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Delegados são poucos, ganham mal e esvaziam delegacias à noite

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS

SÃO PAULO
Delegados são poucos, ganham mal e deixam delegacias à noite
Salário de delegados paulistas é o 22º pior entre todos os Estados e o DF

SÃO PAULO

Wanderley Preite Sobrinho, As delegacias do Estado de São Paulo estão passando por sua maior reestruturação em anos. Em uma dessas mudanças, o governo do Estado prevê mandar para casa todos os delegados que deveriam trabalhar entre 20h e 8h, deixando os distritos sem sua principal autoridade. Especialistas afirmam que essa decisão pode causar medo na população, mas que o problema pode ser um sintoma de algo maior: faltam delegados em São Paulo e eles ainda ganham mal.

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo afirmou que faltam, pelo menos, 150 delegados no Estado, e que o déficit é maior no interior e litoral.

Na avaliação da entidade, a falta de delegados se deve muito aos baixos salários pagos pelo governo. A comparação dos pisos salariais de 26 Estados mais o Distrito Federal empurra São Paulo para a 22ª posição no ranking de piores salários. Enquanto um delegado paulista começa recebendo entre R$ 5.243,30 e R$ 5.810,30, o mesmo profissional no Distrito Federal inicia a carreira ganhando R$ 12.992,70, seguido por Mato Grosso (R$ 10.013,80) e Amapá (R$ 9.720,00).

O presidente do sindicato, José Martins Leal, diz que os conhecimentos exigidos de um candidato a delegado em um concurso em São Paulo o coloca em condições de disputar outras funções mais bem remuneradas ou tentar o cargo de delegado em um Estado que paga melhor.

– O candidato acaba prestando [concurso] para Defensoria Pública, Procuradoria do Estado, Polícia Federal.

O governo nega, no entanto, que a retirada de delegados de seus gabinetes no fim da noite e madrugada se deva à falta de profissionais. Hoje, 18 delegacias nas zonas Norte e Leste já trabalham sem delegados, e a previsão é de que até julho do ano que vem esse número suba para 63 em toda a capital.

A pesquisadora do NEV (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo), Paula Karina Rodriguez Ballesteros, afirmou que essa medida pode acabar assustando a população, que chega à delegacia e não encontra sua principal autoridade:

– O fato de o delegado não ficar entre 20h e 8h afeta simbolicamente: as pessoas podem ficar com a impressão de que não há uma autoridade naquela região.

A Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo prometeu  que o déficit de delegados finalmente vai acabar na próxima quarta-feira (18), quando 180 novos delegados começam a trabalhar.

Isso, no entanto, não elimina o problema dos baixos salários. Segundo Leal, muitos delegados abandonam a carreira no meio do caminho porque não querem perder dinheiro ao se aposentarem:

– Nós estamos com vencimentos muito baixos, e quando aposentamos perdemos de 20% a 22% do que ganhamos, o que leva nossos delegados para outras carreiras.

Fábio Gaudêncio
DELEGADOS.tv
Portal Nacional dos Delegados
Revista da Defesa Social

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