ano prestei concurso para polícia civil de Goiás. Fui até Goiania, gastei com combustível, hospedagem e alimentação. No dia seguinte à prova o concurso foi cancelado por uma “falha” na elaboração dos gabaritos. Vários concursos da mesma banca possuíam a mesma sequencia de letras no gabarito. Mais uma vez dinheiro e tempo jogados fora.

 

Me inscrevi para o concurso de delegado de polícia do estado de Mato Grosso do Sul. Mesmo com o concurso da Policia Federal estando suspenso pela não previsão de cotas para PNE, o edital da respectiva corporação não designou vagas para os mesmos. Resultado, comprei passagens de avião e estava procurando por hospedagem. Na semana da prova o MP local conseguiu uma liminar para suspender a realização do concurso. A banca e o governo do estado mantiveram-se silentes. Todos os concursandos estavam sem saber o que fazer. Na quarta e na quinta-feira anteriores ao concurso, o governo tentou uma jogada política e aprovou a toque de caixa uma lei que retirava a exigência de reserva de vagas para PNE e divulgou que as provas seria realizadas no domingo. Na sexta-feira, dia seguinte, divulgaram nota informando da suspensão da prova para data indeterminada. A taxa para remarcação da minha passagem de avião era tão cara, que quase fui para Campo Grande passear só para não perder
o dinheiro. Pedi o ressarcimento da quantia que era possível, cerca de 40% do que paguei e comprei passagem na mesma companhia para salvador (tendo que completar com mais dinheiro), onde iria haver prova para delegado da Bahia no dia 07 de abril.

 

Iria haver! Por conta de problemas com um edital absurdo que pedia minúcias ginecológicas ou atestado de virgindade das mulheres, o concurso foi adiado para o dia 28 de abril. Novamente perderei dinheiro com as taxas de remarcação de passagem. Detalhe, remarcaram para o dia 28 de abril, que era o dia para qual estava marcada a prova da polícia civil do pará (aquele que havia sido cancelado).

 

Hoje, fui verificar como está a situação dos concursos para qual estou inscrito. Delegado de polícia do Pará, Bahia e Paraná. Para minha surpresa, os concursos do Pará e Bahia tiveram suas datas alteradas para o dia 05 de maio. Dia que, vejam a coincidência, está marcada a prova para delegado do Paraná. Por sorte não havia marcado passagens para o Pará e Paraná ainda, mas gastei com o valor da inscrição em todos eles e vou perder esse dinheiro. O ano possui pelo menos 48 domingos e a polícia de 3 estados diferentes da federação marcam prova para o mesmo dia, dividindo e enfraquecendo a concorrência e prejudicando os que almejam seguir a carreira.

 

Não custa ressaltar que o edital da polícia do Paraná também não previu vagas para PNE, o que está gerando extrema insegurança nos candidatos.

 

A conclusão é de que os concursos para Polícia Civil estão sendo uma espelha da completa falta de planejamento, de organização, de honestidade e de respeito por parte das instituições competentes. Resta cada vez mais desgastante buscar a carreira almejada. Passar em um concurso para a polícia hoje em dia exige muito mais do que preparação física e intelectual, exige paciência, perseverança e dinheiro, muito dinheiro, para arcar com o descaso na elaboração dos concursos.

 

Tentando não deixar o sonho arrefecer, espero que alguém da imprensa possa colaborar e, pelo menos, divulgar o absurdo que tem sido verificado no que diz respeito ao tema.

 

Sobre o autor

Renato de Marcondes Bé

 

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