O silêncio dos policiais que desistem de viver

No Brasil, há uma realidade que raramente ganha espaço no debate público. Mais policiais morrem por suicídio do que em confrontos armados, seja durante o serviço ou nos dias de folga. Para muitos, o maior perigo não está nas ruas, mas dentro deles mesmos. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024), a principal causa […]

Por Editoria Delegados

No Brasil, há uma realidade que raramente ganha espaço no debate público. Mais policiais morrem por suicídio do que em confrontos armados, seja durante o serviço ou nos dias de folga. Para muitos, o maior perigo não está nas ruas, mas dentro deles mesmos. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024), a principal causa de morte entre policiais não é a violência que enfrentam externamente, mas aquela que se acumula em silêncio no peito até se tornar insuportável.
Apesar dessa realidade brutal, o tema segue negligenciado pelo poder público e subestimado pelas próprias instituições. O suicídio policial continua sendo tratado como um caso isolado, e não como sintoma de um sistema que adoece seus integrantes de forma estrutural e constante.
A carreira policial é, por natureza, estressante e emocionalmente desgastante. Exposição constante à violência, longas jornadas de trabalho, ameaças, risco de morte e o desprezo de uma sociedade que exige muito, mas pouco reconhece, moldam a trajetória mental de quem veste a farda ou distintivo.
Há, ainda, um peso mais insidioso: a cultura de invulnerabilidade imposta pelas instituições. Desde o início da formação, o policial é ensinado a resistir a tudo — dor, frio, fome, medo — sem jamais demonstrar fragilidade. O mito do “herói indestrutível” sufoca qualquer tentativa de acolhimento ou cuidado com a saúde mental. Falar sobre sofrimento ainda é visto como sinal de fraqueza.
Essa cultura se agrava em estruturas hierárquicas rígidas, onde o medo de punição, rebaixamento ou desqualificação impede o profissional de pedir ajuda. O resultado é previsível: traumas silenciados, sinais de esgotamento e, muitas vezes, explosões. Contra si ou contra os que estão ao redor.
A violência institucional não está apenas nas ruas. Dentro das corporações, muitos policiais enfrentam assédio moral, humilhações de superiores, transferências arbitrárias e perseguições disfarçadas de correções disciplinares. A instabilidade das escalas, a ausência de critérios objetivos para promoções e a falta de perspectiva de crescimento alimentam a desesperança.
Há também o fator financeiro. Baixos salários fazem com que muitos policiais façam bicos nos dias de folga para complementar a renda, aumentando o desgaste físico e mental. Lazer torna-se privilégio, e convívio familiar, exceção. Nesse ciclo, corpo e mente se esgotam, sem chance de recuperação.
Além disso, dívidas crescentes, uso abusivo de álcool, dependência de medicamentos e acesso facilitado a armas tornam qualquer crise emocional uma tragédia anunciada.
A rede de apoio psicológico é quase inexistente. Quando há atendimento, costuma ser pontual, sem continuidade, e realizado por profissionais que muitas vezes não têm formação específica em saúde mental ocupacional ou traumas complexos.
A ausência de dados confiáveis sobre tentativas de suicídio agrava o problema. As instituições policiais têm estruturas fechadas e pouca transparência. Não há protocolos padronizados de acompanhamento psicológico nem diretrizes claras de prevenção. A cifra negra é regra, não exceção.
E o mais alarmante: muitas vezes, as próprias chefias são orientadas a tratar os casos com discrição excessiva — o que perpetua o estigma, apaga as estatísticas e impede a construção de políticas públicas eficazes.
Romper o ciclo de silêncio é urgente. Não se trata apenas de implementar “programas de apoio psicológico”, mas de reformular a lógica de cuidado nas forças de segurança. É necessário:
• Núcleos permanentes e independentes de saúde mental, com atendimento contínuo e sigiloso;
• Protocolos institucionais claros de prevenção ao suicídio;
• Formação de gestores para identificar sinais de sofrimento e agir com empatia;
• Campanhas internas que promovam o cuidado como sinal de força — não de fraqueza;
• Revisão de escalas, plantões e políticas de promoção, valorizando o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Cuidar de quem cuida é a escolha de reconhecer que nenhuma instituição sobrevive sem humanidade. Investir na saúde mental dos policiais vai além de garantir segurança pública – é afirmar que toda vida tem valor, inclusive a daqueles que dedicam a própria vida para proteger as outras.
Porque, antes de qualquer farda ou distintivo, existe um ser humano que precisa continuar existindo. E ninguém deveria caminhar sozinho pelo próprio abismo.

Sobre a autora

Raquel Gallinati é Delegada de Polícia, Mestre em Filosofia (PUC-SP), Diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil
DELEGADOS
Portal Nacional dos Delegados

Veja mais

Jair Paiva segue, pela 3ª vez seguida, na Lista dos Melhores Delegados de Polícia do Brasil! Censo 2025

A escolha dos melhores delegados consolida, para sempre, os nomes e as histórias dos delegados e das delegadas. Promove valorização do cargo, reconhecimento na carreira, identificação de competência, visibilidade dos

Marcos Affonso segue, pela 2ª vez seguida, na Lista dos Melhores Delegados de Polícia do Brasil! Censo 2025

A escolha dos melhores delegados consolida, para sempre, os nomes e as histórias dos delegados e das delegadas. Promove valorização do cargo, reconhecimento na carreira, identificação de competência, visibilidade dos

A queda drástica dos índices de roubo no Amapá!

(AP) Os dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) demonstram uma trajetória de sucesso no combate à criminalidade no Estado do Amapá

TRE-PB e TJ-PB aplaudem Jean Nunes após eleição à presidência do Conselho Nacional de Secretários de Segurança

(PB) Presidência nacional do CONSESP coloca Jean Nunes sob reconhecimento institucional na Paraíba

Bruna Verena segue, pela 3ª vez, na Lista das Melhores Delegadas de Polícia do Brasil! Censo 2025

A escolha dos melhores delegados consolida, para sempre, os nomes e as histórias dos delegados e das delegadas. Promove valorização do cargo, reconhecimento na carreira, identificação de competência, visibilidade dos

Walter Cunha entra na Lista dos Melhores Delegados de Polícia do Brasil! Censo 2025

A escolha dos melhores delegados consolida, para sempre, os nomes e as histórias dos delegados e das delegadas. Promove valorização do cargo, reconhecimento na carreira, identificação de competência, visibilidade dos

Novos delegados recebem 80% Off na Assinatura Premium Anual!

Para os novos delegados nomeados em 2023, 2024 e 2025. A promoção simboliza não apenas economia, mas sobretudo a oportunidade de iniciar sua trajetória com recursos de alto nível, essenciais
Veja mais

Delegado que perdeu a perna após tiro é homenageado: “Herói Nacional”. Veja vídeo

12DEZ25 - RJ DELEGADO PERNA
(RJ) Bernardo Leal é lotado na Delegacia de Repressão a Entorpecentes e foi vítima de um tiro, que atravessou sua veia femoral

Coleta de material biológico para obter e armazenar perfil genético de custodiado; requisição usada pelo delegado

Requerimento inadequado de coleta de material biológico para obtenção e armazenamento do perfil genético de custodiado poderá ensejar indeferimento pelo juiz

Prisão preventiva com a Lei 15.272 de 2025; novo modelo de representação do delegado de polícia

Pedido inadequado de prisão preventiva poderá acarretar indeferimento pelo juiz. O delegado de polícia precisa produzir a representação por preventiva nos moldes da nova legislação que alterou o Código de

Confraternização do Sindepol Piauí reúne delegados e familiares em celebração marcada por união e valorização da categoria

11DEZ25- SINDEPOL
(PI) O encontro proporcionou um ambiente descontraído, mas também reforçou a importância da união entre os delegados e suas famílias, essenciais para a sustentação emocional e profissional da carreira policial

Sérgio Alencar entra na Lista dos Melhores Delegados de Polícia do Brasil! Censo 2025

POST-MELHORES-DELEGADOS-2025- SÉRGIO ALENCAR
A escolha dos melhores delegados consolida, para sempre, os nomes e as histórias dos delegados e das delegadas. Promove valorização do cargo, reconhecimento na carreira, identificação de competência, visibilidade dos

Delegado se torna ‘articulador’ da conversão da prisão em flagrante em preventiva

10DEZ25- PREVENTIVA
A nova lei evidencia algo que sempre esteve implícito, mas raramente reconhecido: a capacidade do Ministério Público e do Judiciário de agir com precisão depende diretamente da qualidade do que

Jean Nunes assume comando do CONSESP e projeta a Paraíba ao centro das decisões da segurança pública nacional

10DEZ25- JEAN NUNES
Jean Nunes assume presidência do Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública e fortalece reconhecimento nacional desenvolvido na Paraíba
Veja mais

Não é possível copiar este conteúdo.

Fique entre os melhores e faça parte do Maior Portal Jurídico Policial do Brasil!

Acesse agora o conteúdo exclusivo, durante 7 dias, por apenas R$ 2,90!