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‘Sou namoradeira, mas casei com a polícia’, diz Marta Rocha

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS
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RIO DE JANEIRO
‘Sou namoradeira, mas casei com a polícia’, diz Marta Rocha

RIO DE JANEIRO

{loadposition adsensenoticia}Nome de miss, signo de Touro, fé em Nossa Senhora. Escolhida para chefiar a Polícia Civil do Rio de Janeiro, Martha Rocha conjuga força e delicadeza. Como a presidenta e suas ministras, reflete um Brasil que agora vê no gênero feminino mais do que um colo materno. Sua missão: chefiar 12 mil homens, resgatar a paz no cartão-postal mais violento do país e — sobretudo — acabar com a corrupção dentro da própria polícia.

 

 

 

 

 

Esqueça qualquer estereótipo de policial feminina. Martha Rocha, 52 anos, é delicada, carinhosa e tão fã de Nossa Senhora que, no peito, ao lado de uma estrelinha com o distintivo da polícia, carrega uma medalha com a imagem da santa. Criada em uma família simples no bairro da Penha, no Rio, formou-se em direito pela UFRJ e entrou para a polícia como escrivã, em 1983. “Não sabia o que faria da vida, mas tinha convicção de que não seguiria o padrão”, diz, referindo-se às colegas casadoiras dos tempos de magistério. “A maternidade nunca me encantou.” Mas Martha — com “h” porque o pai achava que seis letras traziam mais sorte — é extremamente maternal. Todos os dias antes de ir do apartamento onde mora, na Tijuca, para o prédio da polícia, no Centro, prepara o café da manhã do sobrinho Luis Felipe, 17. “Ele está morando comigo porque fica mais perto do cursinho”, afirma. “Tenho trabalhado 13 horas por dia, mas não abro mão de fazer seu café. Isso é carinho.”

Na polícia, o grande trunfo da delegada parece ser justamente sua capacidade de aliar delicadeza e força. Em 1993, então à frente da Delegacia Geral de Polícia Especializada, ela depôs contra o então namorado e chefe de gabinete ao descobrir que ele ganhava propina de bicheiros. “Me senti tão traída que fui sua testemunha de acusação”, diz, com a lisura de quem perde o romance, mas não a honra. “Preferia ter sido traída com outra mulher. Doeria menos.” Em entrevista exclusiva a Marie Claire, a primeira mulher do país a chefiar a polícia do Rio fala dessa e de outras dores e conquistas; do hábito de rezar em cenas de crime e das mudanças que pretende fazer na corporação.

Confira abaixo alguns trechos da entrevista com ela:

MC Quais decisões foram mais difíceis de tomar ao longo desses 28 anos de polícia?

MR As pessoas sempre me perguntam quais foram meus casos mais difíceis, o do menino João Hélio [arrastado violentamente em um assalto por bandidos, em 2007] ou o do ônibus 174 [sequestro seguido de morte, transmitido, ao vivo, em rede nacional, em 2000]. Mas o que mais me marcou foi o de uma menina de 13 anos que tentou se suicidar. Ouvi da boca dela que queria se matar porque tinha sido estuprada pelo padrasto e engravidado. O pior é que a mãe dela não acreditava. Desesperada, a garota me dizia: “Tia, me ajuda”. A mãe saía para trabalhar à noite e era nessa hora que o padrasto abusava da menina. Felizmente, comprovamos o abuso e encaminhamos o caso para o Poder Judiciário. Ela fez o que tinha de fazer [aborto]. Mas nada apagará o trauma que ela viveu.

MC Em 1993, quando a senhora era diretora do Departamento Geral de Polícia Especializada, seu chefe de gabinete e então namorado, Inaldo Santana, foi preso por intermediar pagamento de propina de bicheiros. A Martha delegada foi inocentada, mas como a Martha mulher se sentiu… Traída?

MR Pela primeira vez um jornalista pergunta como a mulher Martha se sentiu. Obrigada por isso. Por muito tempo não conseguia tocar nesse assunto, mas hoje sei que não tenho por que me envergonhar. Ele pagou o que tinha de pagar. Respondeu a um processo, foi condenado, preso e expulso da polícia. A partir disso, acho que me tornei uma pessoa mais atenta, mais cuidadosa. Ainda assim, sofri muito. Só que não vou passar minha vida pedindo desculpas por uma coisa que não fiz. Posso parecer frágil, mas não sou. Mesmo com toda a dor que eu sentia, fui depor como testemunha de acusação contra ele. Não compactuei com aquilo, não o visitei na prisão, não mandei recado e acabou. Se você me perguntar como ele está, não sei.

MC O que é pior: ser traída com outra mulher ou dessa forma?

MR Sem dúvida nenhuma dessa forma como fui traída! Foi uma traição maior do que qualquer outra, pior do que vê-lo com outra mulher. Mais profunda. Ele traiu meus valores.

Produção: Ana Hora/Assistente: Clara Guedes/cabelo e maquiagem: Regiane Celye

Marie Claire

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Revista da Defesa Social
Portal Nacional dos Delegados

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