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De quem é a culpa?

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS

GERAL

De quem é a culpa?

Por Leopoldo Ruzicki

 

GERAL

Em um batalhão da Polícia Militar, onde compareci para liberação de um veículo envolvido em acidente, fui muito bem atendido por um sargento de cabelos grisalhos que, segundo informou, se encontra aguardando a aposentadoria. Durante o atendimento, o assunto diversificou para segurança pública e ouvi dele uma pergunta estranha: “De quem é a culpa do aumento da criminalidade?”. Arrisquei com algumas respostas, que variaram desde as grandes diferenças sociais, má formação cultural, exemplos que vêm de cima, etc. E ela sempre dizendo um lacônico “não”.

Fiquei boquiaberto quando aquele PM, tão gentil, disse secamente: a culpa é do próprio povo; da população brasileira em geral. Depois, polidamente, explicou que logicamente a resposta não se estendia a todo povo, mas sim a uma parcela considerável dele. E diante da minha cara de surpresa, me explicou com uma nova indagação: “Quem é que compra o produto roubado?”.

Só tive que concordar com ele. Porque os ladrões roubariam se não tivessem para quem vender os artigos roubados? Lógico que os casos de furtos e roubos cairiam praticamente a zero se não existissem receptadores. E se é tão lógico assim, perguntei a mim mesmo se não estaria na hora de se preocuparem nossos legisladores em punir com mais rigorismo esse elo importante da criminalidade.

Possivelmente muita gente que estaciona seus carros importados em “robautos” do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, pararia de procurar autopeças que, paralelamente a produtos legais oferecem, pela metade do preço, peças de procedência pelo menos altamente duvidosa. Pessoas tentadas para adquirir televisores oferecidos em sua porta a custo irrisório não aceitariam negociar.

Pensei nas grandes cargas de cigarros e medicamentos, roubadas em assaltos a caminhões que transitam pelas estradas brasileiras. Quem as compra? É certo que não são vendidas a granel e sim em grandes volumes, o que significa que os compradores geralmente são comerciantes legais que passam a agir ilegalmente. Aproveitam os bons preços e adquirem o roubo, sem se interessar em saber se para isso tenha sido assassinado um caminhoneiro.

Mostrando ter a sabedoria que muitos legisladores e executores das leis deveriam possuir, o policial militar ainda teceu alguns comentários sobre o assunto, com opiniões de quem viveu toda uma vida no combate à criminalidade e verificou o problema da segurança pública em sua base.

O comprador do furto ou do roubo geralmente fica impune, escondido entre as quatro paredes da sua casa ou estabelecimento comercial. E quando sai da toca é para criticar a falta de segurança que existe no país. É mais fácil criticar a ineficácia dos métodos coercitivos, além de justificar a existência da criminalidade através dos problemas sociais, que cortar-se o mal pela raiz intensificando o combate aos receptadores.

Já vi várias campanhas movidas pelos grandes veículos de comunicação social e pelos próprios governos estadual e federal. Existem campanhas em prol do deficiente, contra a sonegação fiscal, contra a pirataria, em favor da criança e do morador de rua. Entretanto, nunca, ao longo dos meus 64 anos de idade, vi uma campanha sequer alertando a população para desconfiar de produtos oferecidos a baixos preços, para o risco de estarem adquirindo um produto roubado e para o que isso significa.

O brasileiro, em geral, não gosta de denunciar. É contra a “deduragem”. Mas vai chegando o momento em que, para fazer prevalecer a lei e exterminarem-se os fatos geradores de criminalidade, vamos ter que fiscalizar e denunciar nossos concidadãos que não se portam como bons brasileiros e que, ao contrário, contribuem para que nossos lares sejam invadidos pela bandidagem.

Por Leopoldo Ruzicki

Da Redação
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