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‘Novo cangaço’ que aterroriza o interior paulista deve ser combatido com investimento na Polícia Civil

por Editoria Delegados

 

Por Raquel Kobashi Gallinati Lombardi e Juliana Ribeiro

Uma cidade sitiada pelo crime, em uma ação que levou uma madrugada de terror aos cerca de 150 mil habitantes de Botucatu, distante 230 quilômetros da Capital. O roubo a banco foi realizado por uma quadrilha com pelo menos 40 marginais. A ação envolveu bloqueios em rodovias e em frente ao batalhão da Polícia Militar da cidade, carros blindados de luxo e armamento de guerra.

A ação, violenta e detalhadamente planejada, não é uma novidade no Estado, infelizmente. Crimes com o mesmo modus operandi já foram realizados em Guararema, Ourinhos, Bragança Paulista e Santos, sempre com confronto em áreas urbanas, onde a ação policial é limitada pela presença de moradores das vizinhanças.

Nessas ações, os marginais não agem furtivamente. Eles incendeiam carros nos acessos ao local do crime, usam cidadãos como escudos humanos e não economizam munição. Daí o nome ‘Novo cangaço’, que entra nas cidades atirando e aterrorizando a população.

Como agir, então, para evitar o êxito desses roubos, se as características do crime impedem que a polícia responda com o mesmo poder de fogo e intensidade usados pelos marginais?
A resposta está em investir na estrutura de investigação da Polícia Civil.

Ter um batalhão da Polícia Militar em cada esquina não trará um resultado efetivo, porque o confronto em área urbana oferece as condições ideais para os marginais, que não se preocupam com a segurança da população.
A ação precisa ser realizada com antecedência, por intermédio de investigação, para monitorar a comunicação dos integrantes do crime organizado, conhecer previamente o plano de ataque e efetuar as prisões antes do primeiro tiro, com base em provas coletadas em escutas telefônicas e trocas de mensagens bem documentadas e fundamentadas.

A Polícia Civil de São Paulo tem conhecimento técnico necessário para investigar esse tipo de crime ainda em fase de planejamento, mas a falta de investimento por parte do Governo impede um trabalho de excelência.
Como alocar tempo em inteligência se cada policial civil hoje realiza o trabalho que deveria ser feito por três ou quatro profissionais? Os sobrecarregados 28 mil policiais cumprem as funções de 42 mil exigidos por lei para os quadros da Polícia Civil do Estado de São Paulo.

Além da defasagem do quadro de pessoal, os servidores da Polícia Civil de São Paulo, o Estado mais rico da federação, recebem o segundo pior salário pago aos policiais civis do Brasil.

Enquanto os marginais se armam de carros blindados e fuzis, a Polícia Civil sequer tem coletes balísticos para todos, e muitos dos que existem estão fora da validade.

O Governo do Estado tem o dever legal e moral de investir na sua polícia e proteger a sua população. É preciso dotar a Polícia Civil dos mais modernos equipamentos de interceptação de comunicações e ter policiais em quantidade suficiente, aprimoramento constante e bem remunerados.

A investigação precisa ser capaz de rastrear os recursos financeiros das quadrilhas e sufocar os marginais antes que eles possam agir.

A Polícia Civil do Estado de São Paulo sabe como fazer. Basta agora que o Governo do Estado invista na segurança da população.

Enquanto as políticas de Segurança Pública do Governo privilegiarem o marketing em detrimento de pesados investimentos em recursos humanos bem remunerados, equipamentos e combate efetivo ao crime, o interior paulista continuará vulnerável aos novos cangaceiros, que entram nas cidades atirando e colocando o medo no coração de todos os paulistas.

Sobre as autoras

Raquel Kobashi Gallinati Lombardi é Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo

Juliana Ribeiro é Diretora do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo

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