DF: Ex-diretor de comunicação disse que crianças ‘pagam caro por rodízio de padrastos’
Diretor de Comunicação da Polícia Civil do DF é exonerado após polêmica sobre estupro
Exonerado nesta terça-feira (16), o ex-diretor de comunicação da Polícia Civil do Distrito Federal Miguel Lucena Filho disse que mantém as declarações polêmicas que lhe custaram o cargo. Em um grupo de mensagens, nesta segunda (15), o delegado disse que as mães têm responsabilidade em casos de estupro de crianças.
“Eu mantenho o que disse, eu acho que as pessoas precisam se ‘acautelar’ e não levar para dentro de casa, o primeiro que conhece no boteco, sem saber de quem se trata, sem saber a origem”, afirmou, em entrevista à TV Globo (veja vídeo acima).
As mensagens foram publicadas por Lucena em um grupo de WhatsApp, usado pela Polícia Civil para transmitir informações à imprensa. Ao comentar o caso de uma menina de 11 anos, estuprada dentro de casa pelo ex-namorado da mãe – que arrombou uma janela para invadir a casa –, o delegado afirmou que as crianças estariam “pagando caro pelo rodízio de padrastos”.
“Quando se tem filho, é preciso ter cuidado com quem se leva para dentro de casa […] A vítima é a criança, a mãe, às vezes, é corresponsável e cúmplice”, disse, em uma sequência de mensagens. Os comentários geraram revolta das jornalistas que compunham o grupo. Exonerado da direção de comunicação, Miguel Lucena permanece delegado da Polícia Civil.
Discussão em grupo de mensagens da Polícia Civil do DF; texto grifado é de diretor de comunicação da corporação (Foto: WhatsApp/Reprodução)
Em nota, o Palácio do Buriti informou que “os comentários feitos pelo delegado em grupo de WhatsApp não representam a opinião da corporação”. A exoneração foi publicada no Diário Oficial nesta terça (16). Quem assume interinamente é a agente Joseane Oliveira.
Outra visão
A delegada-chefe da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher do DF, Sandra Gomes Melo, comentou o caso em nome da corporação. Segundo ela, a exoneração foi uma decisão técnica.
“É certo que as mulheres, quando se relacionam, estão partindo do princípio que as pessoas são boas, que são pessoas do bem. Não passa pela cabeça de uma mulher ou de uma vítima que ela vai ter essa confiança abalada. Então, a gente tem que estar muito mais preocupado com o que o autor, ou autora, fez, do que com o comportamento da vítima”.
Só no mês de abril, a Secretaria de Segurança Pública do DF contabilizou 46 casos de estupro de vulnerável. O termo se aplica aos casos em que a vítima tem menos de 14 anos, ou alguma deficiência mental, ou está impedida de responder pelo próprio corpo – embriagada ou dopada, por exemplo.
De acordo com os dados do governo do DF, 84% dos casos aconteceram na própria casa da vítima ou do autor. De todos os estupros de vulnerável, 55% foram cometidos por parentes, 36% por amigos ou conhecidos, e apenas 9%, por desconhecidos.
O estupro
A ocorrência foi registrada pela mãe da criança de 11 anos no início da manhã desta segunda, logo após o crime. Em depoimento à polícia, a mulher diz que chegou em casa por volta das 6h30, e ouviu um relato detalhado do estupro feito pela própria filha.
O corpo da criança tinha sinais de violência, e a janela dos fundos da casa foi arrombada pelo agressor. Além do estupro, o suspeito teria ameaçado a criança e o irmão menor de morte, caso algum deles denunciasse o crime.
Acompanhada da mãe, a menina prestou depoimento à Polícia Civil e foi encaminhada ao IML, para exame de corpo de delito, e ao hospital para os procedimentos de rotina.
Veja o vídeo!
G1
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