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‘As dores do ministro’

por MARCELO FERNANDES DOS SANTOS
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GERAL
‘As dores do ministro’

Com problemas de saúde

 

GERAL

Pelo tradicional sistema de rodízio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caberá ao ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), ocupar a presidência do órgão a partir de abril e, assim, comandar o processo eleitoral em 2010. Mas, para quem vê a dificuldade com que Barbosa anda pelos longos corredores do Supremo, é quase impossível acreditar que ele terá condições de acumular tarefas nos dois tribunais. Na sexta-feira 23, durante a festa da posse do jovem colega José Antonio Dias Toffoli, Barbosa, acompanhado de sua irmã Efigênia, chegou ao salão às margens do Lago Paranoá andando devagar e pisando levemente no chão.

O ministro é vítima de sacroileíte, uma inflamação na base da coluna, entre os ossos sacro e ilíaco. Duas licenças na vice-presidência do TSE neste ano, cada uma de 90 dias, não foram suficientes para abrandar a dor. Até 15 de novembro, o ministro anuncia uma importante escolha de sua vida. Ele poderá abrir mão da presidência do TSE, permanecendo somente no STF. “Pode ser que eu abandone o TSE”, disse o ministro à ISTOÉ. “Acho pesado atuar nos dois tribunais. Meu problema é sério e uma jornada dupla só o faz piorar.”

Barbosa iniciou novo tratamento, em Fortaleza, na semana passada, em mais uma tentativa de atenuar as dores.

Quando senta, seu sofrimento aumenta, porque o peso do corpo fica concentrado na região inflamada. Por onde anda, Barbosa carrega uma pequena boia, sobre a qual se senta na cadeira. Ele também passou a usar sapatos com solado de borracha macia. Mas nada disso adiantou. O ministro admite que já não consegue suportar as dores, que começaram há quase três anos e ficam cada vez mais intensas. Confidenciou a vários colegas que, agora, também sente dores quando está de pé, o que não ocorreu, por exemplo, quando leu o longo relatório da denúncia do mensalão, há dois anos: “Eu já estaria curado se não fosse ministro do STF. O serviço é muito pesado. Para me curar, seria preciso muito repouso”, explica Barbosa. Com 55 anos e 85 quilos, Barbosa está se sentindo pesado, mas não pode fazer exercícios físicos. Se, de fato, deixar o TSE, o ministro Ricardo Lewandowski assumirá a presidência e cuidará da sucessão de 2010. O ministro Marco Aurélio Mello, que já foi presidente do TSE, retornaria ao plenário daquela corte. Os colegas de Barbosa, que se solidarizam com seu problema, acham que o ministro não tem mesmo condições físicas de responder pelo TSE. “Tocar uma eleição não é brincadeira”, atesta Mello.

Os colegas acreditam que Barbosa tem um perfil bom para dirigir o TSE, por ser rigoroso em suas decisões.

Mais liberal, o ministro Lewandowski assustaria bem menos os políticos em período eleitoral, segundo seus próprios colegas no STF ouvidos por ISTOÉ. Barbosa já deu várias demonstrações de rigor em julgamentos no TSE. Durante a cassação do governador Cássio Cunha Lima, da Paraíba, em novembro do ano passado, Barbosa chamou de “absurda” a postura do ministro Arnaldo Versiani, também do TSE, de defender a eleição indireta no Estado. Na sessão de julgamento que cassou o governador do Tocantins, Marcelo Miranda, em junho, Barbosa chamou de “estarrecedoras” as informações contidas no processo.

Em polo oposto, o ministro Lewandowski já causou problemas ao Supremo pela condescendência ao tratar de temas complexos. Em 2007, Lewandowski disse que “a imprensa acuou o Supremo” durante o julgamento dos 40 envolvidos no mensalão e admitiu que “todo mundo votou com a faca no pescoço”. Caso não houvesse pressão da opinião pública, disse Lewandowski, a tendência “era amaciar o Dirceu”, referência ao ex-ministro José Dirceu, réu no processo.

Mesmo que seu trabalho fique restrito ao STF, Barbosa terá um longo teste de resistência pela frente. Também pelo critério de rodízio, ele chegará à presidência do Supremo em 2013. Nesta quarta-feira 4, o ministro leva a julgamento o recebimento da denúncia contra a quadrilha que desviou dinheiro público para campanhas em Minas Gerais. Nos bastidores, ninguém duvida de que Barbosa será duro contra alguns envolvidos, incluindo o ex-ministro Walfrido Mares Guia e o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

Na opinião de especialistas, a rotina do ministro é pesada para quem sofre de sacroileíte. O neurocirurgião Ailton da Costa Moraes, de Porto Alegre, diz que a doença pode influir até no resultado do trabalho. “As dores crônicas alteram a personalidade, o paciente pode se tornar depressivo.” Este, no entanto, não é o caso do ministro Barbosa. Ele demonstra otimismo e entusiasmo com a possibilidade de cura. E ainda tem mais 15 anos de mandato a cumprir no Supremo.

ISTO É

Fábio Gaudêncio
DELEGADOS.tv
Portal Nacional dos Delegados

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