“Então me retira”, desafiou defensor, que saiu gritando “palhaço” para a testemunha da Polícia Civil
O segundo dia de júri do Caso Becker, nesta quarta-feira (28), consegue ser mais tenso que o primeiro. Por volta das 17 horas, descambou para gritaria e ofensas quando o advogado Jean Severo fazia perguntas ao delegado Gustavo Fleury, ouvido como testemunha de acusação. Procuradores do Ministério Público Federal (MPF), ao fundo, chamavam a atenção do defensor.
O juiz da 11ª Vara Federal de Porto Alegre, Roberto Schaan Ferreira, suspendeu a sessão e ameaçou retirar Severo.
O estresse, que aumentava a cada indagação, chegou ao ápice no momento em que Severo, defensor do réu Juraci Oliveira da Silva, o Jura, veio com uma nova introdução:
Severo – Agora vem a pergunta pra cair os butiás do bolso: Por que o senhor não pediu para a Vivo essas mensagens?
Fleury – Quais mensagens, doutor?
Severo – Que eles trocavam.
Fleury – Não tem como pedir mensagem pretérita, doutor.
E o bate-boca sai do controle:
Severo – Deixou passar o prazo!
Fleury – Não deixamos passar, não. Se o senhor vai gritar, eu também vou!
Severo – O senhor tá passando a conversa aqui.
“É inadmissível. O defensor está discutindo com a testemunha”, bradam, ao fundo, procuradores.
Severo – Tocar na ferida dói. Colocaram um inocente ali.
Fleury – Não tem como buscar. Só se tiver interceptação telefônica em andamento.
O juiz tenta apartar, mas a gritaria prossegue. O magistrado, então, intervém de forma enérgica:
Ferreira – “Suspensa a sessão e o doutor jean encerrou sua inquirição”
Severo – “Não”
Ferreira – Ou o senhor vai ser retirado
Severo – Então me retira. Porque eu estou trabalhando
Ferreira – O senhor não está trabalhando
Severo – Estou trabalhando sim. A testemunha que ficou nervosinha.
Ferreira – Suspensa a sessão.
Severo – Que palhaço, que palhaço!
Mais de meia horas depois, o júri é retomado com uma introdução do juiz. “Tive conversas em apartado com as defesas e o Ministério Público, e todos nos convencemos que precisamos diminuir a tensão. Estamos recém na fase de inquirição de testemunhas. Precisamos seguir em tom mais sereno. Vamos tentar continuar dessa forma, para não tomar medidas mais drásticas.”
E Severo volta a fazer perguntas a Fleury. Chega perto do delegado, mostra parte do processo e faz novas indagações. O bloco, em tom ameno, logo termina. O defensor pede desculpas. A testemunha também.
Severo – Tudo de bom para o senhor
Fleury – Da mesma forma.
Segunda testemunha ouvida no júri, o delegado, que era escrivão de Polícia na época do crime, seguiu sendo indagado pelos advogados dos quatro réus. O depoimento dele, iniciado por volta das 10h30, deve ser mais duradouro que o da primeira. Na terça, o delegado Rodrigo Bozzetto, que chefiou a investigação, foi ouvido por mais de oito horas, também com momentos de discussão com defensores.
NH
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