Polícia Militar não pode pedir busca e apreensão, afirma CNJ

CNJ reafirma que apenas a Polícia Civil e a Polícia Federal podem conduzir investigações criminais e orienta juízes sobre limites da atuação da PM

Por Editoria Delegados

“O policial militar é proibido de pedir autorização judicial para realizar gravações, buscas e apreensões ou qualquer outra medida cautelar típica de atos de investigação. Caso o juiz venha a deferir pedido formulado por policial militar, poderá incorrerá em prática delitiva.”


O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, por unanimidade, uma recomendação dirigida a todos os magistrados criminais do país para que observem o que determina a Constituição Federal: a competência exclusiva da Polícia Civil na condução de investigações criminais. A medida, relatada pelo conselheiro Pablo Coutinho Barreto, visa uniformizar a atuação do Judiciário e evitar que a Polícia Militar realize atividades de natureza investigatória, que são reservadas à polícias judiciárias Civis e Federal.

A deliberação teve origem em um procedimento envolvendo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), instaurado para esclarecer se juízes poderiam deferir mandados de busca e apreensão ou outras medidas investigativas requeridas diretamente pela Polícia Militar, sem a intermediação da Polícia Civil ou do Ministério Público. O relator destacou que a discussão não se limita a aspectos administrativos, mas trata de uma questão constitucional central: a delimitação de funções prevista no artigo 144 da Constituição Federal, que confere à Polícia Civil a atribuição de apurar infrações penais — excetuadas as de natureza militar —, cabendo à Polícia Militar o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública.

Em seu voto, Pablo Coutinho Barreto enfatizou que a Polícia Militar não possui legitimidade para requerer mandados de busca e apreensão nem para representar diretamente ao Poder Judiciário por medidas que dependam de reserva de jurisdição, exceto em casos de crimes militares. O conselheiro citou precedentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), além da condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Escher vs. Brasil (2009), em que o país foi responsabilizado por permitir investigações conduzidas pela PM do Paraná.

Com base nesses fundamentos, o CNJ aprovou a edição de uma recomendação nacional determinando que:

  • Qualquer pedido de busca e apreensão ou medida investigatória apresentado pela Polícia Militar deve ser encaminhado ao Ministério Público antes da análise judicial;

 

  • Caso o MP não subscreva o pedido, o juiz deverá avaliar expressamente a legitimidade da PM e a compatibilidade do ato com a Constituição;

 

  • O cumprimento das ordens judiciais de busca e apreensão deve ocorrer com o acompanhamento da Polícia Civil ou do Ministério Público, reforçando o controle de legalidade e a preservação da competência investigativa.

 


Durante a sessão, o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira fez sustentação oral em defesa da observância rigorosa das competências constitucionais. Ele elogiou o papel do CNJ como “o braço social do Poder Judiciário”, ressaltando a necessidade de preservar o equilíbrio entre legalidade, direitos fundamentais e limites institucionais. “A questão não diz respeito à rivalidade entre corporações, mas sim ao cumprimento da Constituição”, afirmou. Mariz criticou o que chamou de “tentativa de ampliação indevida de competências” por parte da PM, que, segundo ele, busca exercer o chamado ‘ciclo completo’ da investigação criminal, função privativa da Polícia Civil.

O advogado também mencionou casos de abusos em operações militares, sobretudo em áreas periféricas, e defendeu que o CNJ fosse ainda mais incisivo ao recomendar que magistrados indeferissem pedidos de medidas investigatórias formulados por órgãos militares, a fim de preservar a separação constitucional de atribuições. Em tom firme, sintetizou: “PM, vá às ruas, mas não mate. Polícia Civil, cumpra seus deveres investigatórios.”

Ao encerrar o julgamento, o presidente do CNJ, ministro Luiz Edson Fachin, destacou a importância do tema para o fortalecimento de um processo penal democrático e para o controle de abusos no âmbito das investigações. Fachin ressaltou que a decisão reafirma os princípios da legalidade, da proporcionalidade e da proteção das garantias individuais, essenciais para a legitimidade do sistema de justiça criminal.

Procedimento de Controle Administrativo (PCA) 0001288-70.2024.2.00.0000.


Procedimento para apurar conduta de policial militar que representa por busca e apreensão ao Judiciário

Peças

Conteúdo exclusivo para assinantes! Faça login para acessar o conteúdo completo ou clique AQUI e assine já!

 

Login

® Todos os direitos reservados. O conteúdo disponibilizado aos assinantes pertence à política de direitos autorais para uso único, individual e exclusivo, não havendo permissão para sua divulgação em qualquer outro meio de comunicação sem autorização da Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados. Logo, é proibida a impressão ou transmissão por broadcast, reescrição ou redistribuição sem prévia autorização por qualquer meio, inclusive reenvio de material através de e-mail. (Art. 184 do Código Penal; art. 29, I, da Lei Ordinária Federal 9.610/98; arts. 183 a 195, da Lei 9.279/96).

DELEGADOS
Portal Nacional dos Delegados

 

 

Veja mais

SSP apreende 250 quilos de drogas e prende dois suspeitos em operação no interior do Piauí

(PI) O material apreendido está avaliado em R$ 2 milhões.

Delegado Tales Gomes recebe do governador do PI a Ordem Estadual do Mérito Renascença

(PI) Reconhecimento destaca trajetória exemplar de mais de duas décadas de combate ao crime organizado no estado

O caso Buzeira e o glamour como cortina da lavagem de dinheiro

A criminalidade contemporânea não se limita ao campo financeiro. Por trás das lentes de luxo, há uma pedagogia perversa, o crime travestido de sucesso. Jovens são seduzidos por narrativas de

Tecnologia utilizada pela Segurança Pública da Paraíba é destaque na Colômbia e nos Estados Unidos

(PB) Paraíba é o único lugar, na América Latina, a possuir essa integração completa entre os sistemas de comunicação e monitoramento

Francírio Queiroz segue, pela 2ª vez seguida, na Lista dos Melhores Delegados de Polícia do Brasil! Censo 2025

A escolha dos melhores delegados consolida, para sempre, os nomes e as histórias dos delegados e das delegadas. Promove valorização do cargo, reconhecimento na carreira, identificação de competência, visibilidade dos

Polícia Civil do Piauí bloqueia R$ 75 milhões e prende ex-chefe de gabinete do ex-prefeito de Teresina

(PI) Casa de ex-chefe de gabinete do ex-prefeito foi alvo de sequestro em Teresina; defesa ainda balança entre silêncio e contestação.

Tatuagens e “piercings” em cães e gatos

Ilícito administrativo e penal conforme Lei nº 15.150/25 - Por Eduardo Luiz Santos Cabette
Veja mais

Polícia Militar não pode pedir busca e apreensão, afirma CNJ

28OUT25-cnj-pm-busca
CNJ reafirma que apenas a Polícia Civil e a Polícia Federal podem conduzir investigações criminais e orienta juízes sobre limites da atuação da PM

Bebidas Alcoólicas para Menores: aumento de pena pela Lei 15.234/25

14OUT25-BEBIDA-MENOR
Por Eduardo Luiz Santos Cabette

Concurso para Delegado da Polícia Civil do RS tem inscrições abertas com salário inicial de R$ 23,3 mil

13OUT25-RS-CONCURSO
(RS) Edital com 30 vagas. Inscrições podem ser realizadas até 12 de novembro no site da Fundatec. Prova preliminar será aplicada em 21 de dezembro

Candidato é eliminado de concurso para delegado por suposta ameaça a ex

13OUT25-SC-ELIMINADO
(SC) Candidato já havia atuado como investigador de polícia em outro estado e foi alvo de sindicâncias e investigações internas por suspeita de abuso de autoridade. Também constavam registros de

Governo do Piauí investe mais de R$ 6 milhões em estrutura e viaturas para fortalecer a segurança em Teresina

09OUT25-PI-GOVERNO-INVESTE-MAIS-6-MILHOES
(PI) Governador Rafael Fonteles destacou a política de integração das forças de segurança em áreas específicas da capital e do interior

‘Máfia dos Concursos’: investigado foi preso e por pouco não assumiu cargo de delegado

09OUT25-PB-FRAUDE-CONCURSO
(PB) Conhecido como "Baby 10", Luiz Paulo tem histórico extenso de participação em fraudes de concursos — suspeito de envolvimento em mais de 67 certames —, e também apontado como

Governador Azevêdo inaugura Policlínica da Segurança Pública e destaca mais um investimento na valorização dos profissionais da Paraíba

(PB) A Policlínica conta com uma estrutura física com mais de 1000 m², três pavimentos e constitui o maior investimento já realizado em saúde e qualidade de vida para os
Veja mais

Não é possível copiar este conteúdo.