O afastamento do delegado Cláudio Monteiro da chefia da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), suspeito de peculato, acabou causando crise sem precedentes entre integrantes da Polícia Civil e a cúpula da Secretaria de Segurança Pública. Nesta segunda-feira, momentos antes de o secretário César Grubba reiterar que a exoneração foi provocada pelo uso indevido de diárias da SSP, o presidente da Adesc (Associação dos Delegados de Santa Catarina, Renato Hengdes, denunciou a intenção deliberada do governo de desmobilizar a Deic e inviabilizar o andamento de inquéritos policiais que apuram denúncias contra a administração pública estadual.
Integrante do Conselho Superior de Polícia, Hendges citou como exemplo o inquérito instaurado pela Deic para investigar desvios de peças de automóveis sucateados, retirados do depósito da SSP pela metalúrgica Gerdau, de Joinville, presidido pelo delegado Alexandre Carvalho. Segundo foi apurado, o encaminhamento de peças automotivas de valor a ferro-velho de Joinville foi autorizado pela comissão de licitação do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), com aval de Gruba e do secretário adjunto, coronel Fernando Rodrigues de Azevedo. “Coincidentemente, o secretário da Segurança e seu adjunto estavam intimados a depor, conforme ofício encaminhado no dia 29 de março”, diz.
Segundo o presidente da Adesc, o clima na Deic não é de insubordinação, mas há uma perplexidade muito grande entre os policiais lotados lá. “O diretor-adjunto, por exemplo, não foi comunicado, nem informalmente, da mudança e que assumiria o comando nesta semana. Nós, policiais, vamos trabalhar, mas não há um plano de ação traçado, não se sabe como tocar os inquéritos complexos, nevrálgicos para a administração pública”, acrescenta.
Titular da Delegacia Anti-sequestro e delegado da Deic desde 1985, Hendges também critica a intenção da SSP de desativar o “Programa Guardião”, ferramenta para escuta telefônica instalado na Deic e disponível a policiais de todo o Estado. “Querem levar uma ferramenta operacional, cuja utilidade já foi comprovada, para atender questões políticas na SSP”, critica. E enumera pelo menos ações bem sucedidas: “Na operação Cativeiro foram 31 presos condenados, somando 1.907 anos de prisão. Tivemos ainda as operações Mampituba, com 23 condenados, e Falcão, com 22 presos também condenados.”
Sobre a exoneração de Monteiro, Renatão foi taxativo. “Não questionamos a necessidade de mudança no comando, mas a forma como o delegado foi execrado publicamente. Se há denuncia de erro ou corrupção, precisa ser apurado, investigado devidamente, antes de ser punido. A Deic é maior do que qualquer um que já passou por lá”, acrescentou.
Secretário pretende depor na Deic
Para o secretário César Grubba não há motivação política no afastamento de Monteiro, já que a demissão ocorreu por um ato comprovado. “O próprio delegado admitiu que fez besteira. Se isso é motivação política, não sei mais o que é certo ou errado”, justificou. Sobre o inquérito que apura desvios de peças automotivas, Grubba garantiu que faz questão de depor na Deic e que cancelou viagem a São Paulo, nesta semana, para marcar a data do depoimento.
O delegado geral da Polícia Civil, Aldo D’Avila, garantiu que não há pressão política sobre os delegados encarregados das investigações sobre o desvio de R$ 50 milhões da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) e do desvio de peças do Complexo de Segurança Pública do Estado. “São pessoas idôneas, que não aceitariam qualquer tipo de pressão”, argumentou.
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