Comandante diz que PMs do DF não são violentos como no RJ e em SP

  O comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, Anderson Moura, disse ao G1 não acreditar no envolvimento de PMs na morte do auxiliar de serviços gerais Antônio de Araújo, visto vivo pela última vez ao ser detido por policiais

Por Editoria Delegados

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O comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, Anderson Moura, disse ao G1 não acreditar no envolvimento de PMs na morte do auxiliar de serviços gerais Antônio de Araújo, visto vivo pela última vez ao ser detido por policiais e levado a uma delegacia da capital federal, em maio de 2012. “Esse tipo de coisa não é comum na nossa polícia, é comum no Rio de Janeiro e em São Paulo, não aqui. Aqui nós não temos esse tipo de coisa, graças a Deus.”

 

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, não quis comentar a declaração do comandante da PM. O G1 procurou a pasta em São Paulo, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

 

Araújo foi detido no dia 27 de maio do ano passado por seis policiais militares por suposta tentativa de entrar na chácara de um sargento da PM, em Planaltina. Segundo a polícia, após ter a ficha consultada – que mostrou que ele nunca teve passagens criminais –, o auxiliar de serviços gerais de 32 anos foi liberado, mas nunca mais foi visto com vida. A ossada dele foi encontrada seis meses depois, em uma área de cerrado, também em Planaltina

 

Esse tipo de coisa não é comum na nossa polícia, é comum no Rio de Janeiro e em São Paulo, não aqui. Aqui nós não temos esse tipo de coisa, graças a Deus.” Afirma o comandante-geral da Polícia Militar, Anderson Moura

 

“Ele foi encontrado, não estava enterrado no local, estava na flor da terra. Não é o comum. Se o policial mata alguém, o natural é que depois ele faça a ocultação do cadáver. Não teve isso”, disse. “Espero que a causa mortis chegue efetivamente para dizer se foi causa natural, se foi outro problema, ou se foi homicídio. Se foi homicídio, espero que se tenha condições de chegar à autoria”, disse Moura.

 

O comandante disse não achar estranho que Pereira tenha desaparecido após ser levado por policiais militares. “Não tem nenhum problema, é uma atividade normal”, disse. “O estranho é saber qual a motivação. Isso acontece todo dia. Toda hora a PM conduz alguém que está perturbando a ordem pública para a delegacia.”

 

Apesar de dizer que não acredita no envolvimento de integrantes da tropa na morte de Araújo, o comandante da PM afirmou que se ficar comprovado que houve crime com a participação de policiais, eles serão punidos. “Se for um policial militar, vamos tomar todas as providências necessárias porque tem que extirpar, não é valor nosso, não é o que a gente prega”, disse.

 

A investigação do caso corre em segredo de Justiça. A corregedoria da PM não dá detalhes da investigação, que só teve início três meses após o desaparecimento de Araújo, por pressão da família. O caso já mobilizou a Comissão de Direitos da Ordem dos Advogados do Brasil e da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal.

 

‘Zé

 

O secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública do DF, Paulo Roberto Batista de Oliveira, afirmou ao G1 não parecer ‘lógico’ que policiais militares tenham sido responsáveis pelo sumiço e morte de Pereira.

 

“Tenho oito anos de Corregedoria e investiguei muitos PMs. Não me parece lógico, não estou dizendo que não ocorreu, que oito policiais tenham matado um ‘zé’ porque ele entrou na casa do cara”, disse.

 

O irmão do auxiliar, Silvestre Araújo, demonstrou indignação com o fato do irmão ter sido chamado de “zé”. “Eles acharam que mataram um ‘zé’ e que ninguém ia atrás do ‘zé’. Mas atrás desse zé tinha alguém”, disse. “Como pode chamar meu irmão de zé? Matou meu zé, e meu zé tinha dono e agora a polícia vai ter que dar explicação para a população.”

 

O secretário-adjunto refuta semelhanças entre o caso de Araújo e o do pedreiro Amarildo, no Rio de Janeiro, que sumiu após ser detido por policiais, em fevereiro do ano passado. “O Amarildo foi tirado de casa, levado para o posto de polícia, saíram com ele passeando, deram porrada e não sei o quê”, disse. “Nesse caso do Antônio não teve briga, não teve porrada, não teve nada. E ainda o cara que conhecia ele foi na família avisar: ‘Seu irmão está na delegacia, tentou invadir uma chácara”, disse. “Se [um PM] matou o cara, ele vai na casa dele avisar que prendeu o cara?”

 

Como pode chamar meu irmão de zé? Matou meu zé, e meu zé tinha dono e agora a polícia vai ter que dar explicação para a população”

“Não digo que foi e não digo que não foi [um crime cometido por policiais]. Na minha visão de 30 anos, acho difícil. É um caso muito estranho. Foge da lógica.”

 

O irmão mais velho do auxiliar de serviços gerais disse que a família foi avisada por um policial miltar sobre a prisão do irmão no dia seguinte à abordagem. Ele acredita, no entanto, que foi informado apenas como uma forma de “despistar”.

 

O diretor-geral da Polícia Civil do DF, Jorge Xavier, afirmou ao G1 que os policiais militares foram as últimas pessoas a ter contato com o auxiliar de serviços gerais. “Não há dúvidas sobre quem foram as últimas pessoas a ter contato com Antônio”, disse. “E o policial civil que atendeu no balcão”, acrescentou.

 

O diretor afirmou que não vai haver corporativismo na investigação. “A gente precisa produzir prova robusta sobre o que aconteceu. A gente não é pago para castigar ninguém, é pago para apurar a verdade”, disse. “É o que vamos fazer quando o laudo estiver pronto.”

 

Até a confirmação da identidade dos restos mortais, o caso era investigado pela Divisão de Repressão a Sequestro (DRS) e era tratado como abandono do lar. No dia 2 de dezembro, após a confirmação de que a ossada pertencia a Araújo, a investigação passou a ser de responsabilidade da Coordenação de Crimes contra a Vida (Corvida). Desde então os restos mortais estão passando por perícia no Instituto Médico Legal (IML) para determinar a causa da morte.

 

“[O resultado] está demorando porque estão trabalhando em uma ossada. São os melhores peritos que existem para isso, antropologistas forenses, para chegar ao que exatamente aconteceu ali”, disse.

 

A família sempre tentou provar que não havia ocorrido abandono do lar. “Toda vida nós da família falamos que ele estava morto porque sabíamos que ele não se afastaria de nós. Ele foi tratado como andarilho. Só porque era pobre? Todo pobre é andarilho?”, falou o irmão, Silvestre de Araújo.

 

Em agosto do ano passado, cerca de vinte familiares e amigos do auxiliar fizeram uma passeata entre a Granja do Torto e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Os participantes marcharam durante 13 quilômetros com faixas e cartazes, com o intuito de sensibilizar as autoridades para o caso.

 

Investigação

A família registrou o desaparecimento do auxiliar de serviços gerais no dia 27 de maio. O inquérito na 31ª DP, que inicialmente cuidou do caso, só foi aberto no dia 16 de julho. A investigação foi para a Divisão de Repressão a Sequestro (DRS) no dia 5 de agosto.

 

Em 26 de agosto, mais de 90 dias depois do desaparecimento, a Polícia Militar também instaurou inquérito para investigar se os dois sargentos e quatro cabos envolvidos na abordagem a Araújo cometeram algum tipo crime. O caso foi remetido à Justiça no dia 25 de outubro, com pedido de retorno e sem conclusão.

 

Na Corvida desde dezembro, a investigação está sob segredo de Justiça. O diretor da Polícia Civil explicou que o sigilo foi solicitado pela juíza da Vara Criminal de Planaltina, antes de a ossada ser encontrada. Por causa da restrição, ainda não há informações sobre a análise do caso e os possíveis responsáveis pelo crime, se houver confirmação do homicídio.

 

G1

 

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