MT: Delegada diz que teria investigado ex-amante de Paulo Taques a pedido dele
A delegada Alessandra Saturnino afirmou, em depoimento à Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Mato Grosso, que o ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, entregou os números de telefones da ex-amante dele e ex-servidora pública, Tatiane Sangalli Padilha, da assistente dele à época, Carolina dos Santos, e do jornalista de oposição José Marcondes, o Muvuca, para serem interceptados durante a operação Forti, da Polícia Civil.
Ao G1, o advogado Paulo Taques negou a acusação e disse que as afirmações de Alessandra Saturnino são “mentiras levianas feitas para se defender de acusações que ela mesma está sofrendo”. “A Alessandra está mentindo para encobrir o crime de ‘barriga de aluguel’ cometido pela delegada Alana Cardoso e por ela mesma”, afirmou. Em junho deste ano, a delegada Alana Cardoso já havia afirmado que o número de Tatiane havia sido dado por Paulo Taques.
O depoimento de Alessandra Saturino, ao qual o G1 teve acesso, foi prestado pela delegada no dia 20 de junho e faz parte do inquérito policial aberto após a juíza Selma Arruda, da 7ª Vara Criminal, afirmar que há indícios de que escutas telefônicas foram feitas de forma clandestina durante a operação Forti, deflagrada pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) em 2015.
Na época, Saturnino era secretária-adjunta de Inteligência da Sesp e afirmou que, no final de fevereiro de 2015, se reuniu com o então secretário-adjunto de Segurança Pública, Fábio Galindo, a pedido dele. Na reunião, estaria presente o então chefe da Casa Civil, que teria relatado ter tomado conhecimento de que sua ex-amante estaria sendo recrutada pelo ex-chefe do crime organizado de Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro, preso há 14 anos.
Conforme narrou a delegada, Taques disse que Arcanjo e Tatiane estariam planejando se casar para que o ex-comendador conseguisse ser transferido do presídio em Rondônia, onde era mantido, para Mato Grosso. Atualmente, Arcanjo cumpre pena em um presídio de segurança máxima em Mossoró (RN).
“Ele também disse que a união entre Tatiane e João Arcanjo tinha o propósito de arquitetar um atentado contra a vida do governador e do próprio Paulo Taques”, disse a delegada, em trecho do depoimento.
Na ocasião, o ex-chefe da Casa Civil teria dito que teve um relacionamento extraconjugal com Tatiane e que ela não teria aceito o fim do relacionamento e “seria capaz de tudo aquilo pois estava com muita raiva dele”. Em nota enviada à imprensa, Tatiana confirmou que teve um relacionamento amoroso com Taques entre 2009 e 2015.
De acordo com a delegada, Taques ainda citou que informações estariam sendo vazadas do gabinete dele e da sala do governador e que desconfiava que a ex-amante estaria contando com a ajuda da assistente dele, que seria amiga de Tatiane. As informações, segundo teria dito o ex-secretário, seriam repassadas ao jornalista Muvuca.
No depoimento, Saturnino diz que Paulo Taques entregou a ela um papel com os números de telefones dos três para serem investigados, mas que o ex-secretário não conseguiu explicar qual a relação entre o jornalista, a possível transferência de Arcanjo e um ataque ao governador do estado. De acordo com a delegada, o número de Muvuca, então, foi descartado da investigação.
“O Paulo Taques lhe disse que tinha recebido aquela grave denúncia de um órgão federal, pois ele dizia que o governador, apesar de ter deixado o cargo de procurador da República, ainda gozava de grande prestígio perante seus antigos pares, dando a entender que aquela informação teria vindo da Procuradoria da República ou da Polícia Federal”, diz trecho do depoimento da delegada.
Investigação
Segundo a delegada, diante das informações recebidas, ela acionou a então diretora de Inteligência da Polícia Civil, Alana Cardoso, e que elas concordaram que a possível transferência de Arcanjo para o sistema prisional estadual estava em consonância com as investigações realizadas dentro da operação Forti, que apurava a existência “escritórios de crimes” dentro de unidades prisionais, com o intuito de promoverem crimes como tráfico de drogas e homicídios.
Assim, os nomes de Tatiane e Carolina foram inseridos em uma representação por interceptação telefônica da operação, sendo que as duas tiveram as conversas acompanhadas em um anexo chamado de “pequi”, dentro da operação já em andamento. Conforme Saturnino, todos os equipamentos utilizados foram oficiais e o responsável pelo monitoramento das duas interceptadas relatou à delegada que nada relevante havia sido detectado nas conversas.
Paulo Taques negou ter entregado números de telefones para serem interceptados pela Polícia Civil (Foto: José Medeiros/ Gcom-MT)
Ao ser novamente procurada por Taques, que teria passado novas informações a respeito das supostas ameaças à integridade moral do governador e à dele, Saturnino disse então que ele deveria procurar o então chefe da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), Flávio Stringueta, que iria presidir a investigação, batizada de Operação Querubim.
O inquérito foi conduzido por Stringueta entre março e julho de 2015 e foi arquivado por falta de provas. Ao final da operação, restou comprovado que o objetivo da mulher seria perturbar o casamento do ex-chefe da Casa Civil, segundo o delegado.
De acordo com Alessandra Saturnino, todas as interceptações foram feitas dentro da legalidade e em momento algum houve a intenção de induzir o Judiciário ao erro. Além disso, a delegada afirmou que o teor das conversas interceptadas não foi repassado ao ex-chefe da Casa Civil e tampouco o governador Pedro Taques entrou em contato com ela.
Outro lado
Por telefone, Paulo Taques negou as afirmações feitas por Alessandra Saturnino no depoimento., Segundo Taques, ele participou de uma reunião com a delegada após narrar ao então secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, que desconfiava de que a sua assistente estaria vazando informações da agenda dele e do governador.
“Eu narrei isso na frente do governador. O comportamento da minha assistente estava muito estranho. O secretário disse, então, que ia tomar providências, porque envolvia o governador e a Casa Civil”, afirmou.
Segundo Taques, dias depois a delegada entrou em contato com ele e solicitou que ele comparecesse ao prédio da Sesp, pois Zaque teria pedido à ela para atendê-lo. Na reunião, ele teria novamente narrado a sua desconfiaça a respeito do vazamento de informações de seu gabinete. No entanto, o advogado nega que tenha solicitado a realização de interceptações telefônicas ou investigações.
“Depois, ela me pediu, e eu enviei, as fichas funcionais da minha assistente e da Tatiana. Não pedi investigação alguma e só fiquei sabendo do inquérito no final. Não falei sobre atentado algum. Ela [Tatiana] não tem condições de fazer atentado contra ninguém”, disse.
G1
DELEGADOS.com.br
Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados