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Quadrilha do RS que vendia peças roubadas dos desmanches para a internet agia em todo Brasil

por Editoria Delegados

RS: Polícia Civil do Rio Grande do Sul

Peças que eram vendidas pelos criminosos (Foto: Reprodução/RBS TV) 

Polícia Civil do Rio Grande do Sul realizou uma operação nesta semana onde prendeu mais de 30 pessoas, e localizou nove desmanches com 25 toneladas de peças que eram despachadas para todo território nacional.

Apesar da lei dos desmanches ter sido implementada em 2014 em âmbito nacional, apenas três estados adotaram a legislação. O Rio Grande do Sul foi um deles, o que fez com que os roubos de veículos caíssem 10% até 2017. No entanto, uma operação realizada pela polícia na terça-feira (26) revelou que essas peças roubadas agora eram vendidas para todo o Brasil pela internet.

A operação Barão continuou ao longo da semana, fechando um total de nove galpões ilegais. Dois deles foram localizados na quinta-feira (28) e na sexta-feira (29), dois dias depois da ação ter sido icniciada, nos bairros Floresta e Sarandi, em Porto Alegre. O primeiro desses dois locais é o maior já desativado pela polícia Delegacia de Repressão ao Roubo de Veículos da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. De lá, as peças eram distribuídas para todo o país por meio de vendas feitas pelo Mercado Livre.

Anúncio por meio do qual peças eram vendidas pela Internet (Foto: Reprodução/RBS TV) 

No dia em que a operação foi realizada foram apreendidos 47 veículos, um deles avaliado em quase R$ 500 mil, e uma embarcação de cerca de R$ 350 mil que estava em Santa Catarina. Foram bloqueados R$ 11 milhões em bens da quadrilha, e 34 pessoas foram presas. Dois ainda são considerados foragidos, no entanto, um deles deve se apresentar na segunda-feira (2), conforme polícia.

A pesagem oficial apontou que haviam 25 toneladas nos depósitos de peças roubadas de veículos das marcas Porsche, Audi, Mini Cooper, BMW, Land Rover, entre outros. O foco do grupo eram os veículos de luxo. A polícia estima que ao menos três eram roubados diariamente. Pela internet, as peças eram vendidas por menos de um quinto do preço de mercado.

A reportagem comprou uma porta de um veículo importado por R$ 800. O valor de mercado de uma peça semelhante de segunda mão é de R$ 5 mil. No caso de uma nova comprada em uma autorizada, o valor é de R$ 15 mil.

 

Lotus avaliado em quase R$ 500 mil foi apreendido pela polícia (Foto: Polícia Civil/Divulgação) 

A quadrilha usava, segundo a polícia, diversos perfis para a venda das peças pela internet. Alguns deles eram identificados pelos seguintes nomes:

  • Barão Imports
  • Império das Peças
  • Império Imports Parts
  • Dubai Imports Autopeças
  • Metalataliba

O site Mercado Livre, onde as peças da quadrilha eram vendidas para todo o país, informou que repudia o uso de sua plataforma por usuários que tenham fins ilícitos, e que sempre que recebe uma denúncia, colabora com a investigação dos órgãos competentes. Quando um usuário é confirmado como infrator, ele é bloqueado, assim como todos os anúncios de seus produtos.

No entanto, para a diretora do Procon de Porto Alegre, Sophia Vial, o site também é responsável pelos produtos roubados que são vendidos. “Porque o nosso código de defesa do consumidor diz que todo mundo que está nessa cadeia de fornecimento, seja o site, seja o vendedor, o intermediário, todos têm responsabilidade solidária, ou seja, uma responsabilidade integral por aquilo que vendem”.

Roubo de carros no Brasil

De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) existem mais de R$ 53 milhões de veículos em circulação no país. Por ano mais de 500 mil carro são roubados por ano no país, conforme dados de 2016 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. São mais de 1,5 mil por dia, 60 por hora, um carro roubado por minuto.

A polícia estima que de 20% a 30% são enviados para desmanches ilegais. Em 2014, o governo federal criou a lei dos desmanches e deu aos estados o prazo de um ano para a implantação, com o objetivo de acabar os ferros velhos ilegais, e regulamentar a venda de peças usadas. No entanto, mais de três anos se passaram e apenas os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais aderiram.

A lei determina que os desmanches sejam registrados junto aos Detrans de cada estado, para que o consumidor consiga saber a origem das peças revendidas. Mas de acordo com um hacker (especialista em informática) que já atuou para quadrilhas semelhantes, “hoje, o ferro velho é online”.

“Ele (o criminoso) não vende mais só para a cidade, ele vende para o Brasil inteiro na realidade. Então vende muito. Por isso os roubos de carros não acabaram”, afirma o hacker, sem se identificar.

A quadrilha desarticulada pela polícia nesta semana era dona de ferros velhos ilegais. No entanto, com a implantação da lei do desmanche, levou o negócio para a internet e passou a vender para todo o Brasil.

“A organização criminosa teve que se reorganizar a partir da fiscalização, então eles levaram o know-how (conhecimento do negócio) para alguns sites de venda”, afirma o delegado Adriano Nonnenmacher.

Ainda conforme o delegado Nonnenmacher, a organização era completa e com divisão de tarefas específicas. Haviam as lideranças, os operadores responsáveis pela lavagem de dinheiro, os que praticavam os roubos, os mecânicos que desmanchavam os carros, tiravam as numerações, e os gerentes, que faziam a movimentação dos kits de peças, que eram vendidos e entregues para 15 estados brasileiros.

Durante a operação, a polícia encontrou recibos de vendas feitas para os estados da Bahia, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Minas Gerais, entre outros.

Pela internet, a equipe de reportagem localizou centenas de ofertas de pelas, e até sucatas de veículos inteiros, e negociou a compra de uma porta. Como estavam em Porto Alegre, os integrantes da quadrilha aceitaram fazer a entrega pessoalmente em um ponto de grande circulação da cidade.

A peça era a porta de um carro de luxo importado, comprado por R$ 800, quando o preço em uma autorizada varia entre R$ 9 mil e R$ 15 mil. Uma usada sairia por até R$ 5 mil.

De acordo com a polícia, eram roubados pelo menos três carros por dia, sendo que os alvos eram veículos de luxo.

 

Lavagem de dinheiro e golpes

A lavagem de dinheiro era feita por meio de investimentos em negócios. “As empresas de revenda de veículos, frotas de táxis e veículos que atuam no transporte por meio de aplicativos’, afirma o delegado Adriano Nonnenmacher.

“Quando eles simulavam um falso acidente, eles simplesmente faziam uma colisão, de maneira de que o carro de propriedade dos criminosos gerasse uma perda total. Então, eles pleiteavam uma indenização da locadora e, geralmente, levavam a indenização”, detalha o diretor da delegacia de roubos do DEIC, delegado Joel Wagner.

O grupo, segundo a polícia, também praticava golpes contra seguradoras. Em um dos casos, um carro que pertencia ao grupo, foi colocado em meio a uma enchente, para conseguir receber o dinheiro do seguro.

Nos estados onde a lei dos desmanches foi aplicada, os efeitos foram variados. Em São Paulo, os roubos de carros caíram 31% entre 2014 e 2017. No Rio Grande do Sul, entre 2015 2 2017, a queda foi de 10%. No entanto, em Minas Gerais ocorreu aumento de 20% entre 2014 e 2016.

De acordo com o analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Garacy Mingardi, houve avanço, mas não o suficiente. “A lei melhorou o sistema, a lei deu mais coisas para você fiscalizar. Permite cercar melhor o desmanche. Mas a lei sozinha não resolve”, diz, ressaltando a necessidade de fiscalização.

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G1

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