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Pela 1ª vez, PM usará policiais que lutam jiu-jítsu contra black blocs

por Editoria Delegados

 

A Polícia Militar de São Paulo decidiu adotar uma nova estratégia em relação aos black blocs durante as manifestações. Policiais sem armas e praticantes de artes marciais, como o jiu-jítsu, serão deslocados para deter quem praticar atos de vandalismo, de acordo com o comandante geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Benedito Roberto Meira. Os policiais da “Tropa do Braço” devem atuar pela primeira vez neste sábado (22), durante protesto contra a Copa do Mundo.

 

Inspirado na experiência de policiamento francês no combate aos protestos violentos na periferia de Paris em 2005, o plano de segurança será colocado em prática após três meses de treinamento – 140 policiais militares que integram o grupo serão testados no fim de semana.

 

Se o efetivo da “Tropa do Braço” não conseguir conter os atos de violência e a situação fugir do controle, outro grupo será acionado. O reforço estará equipado com balas de borracha, spray pimenta e bombas de efeito moral e ficará de prontidão caso haja a necessidade de intervenção.

 

Os policiais da “Tropa do Braço” estarão uniformizados, mas portarão apenas capacetes, cassetetes e algemas. A tropa acompanhará o protesto do ato “Não vai ter Copa”. O encontro, contrário à realização do mundial de futebol no Brasil, foi convocado pela internet para começar às 17h na Praça da República, no Centro da capital paulista. Segundo a PM, somente em 2013 foram 436 manifestações públicas ocorridas na região central da cidade.

 

“Se não temos os direitos garantidos por Constituição como saúde de qualidade, educação de qualidade e transporte público de qualidade pra que ter Copa???? Vamos para o pau mais uma vez rumo a greve geral contra a Copa”, informa o texto do grupo no Facebook, chamando simpatizantes para o protesto.

 

Até a manhã desta sexta, 340 internautas confirmaram presença, mas há outras páginas na web conclamando mais pessoas para o mesmo ato na Praça da República.

 

“A nossa ideia daqui para frente é adotar essa nova estratégia. Colocar policiais militares desarmados para poder identificar e pinçar essas pessoas que estão mascaradas e que podem estar ocultando nas mochilas instrumentos que possam ser utilizados para danificar o patrimônio público. Materiais incendiários como coquetel molotov e tudo o mais”, declarou ao G1 o coronel Benedito Meira. “É uma ação proativa e preventiva“.

 

Suspeitos serão identificados durante as manifestações com o auxílio de policiais à paisana que estarão infiltrados. Eles deverão acionar os integrantes da “Tropa do Braço” antes de começar o quebra-quebra. A ordem é retirar dos atos pessoas que demonstrarem intenção de praticar vandalismo. Quem for abordado e estiver com coquetéis molotov, estilingues ou objetos usados para depredação, deverá ser detido e levado a uma delegacia para averiguação.

 

“Preciso de uma tropa que tenha noções de artes marciais, como é o caso, para fazer a imobilização da pessoa. É mais uma estratégia, é mais uma tentativa”, disse Meira. “É jiu-jítsu que eles estão praticando com o objetivo de imobilização. De 80 a mais de 100 policiais estão sendo treinados. Eles estarão uniformizados, portarão um cassetete de borracha, capacete para proteção pessoal e, possivelmente, algema de plástico”, contou.

 

Um policial militar praticante de jiu-jítsu, ouvido pela equipe de reportagem sob a condição de não ter seu nome divulgado, disse que há dois movimentos típicos da técnica que podem ser usados. “Mata-leão, que consiste em usar o braço para imobilizar o pescoço do suspeito, como se fosse uma gravata, e chave de braço são golpes mais apropriados para essa situação”, disse.

 

Ato contra Copa

A manifestação deste sábado é a segunda na capital paulista neste ano contra a Copa do Mundo. A primeira, em 25 de janeiro, aniversário da cidade, teve 135 suspeitos detidos pela PM e depredações protagonizadas pelos black blocs. Um manifestante acabou baleado pelos policiais. Fabrício Proteus Nunes Mendonça Chaves foi perseguido até ser atingido no Centro da cidade. Os PMs alegaram legítima defesa e disseram que o rapaz de 22 anos tentou feri-los com estilete.

 

“Aquele menino lá [Fabrício] ele não estava com estilete só. O produto que ele e o colega dele levavam era incendiário. Eu tenho o laudo do Gate [Grupo de Ações Táticas Especiais, da PM] já pronto. O Gate e o IC [Instituto de Criminalística]. É nitrato de potássio. Então, isso é utilizado para incêndio. É um produto incendiário. Ele não é explosivo, é incendiário”, disse Meira. “Qual era o objetivo daquilo ali? Arremessar contra policiais. Arremessar contra patrimônio. Isso estava na mochila. Tinha lá na mochila, mais um estilete, uma chave grifo, dois artefatos artesanais”.

 

O G1 não conseguiu localizar o estudante para comentar o assunto. Procurado, o defensor público Carlos Weiss, afirmou que ainda não conversou com Fabrício porque ele voltou a ser internado em decorrência de infecção por conta dos tiros que levou. O defensor, no entanto, refutou as acusações de que seu o manifestante tentou agredir os policiais. “As imagens gravadas pelas câmeras de segurança mostram que ele estava parado e foi baleado duas vezes por dois policiais. Ele não queria incendiar ninguém”, disse Weiss. “Por causa dos ferimentos, ele teve infecção urinária e retornou à Santa Casa de Misericórdia”.

 

Segundo policiais, em 25 de janeiro, foram identificados cerca de 200 black blosc entre quase 2 mil manifestantes, com a presença de 1.500 PMs. Os números de policiais envolvidos na ação de sábado não foi divulgado.

 

Nesta sexta-feira (21), também está sendo marcado pela internet um sarau contra a Copa na Praça da República, a partir das 20h. “Mas o sarau tem uma outra finalidade. Uma outra proposta. Não é igual ao de sábado. Sábado tem a manifestação contra a Copa mesmo, que nós sabemos que vai ter lá ações dos grupos ligados ao black bloc. Manifestações das quais já estamos habituados”, disse Meira ao justificar porque não usará a “Tropa do Braço” nesta noite.

 

300 black blocs e Facebook

O comandante-geral da PM afirmou que seus policiais identificaram e detiveram cerca de 300 black blocs desde junho de 2013 até janeiro deste ano. As informações foram repassadas à Polícia Civil. Em outubro do ano passado, o governo paulista criou uma força-tarefa para combater os atos de vandalismo durante as manifestações. As investigações são feitas pelo Departamento de Investigações Criminais (Deic) e pelo Ministério Público.

 

De acordo com o comandante, novas medidas para a manutenção da ordem estão sendo adotadas para que os protestos de rua não surpreendam mais a polícia. Segundo ele, o Deic solicitou à Justiça a quebra dos dados sigilosos que os suspeitos têm na página do black bloc no Facebook.

 

Meira diz que haverá revistas em manifestantes suspeitos de portarem objetos que possam ser usados para praticar vandalismo. “Não vamos partir dessa premissa de que todo mascarado vai fazer isso. A pessoa mascarada, que dentro da atitude suspeita carregue dentro da mochila algum objeto que possa ser utilizado para danificar patrimônio ou possa agredir as pessoas”, disse Meira. “Haverá revistas, como sempre ocorre”.

 

Os treinamentos da “Tropa do Braço” começaram após a agressão de manifestantes ao coronel Reynaldo Simões Rossi, em outubro do ano passado durante ato contra a qualidade do transporte urbano em um terminal de ônibus no centro de São Paulo. A arma dele foi levada. De acordo com o comandante, será por esse motivo que os policiais treinados em artes marciais não estarão armados quando forem deter um manifestante.

 

Consultado pelo G1 sobre a “Tropa do Braço”, o  coronel da reserva da PM José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de segurança, comparou a estratégia como a que já vem sendo utilizada pela polícia dentro dos estádios de futebol.

 

“A corporação já possui um batalhão, com policiais treinados em artes marciais que ficam a beira do campo, desarmados, somente com uma camiseta da PM. Eles impedem invasóes ao gramado, imobilizando a pessoa”, disse o especialista. “É uma opção tática bastante engenhosa o uso de policiais desarmados treinados em artes marciais porque a polícia tem várias equipes que agem em ação de grande complexidade”.

 

G1

 

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