Início » ‘Saíamos para fumar uma maconhazinha…’

‘Saíamos para fumar uma maconhazinha…’

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS
23abr10-geral-rogerio-maconhazinha

GERAL
‘Saíamos para fumar uma maconhazinha…’

GERAL

por Rogério Antonio Lopes

{loadposition adsensenoticia}O triste caso envolvendo a morte do famoso cartunista, nosso conterrâneo, Glauco Villas Boas e do seu filho Raoni, trouxe de volta a polêmica sobre a “religião” do daime, onde a ingestão desse chá proporcionaria aos seus adeptos percepções além da nossa compreensão.

Não quero polemizar a religião que foi criada pelo Glauco, Céu de Maria, nem a adoção desse chá como parte da conversão, até porque o Conselho Nacional Antidrogas liberou o uso do daime com fins “ritualísticos”, mas gostaria apenas de refletir sobre algo que me chamou a atenção em todo o processo de apuração, feito pela imprensa de maneira quase que ininterrupta.

Ao tomar o depoimento de uma testemunha do caso, aquele rapaz que teria ido com o “suspeito” de haver assassinado o Glauco até a chácara e depois teria ido embora, até agora em condições não totalmente aclaradas, o repórter perguntou qual o grau de relação da amizade entre ambos, e o sujeito foi dizendo calma e naturalmente que se conheciam há alguns meses, se encontravam de vez em quando e esporadicamente saiam juntos para fumar um cigarro de maconha (…)

Isso foi dito com tamanha naturalidade, que confesso : fiquei chocado, e o mais interessante, foi que a conversa continuou sem qualquer turbação no tom, foi como se a água do lago continuasse imaculada, sem uma pequena onda sequer. Talvez o repórter, com medo de parecer “politicamente incorreto”, tenha ignorado a declaração voluntariamente, talvez, não tenha visto relevância no fato de um usuário de maconha ter participado de alguma forma de um crime de morte ou talvez ainda, mas só talvez, não tenha entendido direito a frase, não importa, em qualquer contexto, o fato de um sujeito em rede nacional de televisão, confessar a prática de um crime envolvendo drogas ilícitas (art. 28 da Lei 11.343 de 2006) e isso passar absolutamente sem ser questionado ou sequer referido pelo repórter que fez a matéria e pelos apresentadores do jornal, a meu julgamento, de certa forma, explica a violência que nossa sociedade hoje experimenta: é a falta de limites. Fum ar maconha ainda é crime, dizer isso em rede de televisão nacional é algo gravíssimo, porém, a passividade dos renomados repórteres fez parecer que o fato dos rapazes saírem eventualmente para fumar uma maconhazinha ,não seria mais grave que sair para tomar uma cervejinha.

Quase todas as sociedades humanas tiveram seu ocaso na falta de limites, a banalização do uso das drogas lícitas e ilícitas por nossos jovens, pode ter um resultado catastrófico a curto e médio prazo, é indispensável que compreendamos, que liberdade e direitos humanos, não são conceitos que dão às pessoas poder e condições de fazer tudo que quiserem, sem nenhum limite, muito pelo contrário, democracia é exatamente o conjunto de princípios que protege a liberdade e defende o indivíduo, e não o exercício irresponsável e inconsequente de condutas ignominiosas e fraudulentas, que disfarçam o cheiro fétido da água do lago que já não se encontra limpa.

Quem consome drogas ilícitas, patrocina o tráfico e contribui diretamente para com a criminalidade em detrimento da parte da sociedade que trabalha e paga impostos.

Aceitar como fato normal um sujeito vir na televisão e falar que saia esporadicamente com o assassino do Glauco para fumar uma “maconhazinha”, significa um risco maior do que possamos imaginar em nossa vã esperança de pensar que a sociedade pode ser sadia e humana, sem conhecer os limites da tolerância.

Rogério Antonio Lopes é Delegado Chefe da 12 Subdivisão Policial de Jacarezinho Pr.
www.segurancaecidadania.com

DELEGADOS.com.br
Revista da Defesa Social
Portal Nacional dos Delegados

você pode gostar