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‘Ai se eu te pego’, literalmente uma música de matar

por Editoria Delegados

O brasileiro Hemerson Pereira Fortkamp, 30 anos, foi espancado e morto na saída de uma casa noturna, em Lisboa – Portugal no dia 30 de janeiro.

 

Segundo informações preliminares, o fato ocorreu porque o brasileiro “assediava” uma jovem portuguesa cantando a música “Ai se eu te pego” do Michel Teló.

 

O caso está sendo investigado pela polícia portuguesa, mas até agora (parafraseando o bordão da imprensa policial): ninguém foi preso.

 

De uma hora para outra essa música tornou-se “hit mundial”, cantada por celebridades e não celebridades.

 

O que causa espanto é que a qualidade da letra é tão ruim quanto a música, sequer há espaço para uma análise melódica e poética sérias.

 

Já há muito tempo que a música popular brasileira vem perdendo espaço para o gênero chamado “universitário” (que diga-se de universitário só tem o nome) por motivos óbvios de marketing, infelizmente tem dado certo, em outros tempos diria que nossa cultura encontrou nesse “hit” (na verdade ele é apenas emblemático existem outros no mesmo nível) o fundo do poço, hoje estou convicto de que o poço não tem fundo.

 

É claro que o nosso conterrâneo Michel Teló não tem nenhuma culpa na tragédia ocorrida, mas ninguém pode negar que existe um liame objetivo entre a música e a morte do brasileiro.

 

Talvez Hemerson não tenha visto nenhum mal na música, porque para nós  já é “normal” crianças dançarem libidinosamente na TV, gestos obscenos acompanharem coreografias como na própria “ai se eu te pego”, boquinha da garrafa e por aí vai, acontece que na Europa as coisas são “um pouquinho” diferentes, lá eles também tem “lixo”, mas ainda não chegaram no “nosso nível”, ao menos no ponto da massificação atual onde praticamente “tudo é normal” principalmente aquilo que envolve sexo.

 

Essa música foi (e está sendo)  uma fenomenal propaganda em escala planetária do “turismo sexual” no Brasil, a letra e o gesto não deixam dúvidas.

Sim outros países também tem esse tipo de “turismo”, mas essa ênfase é “privilégio” nosso.

 

O “politicamente correto” está chegando a níveis tais de devaneios, que moralismo virou sinônimo de intolerância e radicalismo, já o “ser liberal” quer significar “cabeça aberta” para tudo, inclusive para a mediocridade da arte musical, que concretiza um verdadeiro “atentado” aos nossos valores e um acinte aos compositores talentosos.

 

Evidente que tudo isso não justifica a morte de Hemerson, mas de alguma forma explica e contextualiza o fato.
“Ai se eu te pego” é o coroamento de um dos períodos mais pobres na produção musical brasileira, e o pior de tudo: reflete o “nosso” gosto e cultura.

 

Para quem já produziu Garota de Ipanema e outras obras-primas só resta uma esperança: que o calendário maia esteja certo.

 

Sobre o autor

 

Rogério Antônio Lopes
É Delegado de Polícia no Paraná

DELEGADOS.com.br
Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados

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