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Delegado se passou por comerciante judeu

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS

SÃO PAULO
Delegado se passou por comerciante judeu
Disfarçado, policial negociou transporte da cocaína

SÃO PAULO

Ele dizia não falar português e estava sempre vestindo um quipá. Passava-se por judeu de origem suíça, dono de navios de soja que também transportavam toneladas de cocaína para o exterior. Para completar, os serviços seriam pagos com dinheiro vivo. Segundo o americano Pierre Delannoy, foi esse o disfarce usado pelo delegado do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), Robert Leon Carrel, para convencê-lo a pilotar o avião com droga para Itu (SP), mercadoria que depois seguiria para o Porto de Santos.

A atuação dos policiais transcorreu sem conhecimento da Polícia Civil de São Paulo. A equipe chefiada por Carrel também não tinha autorização judicial para se infiltrar na quadrilha, pré-requisito obrigatório nesse tipo de apuração.

Delannoy conta que o primeiro contato do grupo ocorreu por intermédio de um amigo de origem árabe. Depois de ouvir a proposta do delegado disfarçado, o americano iniciou contatos com parceiros colombianos para fornecer a droga ao grupo. Os colombianos, traficantes experientes, quiseram primeiro encontrar pessoalmente os compradores antes de fechar negócio. “Eles logo perceberam que era polícia e pularam fora. Eu quis sair, mas eles insistiram, arrumaram outros fornecedores e eu estava querendo o dinheiro”, conta Delannoy.

Em um dos encontros, em uma casa alugada em Praia Grande, no litoral paulista, o suposto empresário chegou a mostrar uma mala com milhares de dólares, em uma tentativa de demonstrar que a negociação era garantida. A primeira negociação, segundo Delannoy, envolvia 450 quilos de cocaína e R$ 1,3 milhão. Problemas ocorreram na transação e a quantia acabou caindo para os 300 kg que, também segundo Delannoy, chegaram a Itu.

“Eu admito que fiz o crime (de tráfico de drogas), mas fui induzido a praticá-lo. Embalei pessoalmente dez pacotes de 30 kg de cocaína. Depois da apreensão da polícia, restaram cinco pacotes de 20 kg”, afirma o piloto americano.

VERSÃO OFICIAL

A operação policial em Itu foi enaltecida pelo então diretor do Denarc, Ivaney Cayres de Souza. “Esta é uma das maiores investigações já produzidas pelo Denarc”, declarou Souza em nota oficial distribuída pelo Denarc no dia da apreensão. O texto assinalava: “A droga ainda não foi pesada por peritos do IC (Instituto de Criminalística), mas estima-se que o peso seja de aproximadamente 200 kg”. No auto de apreensão da droga, no entanto, constaram apenas 98 kg.

Foi por causa dessa diferença que o Ministério Público Estadual (MPE) decidiu reabrir o caso. Na denúncia (acusação formal à Justiça), promotores afirmam: “Agindo como se estivessem legalmente infiltrados, (os policiais) adquiriram, num espaço de nove meses, paulatinamente a confiança dos criminosos, para convencê-los a trazer cocaína colombiana pura para aquisição”. Quando foi preso, em junho de 2008, Carrel ocupava a chefia da Divisão de Licenciamentos do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

Vagner Bertoli

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Revista da Defesa Social

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