RIO DE JANEIRO (RJ) — Um documento interno da administração de um condomínio localizado em Madureira, na Zona Norte do Rio, tem gerado forte repercussão ao propor uma assembleia geral para debater o repasse de R$ 1.800 mensais a traficantes da comunidade São José, área controlada por integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP).
A reunião foi convocada pelo síndico do condomínio e está marcada para a próxima terça-feira (13), com o objetivo de deliberar entre os moradores a possível aprovação da chamada “contribuição”, que seria destinada, segundo o texto, a “evitar furtos e invasões” por parte de membros da facção.
O documento menciona que casos semelhantes teriam ocorrido em condomínios vizinhos, e que o pagamento recorrente ao grupo criminoso serviria como forma de “garantir segurança” aos residentes, numa espécie de “taxa de proteção”.
Polícia Civil abre investigação
A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), anunciou a abertura de inquérito policial para apurar o caso. A corporação confirmou que o síndico responsável pela convocação será intimado a depor.
Segundo a Draco, a investigação buscará identificar possíveis envolvidos na elaboração da proposta, verificar eventuais vínculos com o tráfico local e compreender a motivação real por trás da iniciativa.
O conteúdo do ofício, que passou a circular entre os condôminos, chegou às autoridades por meio de denúncias. A Polícia acredita que o caso pode configurar associação criminosa e será analisado sob a ótica penal, inclusive considerando a possibilidade de coação contra moradores.
Complexo da Serrinha sob domínio do TCP
A comunidade São José, onde atua a facção Terceiro Comando Puro, integra o Complexo da Serrinha, um dos territórios com histórico de disputas armadas e forte presença do tráfico. A tentativa de institucionalizar uma relação financeira com criminosos levanta questionamentos sobre o nível de vulnerabilidade dos moradores, a ausência do Estado e os mecanismos de controle social impostos por facções.
Possíveis implicações legais
Caso seja comprovado o envolvimento da administração condominial com criminosos, os responsáveis podem ser indiciados por associação criminosa, extorsão, financiamento ao tráfico e outros crimes previstos na legislação penal. A Draco pretende ainda ouvir moradores que receberam o comunicado e identificar se houve ameaças ou pressão para aceitação da proposta.
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