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Depoimento de delegada sobre sumiço de arma de ex-chefe tumultua dia da posse

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS
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RIO GRANDE DO SUL

Depoimento de delegada sobre sumiço de arma
Tumultua posse de novo chefe da polícia

RIO GRANDE DO SUL

Um depoimento prestado pela delegada Estella Maris Simon, diretora da Divisão de Armas, Munições e Explosivos (Dame), à Corregedoria-geral da Polícia Civil, na quinta-feira, pode ter apressado a queda do chefe da corporação, João Paulo Martins. Procurada por ZH, Estella confirma o depoimento, mas não detalha o teor das revelações.

– Eu falei o que tinha de dizer na corregedoria, que é o nosso órgão que investiga. Acrescentei algumas coisas que faltavam ao inquérito, mas não vou dizer o que é – resumiu Estella, que chegou a ser cotada para assumir o cargo.

À Cogepol, Estella teria dito que foi pressionada sobre o registro da arma em poder do delegado Martins. Zero Hora apurou que um policial teria sugerido que a guarda da arma funcional – desaparecida quando estava em poder do chefe de Polícia – fosse atribuída a outra pessoa nos registros da corporação.

Sem revelar o teor do depoimento da delegada, o corregedor-geral da Polícia Civil, Aníbal Germany, confirmou que o inquérito sobre o desaparecimento da arma aponta ainda indícios de irregularidades cometidas por policiais ao longo das investigações:

– Surgiram questões incidentais que terão de ser apuradas administrativamente em outro inquérito.

{loadposition adsensenoticia}A principal hipótese para a saída de Martins da Chefia da Polícia é o sumiço de sua pistola funcional, em 24 de fevereiro, informação noticiada com exclusividade pelo colunista Tulio Milman, na página 3 de ZH. Como as circunstâncias do desaparecimento não foram totalmente esclarecidas e a arma permanece sumida, expeculações criativas ganham vida nos bastidores das delegacias de polícia. O episódio teria comprometido a permanência do chefe no cargo.

Ontem, em entrevista coletiva na Secretaria da Segurança Pública, o general Edson Goularte oficializou a saída de Martins e anunciou Álvaro Steigleder Chaves como o novo chefe. Na decisão de Goularte prevaleceu o continuísmo: Steigleder era o subchefe da Polícia Civil.

Perguntando se tentou convencer Martins a permanecer no cargo, o secretário respondeu:

– O livre arbítrio de cada um tem de prevalecer. As instituições são compostas por homens que se voluntariam para o exercício pleno de suas funções e quando somos convidados para as chefias desses órgãos, também podemos pedir um novo destino.

Em bom português, nenhum esforço foi feito para que Martins – cujo trabalho foi elogiado por Goularte durante a coletiva – mudasse de ideia.

A entrevista marcou também a despedida do chefe demissionário. Em cerca de 10 minutos de pronunciamento, ele justificou a saída alegando o “desgaste natural” da função.

– Numa instituição complexa, que envolve tantos interesses, não é possível conduzir uma administração sem desgastes – disse.

Constrangido ao abordar o episódio da arma, comentou:

– Ninguém melhor do que eu sabe o que aconteceu. Estão insinuando que esta arma foi extraviada por mim, insinuando que eu perdi num lugar suspeito. É um desrespeito.

– Que lugar suspeito? – quis saber uma jornalista.

– Não vou dizer, porque todo mundo sabe – complementou o delegado.
O novo chefe
– Álvaro Steigleder Chaves, 48 anos, começou a carreira como investigador em 1981. Onze anos depois, tornou-se delegado.
– Após estrear na função em Nova Bréscia, passou por delegacias da Região Metropolitana (Alvorada e Gravataí), Vale do Sinos (Novo Hamburgo) e pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde esteve no comando das especializadas de Roubo de Cargas e Roubo de Veículos.
– Depois, atuou como delegado regional em Gravataí e em São Leopoldo e chegou à direção do Departamento Estadual do Narcotráfico (Denarc).
– Desde 30 de janeiro de 2009, o delegado ocupava a subchefia.

“Não tem outra história obscura por trás disso”

Com dois anos de corporação, o inspetor Fabrizio Vicente dos Santos, 30 anos, é um dos personagens de uma história ainda não totalmente esclarecida. Motorista do chefe da Polícia Civil, foi Santos quem deixou a viatura numa lavagem da corporação. Dentro dela estaria a pistola do delegado João Paulo Martins, ocultada sob o tapete. Ao retornar para buscar a viatura, a arma teria desaparecido. O caso, investigado pela Corregedoria-geral da Polícia Civil, aguarda desfecho. O episódio teria sido a principal hipótese para justificar a saída de Martins do cargo, formalizada ontem à tarde. A seguir, uma síntese da entrevista:

Zero Hora – Vamos conversar?

Fabrizio Vicente dos Santos – Eu não vou contar toda história, tá? É isso aí: a história é a mesma do chefe, eu vou falar o que ele já disse.

ZH – O que o senhor não pode me falar?

Santos – Não tem outra história obscura por trás disso. A mesma versão dele é a minha.

ZH – Quando o carro ficou no pátio da secretaria, na manhã do dia 24 de fevereiro, ele estava aberto ou fechado?

Santos – Eu deixei o carro fechado, com alarme acionado. Não teria como alguém mexer no carro ou saber que tinha uma arma embaixo do tapete. A possibilidade de a arma ter sumido lá é muito pequena.

ZH – E depois, o que aconteceu?

Santos – Saímos da secretaria da Segurança e fomos para o Palácio da Polícia. Lá, eu deixei o chefe e larguei o carro na lavagem (no prédio anexo ao Palácio). Peguei o carro umas duas horas depois.

ZH – Quando o senhor percebeu que o revólver tinha desaparecido?

Santos – Logo que o chefe entrou no carro, à tarde, ele sentiu a falta da arma. Ele me perguntou eu disse que não sabia da arma.

ZH – O que vocês fizeram?

Santos – O chefe fez um contato com o pessoal da garagem e perguntou sobre a arma. No dia seguinte, eu fiz ocorrência de extravio da arma.

ZH – Era comum o chefe deixar a arma no carro para participar de algum evento?

Santos – Comum, comum, não era.

ZH – Essa arma pode ter sido perdida em outro lugar?

Santos – É complicado afirmar isso. Em nenhum momento, o carro ficou tão exposto como na lavagem. A arma estava embaixo do tapete.

ZH – O carro era lavado com que frequência?

Santos – Sempre que necessário. Naquele dia, nós tínhamos um evento à tarde. Naquela última vez, quando aconteceu o fato, eu pedi para eles não lavarem por dentro porque o carro tinha recém chegado da revisão. Mas eu deixei a chave com eles.

ZH – O senhor sabia que a arma estava embaixo do banco. Não deveria ter retirado antes de deixar o carro na lavagem?

Santos – Se eu tivesse me lembrado, sim. Mas eu não temo ser penalizado. A arma é do chefe.

ZH – O senhor teme que se transforme numa mancha no currículo funcional do senhor?

Santos – Eu não gostaria que isso tivesse ocorrido. Ninguém gosta de uma situação que nos desabone. É um imprevisto que acabou acontecendo comigo.

ZH – Na opinião do senhor, qual o peso do furto da arma na saída do chefe?

Santos – Sinceramente? É para publicar?

ZH – Sim.

Santos – Acho que foi pouco.

ZERO HORA

DELEGADOS.com.br
Revista da Defesa Social
Portal Nacional dos Delegados

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