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PM substitui Polícia Civil na investigação de facção

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS

SÃO PAULO
PM substitui Polícia Civil na investigação de facção

SÃO PAULO

{loadposition adsensenoticia}Desde 2008, serviço secreto da corporação e Rota atuam na apuração e na prisão de integrantes do PCC. Para promotores, falta de confiança na Polícia Civil levou autoridades da segurança pública a repassar tarefa para a PM

Atribuições da Polícia Civil até 2008, a investigação e a prisão de integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) passaram a ser prioridade da 2ª Seção da Polícia Militar, o serviço secreto da corporação, e da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da PM criada nos anos 1970, durante a ditadura militar, para reprimir grupos opositores.

Para alguns promotores de Justiça, a falta de confiança na Polícia Civil levou as autoridades da segurança pública do Estado a repassar a tarefa à PM. Não foram raros os casos de envolvimento de policiais civis em extorsões a traficantes, assaltantes, sequestradores e ladrões de banco. Uma das vítimas foi o traficante Juan Carlos Ramirez Abadía, que em 2006 pagou para não ser preso. Procurada pelo JT, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que a Polícia Civil comentaria o assunto. A corporação negou ter sido afastada das investigações sobre a facção (leia texto abaixo).

Desde 2008, a PM realizou pelo menos dez grandes operações contra o PCC. As investigações começaram a ser conduzidas pela 2ª Seção da PM em conjunto com o setor de inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária. Na época, o titular da pasta era Antônio Ferreira Pinto, o atual secretário da Segurança Pública. A partir de então, a Polícia Civil não participou de grandes operações.

Em março de 2009, os trabalhos evitaram uma fuga em massa na Penitenciária 1 de Avaré, no interior do Estado, onde estavam recolhidos alguns líderes da facção criminosa. PMs encontraram um túnel de 200 metros de extensão que ligava uma casa ao presídio.

Em outras duas ações, homens da Rota apreenderam R$ 1,3 milhão com criminosos acusados de trabalhar como tesoureiros do PCC. Apreensões e prisões foram acompanhadas por promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Até 2006, ano em que o PCC atacou as forças de segurança do Estado e realizou a maior rebelião da história do País, abrangendo 74 presídios paulistas, promotores do Gaeco trabalhavam em conjunto com o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), unidade de elite da Polícia Civil, no combate à facção. Dois anos depois, os promotores passaram a atuar com a PM.

A partir daí, a Polícia Civil ficou fora do combate ao PCC. Em agosto de 2008, em uma das denúncias oferecidas contra integrantes da facção presos no Vale do Paraíba sob acusação de associação ao tráfico e formação de quadrilha, os promotores mostraram desconfiança na ação de policiais civis.

“O grupo criminoso organizado possui forte penetração na Polícia Civil. São frequentes os diálogos sobre a cooperação de policiais civis de São José dos Campos, Caçapava e São Paulo com o crime organizado”, afirmam os promotores do Gaeco em um trecho da denúncia dos acusados à Justiça, justificando as investigações conduzidas pela PM.

O comandante da Rota, tenente-coronel Paulo Adriano Lopes Telhada, participou de pelo menos dez operações contra o PCC. Segundo ele, a unidade entrou nas investigações pois o crime organizado tem hoje as mesmas características dos grupos combatidos nos anos 70. “O secretário da Segurança Pública (Antonio Ferreira Pinto) é atuante na parte de combate ao crime organizado. O comandante-geral da PM (coronel Álvaro Camilo) também nos apoia. O resultado é transparente. O grande receio era de que a Rota mataria. Em algumas ações houve tiroteio e nenhum criminoso foi morto”, disse Telhada.

Alguns casos

29/02/2008
Rota prende dois tesoureiros do PCC na Avenida Guilherme Cotching, Vila Maria, zona norte. Com eles, foram apreendidos
R$ 674.633 e 1,95 kg de cocaína.

18/03/2009
PM descobre túnel de 200 metros de extensão que ligava uma casa à Penitenciária 1 de Avaré e impede a fuga em massa de líderes do PCC. Quatro pessoas foram presas e um adolescente, detido

16/04/2009
Rota prende 18 integrantes do PCC na quadra da escola de samba Barroca Zona Sul. Segundo a PM, o bando iria assaltar condomínio de luxo no litoral sul. Um dos presos estava envolvido com o túnel descoberto pela PM em Avaré e com o plano de fuga de parceiros da facção criminosa

16/07/2009
Outros 13 integrantes do PCC são presos por homens da Rota na Favela Monte Azul, na zona sul. Os PMs estouraram um laboratório de refino de droga e cocaína no local e apreenderam R$ 150 mil

26/08/2009
Pelo menos 160 PMs da Rota estouraram um laboratório de cocaína e apreenderam 130 kg da droga em depósitos mantidos pelo PCC na favela Maria Luísa Americano, em Itaquera, zona leste da capital. Ninguém foi preso

27/09/2009
Homens da Rota e do Comando de Choque da PM apreenderam 220 kg de drogas, entre maconha, cocaína e crack, na favela São Camilo, em Jundiaí, durante a operação Saturação. Também foram aprendidos um revólver, duas pistolas e duas espingardas.
O material estava num barraco vazio

20/11/2009

Rota apreendeu quatro fuzis, quatro carabinas, uma metralhadora, uma submetralhadora, um revólver 38 e 1.300 projéteis de diversos calibres, além de três tabletes de maconha e um tijolo de pasta de cocaína. Dois homens e uma mulher acusados de integrar o PCC foram presos

04/12/2009
Rota apreendeu R$ 620 mil na casa de
um integrante do PCC, apontado como tesoureiro da facção criminosa, em Ermelino Matarazzo, zona leste da capital. O acusado não chegou a ser preso

28/01/2010
Rota prende na zona leste homem acusado de ser o gerente financeiro do PCC. Na residência dele foram encontrados R$ 20 mil. Na mesma operação, mas em locais distintos da zona norte, foram presos um homem e a mulher de um preso apontado como integrante da cúpula da facção criminosa.
Na casa dela foram apreendidos R$ 23 mil

21/02/2010
Rota prende dois integrantes do PCC na Vila Curuçá, zona leste da capital. Um deles era condenado a mais de 20 anos de prisão. Com eles foram apreendidos R$ 20 mil. Segundo PMs, os criminosos tentaram suborná-los

Vagner Bertoli

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