Ex-PM que “enrolou” caveiras do Bope em pirâmide foge para Europa com R$ 30 milhões

A Polícia Civil do Rio de Janeiro desencadeou ontem (15/5) a Operação Traidor para desmantelar uma pirâmide financeira que captava recursos de policiais militares e civis mediante promessa de dividendos mensais de 5 % sobre o capital aplicado. O principal

Por Editoria Delegados

A Polícia Civil do Rio de Janeiro desencadeou ontem (15/5) a Operação Traidor para desmantelar uma pirâmide financeira que captava recursos de policiais militares e civis mediante promessa de dividendos mensais de 5 % sobre o capital aplicado. O principal investigado, o ex-soldado Djair Oliveira de Araújo, já havia deixado o país, possivelmente rumo a Londres, antes do cumprimento dos mandados.

Segundo a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, Djair utilizou a reputação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) para conferir credibilidade às ofertas. Ele estampava o emblema “faca na caveira” em vídeos de redes sociais e exibia carros de luxo, jantares exclusivos e viagens internacionais para atrair colegas de farda.

As investigações apontam que o golpe movimentou cerca de R$ 30 milhões em quatro anos. Um único engenheiro civil aportou R$ 595 mil; um ex-policial militar, R$ 330 mil. Ambos foram bloqueados pelo “trader” após tentarem resgatar o principal investido.

Para engajar investidores, Djair criou a empresa Dektos e o projeto “Trade in Flow”, oferecendo suposta mesa proprietária com operações nacionais e internacionais. Não havia, porém, registro da empresa como gestora ou consultora de valores mobiliários na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A CVM confirma que a oferta pública de investimentos sem registro infringe a Resolução 160/22 e pode caracterizar crime previsto no art. 7º, inciso II, da Lei 7.492/86 (gestão fraudulenta).

Atraídos pela promessa de ganhos “sem risco”, dezenas de militares contraíram empréstimos consignados e venderam imóveis para investir entre R$ 300 mil e R$ 500 mil cada.

O esquema colapsou no início de 2025, quando os saques mensais passaram a atrasar e, em seguida, cessaram. Vítimas abriram nove Boletins de Ocorrência em delegacias do Rio.

A 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) e a Delegacia do Consumidor requisitaram bloqueio judicial de R$ 698 mil em contas ligadas ao ex-PM, valor insuficiente para cobrir o passivo estimado.

Relatos colhidos pela reportagem indicam que parte do dinheiro teria financiado a campanha eleitoral de aliados de Djair em 2024, hipótese investigada pelo Ministério Público Eleitoral.

Além de contas bancárias convencionais, o investigado converteu quantias relevantes em criptomoedas, utilizando exchanges estrangeiras, prática que dificulta o rastreamento. A Lei 14.478/22, contudo, passou a prever sanções penais específicas para fraude com ativos virtuais e incluiu as corretoras no rol da Lei de Lavagem de Dinheiro.

A cooperação internacional será conduzida pela divisão de Interpol da Polícia Federal. Já houve solicitação de difusão vermelha para inserção do nome de Djair nos sistemas de alerta de 196 países.

Especialistas consultados alertam que a pirâmide financeira mudou de feição: sai o “boi gordo” dos anos 1990 e entram mesas de day trade, arbitragem de criptoativos e fundos exóticos não supervisionados.

O economista Luiz Ribas, da FGV, lembra que qualquer promessa de rendimento fixo acima da Selic (hoje em 9 % a.a.) deve ser vista com ceticismo. “O mercado não entrega 60 % ao ano sem alavancagem extrema”, afirma.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) orienta vítimas a registrarem ocorrência e entregarem comprovantes de TED, PIX, contratos, capturas de tela e históricos de mensagens. Esses materiais são essenciais para o pedido de bloqueio via Sisbajud.

A Polícia Civil fluminense prossegue com diligências para apreender bens de luxo do ex-soldado — incluindo um Lamborghini avaliado em R$ 3 milhões — e restituir parte dos prejuízos às vítimas.

Caso seja processado no Brasil, Djair poderá responder por estelionato qualificado (art. 171 §2º-V CP), crime contra o sistema financeiro (Lei 7.492/86), crime contra a economia popular (Lei 1.521/51) e lavagem de capitais (Lei 9.613/98), com penas que, somadas, superam 20 anos de reclusão.

A sociedade civil, por sua vez, cobra reforço da educação financeira e maior rigor da CVM na fiscalização de influenciadores de investimentos, setor que deverá ser regulado por instrução normativa ainda em 2025.

Golpe do falso investidor: identificação de criminosos e proteção de vítimas

Conteúdo exclusivo para assinantes! Faça login para acessar o conteúdo completo ou clique AQUI e assine já!

 

Clique na caixa "Não sou um robô"

® Todos os direitos reservados. O conteúdo disponibilizado aos assinantes pertence à política de direitos autorais para uso único, individual e exclusivo, não havendo permissão para sua divulgação em qualquer outro meio de comunicação sem autorização da Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados. Logo, é proibida a impressão ou transmissão por broadcast, reescrição ou redistribuição sem prévia autorização por qualquer meio, inclusive reenvio de material através de e-mail. (Art. 184 do Código Penal; art. 29, I, da Lei Ordinária Federal 9.610/98; arts. 183 a 195, da Lei 9.279/96).
DELEGADOS
Portal Nacional dos Delegados

Veja mais

Delegada não pode ser investigada por desclassificar tráfico de drogas para porte, decide juíza

Judiciário afirma que a decisão da autoridade policial foi devidamente justificada, respaldada por fundamentos legais, e não evidenciou qualquer desvio funcional

Homem é morto após ser flagrado com esposa de amigo e debochar da traição

(MT) Polícia Civil apurou que a médica foi ao hospital onde a vítima estava internada e apagou evidências. Ivan Bonotto foi esfaqueado e morreu

Governador do PI anuncia nomeação de 660 policiais militares e concurso para as polícias

(PI) Rafael Fonteles também confirmou um novo concurso para ingresso na corporação, em 2026, com previsão de mil vagas

Piauí anuncia instalação de 1.200 câmeras inteligentes para segurança pública

SPIA: Novo sistema de videomonitoramento com inteligência artificial será lançado por Rafael Fonteles em 16 de agosto O secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas, anunciou, nesta terça-feira (15),

Delegado é assassinado, mas na audiência de custódia a preocupação é se o assassino foi agredido

O delegado Márcio Mendes, da Polícia Civil do Maranhão, foi assassinado no dia 10 de julho de 2025 durante o cumprimento de um mandado de prisão. Dois policiais civis baleados.

Adepol MA apresenta Carta Aberta à Sociedade Maranhense e ao Governo do Estado

ADEPOL-MA: CARTA ABERTA À SOCIEDADE MARANHENSE E AO GOVERNO DO ESTADO Diante do brutal assassinato do delegado Márcio Mendes, ocorrido durante o exercício de suas funções na zona rural de

Delegado Márcio Mendes é morto a tiros durante operação no Maranhão

Caxias (MA), 11 de julho de 2025 – Uma operação policial na manhã desta quinta-feira (10), na zona rural de Caxias, terminou de forma trágica com a morte do delegado

Veja mais
09JUL25-RAQUEL-2

No Brasil, há uma realidade que raramente ganha espaço no debate público. Mais policiais morrem por suicídio do que em confrontos armados, seja durante o serviço ou nos dias de

Brasília (DF) – O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) publicou, no Diário Oficial da União desta segunda-feira (30), a Portaria nº 961, datada de 24 de junho de

Pix, gatonet e facções criminosas estão entre os principais alvos do megapacote de combate à criminalidade que será apresentado por secretários estaduais de segurança pública nesta semana, durante a I

POST-MELHORES-DELEGADOS-2025-RUCHESTER-MARREIROS

Ruchester Marreiros Barbosa foi aluno do doutorado em Direitos Humanos da Universidad Nacional Lomas de Zamora, Argentina, foi aluno do mestrado em Criminologia e Processo Penal da Universidade Cândido Mendes,

Thiago Frederico de Souza Costa é Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), de Classe Especial. É graduado em Direito e pós-graduado em Altos Estudos em Defesa, pela Escola

Foi sancionada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), a Lei nº 10.845/25, que autoriza o Poder Executivo a oferecer, de forma gratuita, serviços de assistência médica e

Paraíba foi classificada como o estado mais seguro do Nordeste e o sétimo mais seguro de todo o Brasil, em relação ao volume proporcional de roubos praticados em cada unidade

Veja mais